se na palavra penso
por ela me dou salvo
existência que baste
ponte pênsil da frase
às vezes me doo tenso
cedo calo e me canso
assim repetido o canto
assim calmo o remanso
sábado, 30 de abril de 2011
sexta-feira, 29 de abril de 2011
568 - canção de vento doido que não cansa de zunir
quanto tu me vinhas de umbuzeiro farto
e postavas mãos cansadas sobre o peito
declinava o sol nas veredas dos baixios
as aves sangravam penas nos assovios
os peixes sucumbiam em águas e estrelas
alguns animais cobriam-se em coito e ritos
cheirava na panela o azedume das carnes
assombrações vinham descansar na rede
e eu vagava em agouro atrás da alvorada
e postavas mãos cansadas sobre o peito
declinava o sol nas veredas dos baixios
as aves sangravam penas nos assovios
os peixes sucumbiam em águas e estrelas
alguns animais cobriam-se em coito e ritos
cheirava na panela o azedume das carnes
assombrações vinham descansar na rede
e eu vagava em agouro atrás da alvorada
quinta-feira, 28 de abril de 2011
567 - Canção para o improvável caminho das algas
Ela cultivava o olhar pleno de silencios
Esculpido na face de vertigem e sombra
Nenhum movimento impingia desconcerto
Nem mesmo o agudo tinir das espadas
Que ainda se digladiavam em seu peito
Esculpido na face de vertigem e sombra
Nenhum movimento impingia desconcerto
Nem mesmo o agudo tinir das espadas
Que ainda se digladiavam em seu peito
quarta-feira, 27 de abril de 2011
566 - metapoema para senhora de anéis corredios
A moça é de puro encanto em seu espreguiçar
Cai-lhe o sol sobre a calmaria em única oferenda
Eu aprendi a desejar-lhe na frase de um poema
Depois atônito quis eu dar-lhe forma de verso
Para seviciar a candura sonora daquele sorriso
Que de vez em quando me oferecia uma brisa
E com ela serenava a angústia dos crepúsculos
Cai-lhe o sol sobre a calmaria em única oferenda
Eu aprendi a desejar-lhe na frase de um poema
Depois atônito quis eu dar-lhe forma de verso
Para seviciar a candura sonora daquele sorriso
Que de vez em quando me oferecia uma brisa
E com ela serenava a angústia dos crepúsculos
terça-feira, 26 de abril de 2011
565 - ária para contralto e tenor sob esquiva luz
a borda do copo ainda é seiva
por onde bailaram lábios teus
liquido de mais puro assovio
quando a brisa se faz parceira
e delimita o meu olhar gasoso
por onde bailaram lábios teus
liquido de mais puro assovio
quando a brisa se faz parceira
e delimita o meu olhar gasoso
segunda-feira, 25 de abril de 2011
564 - para a noite que me fizeste entender a gênese de estrelas e cometas
eu tinha o passaporte vencido de tantas travessias
mas soubeste domar as intempéries do meu corpo
e com sutis artimanhas de ventre, lábios e mãos
construíste um novo arrebol para amanheceres
puseste em desalinho a paz e sossego das órbitas
até os olhos cansados vazarem em líquido fulgor
mas soubeste domar as intempéries do meu corpo
e com sutis artimanhas de ventre, lábios e mãos
construíste um novo arrebol para amanheceres
puseste em desalinho a paz e sossego das órbitas
até os olhos cansados vazarem em líquido fulgor
domingo, 24 de abril de 2011
563 - Canção de esplendor para um desvario de Ulisses
as chagas do amor reverberam lilases,
são outonais os ciclos de água e mar
quando tu sereia espargia a cauda
e sobre o veludo de pele e escamas
cresciam os seios na vazante da maré
eu te procurava vestígios de vulva
para fazer-te plena de ambiguidades
são outonais os ciclos de água e mar
quando tu sereia espargia a cauda
e sobre o veludo de pele e escamas
cresciam os seios na vazante da maré
eu te procurava vestígios de vulva
para fazer-te plena de ambiguidades
sábado, 23 de abril de 2011
562 - Metapoema para cigarra, formiga e o pão de cada dia
Um dia virão cobrar o que não fiz
E eu direi:
Escrevi poemas a mancheia
Carpi incessantemente a palavra
Cultivei com afinco o solo do verbo
Mas hão de retrucar sobre processo
Tão precioso
E cobrar frutos mais concretos
Coisas sólidas como metal, madeira
E eu, irmão de pássaros e nuvens,
Tão inábil com os predicados
que se apregam aos dentes do dia,
terei só lábios para o infinito
terei só um horizonte de iridescencia
E eu direi:
Escrevi poemas a mancheia
Carpi incessantemente a palavra
Cultivei com afinco o solo do verbo
Mas hão de retrucar sobre processo
Tão precioso
E cobrar frutos mais concretos
Coisas sólidas como metal, madeira
E eu, irmão de pássaros e nuvens,
Tão inábil com os predicados
que se apregam aos dentes do dia,
terei só lábios para o infinito
terei só um horizonte de iridescencia
sexta-feira, 22 de abril de 2011
561 - sobre a retórica, o eufemismo e a persuasão
eu tenho tantas leituras inacabadas
tantos projetos por concluir
sou uma redoma de fragmentos
sob meus pés jaz uma terra devastada
o outono é sinfonia sem pranto
o hábito não escolhe o cachimbo
as pontes ruíram em meio às tempestades
um coração sem trono desmorona
na paisagem agreste do meu peito
o que se acumula é o vazio incessante
que corrói a palavra
os verbos já não significam
a derradeira porta conduz a vertigem
e sobressalto
as sementes germinam mansidão
e as auroras são presságio de intempéries
nada há e nada avulta
a não ser este silencio
que se entranha nas retinas e
faz morada na cavidade das horas
tantos projetos por concluir
sou uma redoma de fragmentos
sob meus pés jaz uma terra devastada
o outono é sinfonia sem pranto
o hábito não escolhe o cachimbo
as pontes ruíram em meio às tempestades
um coração sem trono desmorona
na paisagem agreste do meu peito
o que se acumula é o vazio incessante
que corrói a palavra
os verbos já não significam
a derradeira porta conduz a vertigem
e sobressalto
as sementes germinam mansidão
e as auroras são presságio de intempéries
nada há e nada avulta
a não ser este silencio
que se entranha nas retinas e
faz morada na cavidade das horas
quinta-feira, 21 de abril de 2011
560 - palavras tem mais janelas que um trem
do que resta a voz carrega o poema energia
escreve torto à mão um intento gera agonia
desfraldo a bandeira na avenida ao dia-a-dia
improviso canto cego de repente e não sacia
vênia para teus olhos, teu quadril, o teu nariz
faria uma diferença se aos teus pés eu caísse
e sobre o céu roçassem pétalas ao por do sol
sinergia, serrania, liturgia, sinfonia, profecia
escreve torto à mão um intento gera agonia
desfraldo a bandeira na avenida ao dia-a-dia
improviso canto cego de repente e não sacia
vênia para teus olhos, teu quadril, o teu nariz
faria uma diferença se aos teus pés eu caísse
e sobre o céu roçassem pétalas ao por do sol
sinergia, serrania, liturgia, sinfonia, profecia
quarta-feira, 20 de abril de 2011
559 - metapoema para a canção do beco de bandeira
tem uns versos que fazem cócegas nos olhos
a gente não consegue se despregar das palavras
e elas ficam em burburinho nas nossas mãos
esperneando para sempre um nunca mais
a gente não consegue se despregar das palavras
e elas ficam em burburinho nas nossas mãos
esperneando para sempre um nunca mais
terça-feira, 19 de abril de 2011
558 - canção outonal para senhora de formoso arabesco
oh pastora que incendeia sonhos
de quantos rumos tece o rubro
que vestes e delineia tuas órbitas
oh pastora que incendeia sonhos
já fiz carpir os olhos de sol a sol
não há rio que não me habite saliva
oh pastora que incendeia sonhos
as fogueiras ardem em desalinho
e o cais é só poente e melancolia
de quantos rumos tece o rubro
que vestes e delineia tuas órbitas
oh pastora que incendeia sonhos
já fiz carpir os olhos de sol a sol
não há rio que não me habite saliva
oh pastora que incendeia sonhos
as fogueiras ardem em desalinho
e o cais é só poente e melancolia
segunda-feira, 18 de abril de 2011
domingo, 17 de abril de 2011
556 - Somos sumo da mesma fruta que escorre deleitoso
Caíam-me entre olhos as tuas árias
Fuga sobre os rouxinóis do arrabalde
Artista de ninho nos pombos da praça
Tela espessa para o beijo de aranha
Decote de Vênus enfeitando um oásis
Inquietude de mão devastando sílabas
Fuga sobre os rouxinóis do arrabalde
Artista de ninho nos pombos da praça
Tela espessa para o beijo de aranha
Decote de Vênus enfeitando um oásis
Inquietude de mão devastando sílabas
sábado, 16 de abril de 2011
555 - partita encomendada para minhas putas da esquina
quando eu era moço de calças curtas
as meninas encompridavam conversas
mas temiam a língua solta e alvoroçada
agora mais velhinho elas temem a lábia
cansada nos olhos e os gestos solitários
minhas putas da esquina adoram me ver
através do copo aberto e do lábio afiado
elas comem as palavras que eu planto e
se lambuzam do néctar de sonho e valsa
as meninas encompridavam conversas
mas temiam a língua solta e alvoroçada
agora mais velhinho elas temem a lábia
cansada nos olhos e os gestos solitários
minhas putas da esquina adoram me ver
através do copo aberto e do lábio afiado
elas comem as palavras que eu planto e
se lambuzam do néctar de sonho e valsa
sexta-feira, 15 de abril de 2011
554 - metapoema para os pavões de Flannery O'Connor
acho que foi durante o café conversávamos você disse que há coisas que são incompreensíveis a não ser quando vivenciamos a situação, citou um poema de Brecht, um pequeno conto de Kafka, um trecho de Baudelaire em francês arrastado, eu percebia que enquanto falava as suas mãos buscavam a fumaça do cigarro, aquelas espirais que tão bem sabia fazer, eu tergiversava entre o sim e o hum, hum porque a cena era tão perfeita, parecia saída de um filme noir, o ar tão rarefeito que até hoje me sinto prisioneiro daquela cadeira, bebendo a vertigem de tuas palavras.
quinta-feira, 14 de abril de 2011
553 - Faltam arder os olhos no inventário das horas
Pois se espraia a ventania neste porto solitário
E há sombras por demais querendo embarque
Até os extravios se tornam oferenda de bússola
E há sombras por demais querendo embarque
Até os extravios se tornam oferenda de bússola
quarta-feira, 13 de abril de 2011
552 - para as nuvens de Lelena e a goiabada de Nina
tens para mim o sentimento dos desamparados
a inquieta embriaguez de lua e madrugada
o passadiço de cordas nesse teu peito
as brumas que afligem o alvorecer
tens para mim o pranto dos desavisados
o prato do dia que cheira a fastio
o incomodo pigarro a castigar o silencio
a intempérie do mar infestado de vazios
tens para mim o colo dos sem rumo
a canção e o sumarento copo de café
a inolvidável letra para bordar a pele
o vestígio de luz que emana da estrela
a inquieta embriaguez de lua e madrugada
o passadiço de cordas nesse teu peito
as brumas que afligem o alvorecer
tens para mim o pranto dos desavisados
o prato do dia que cheira a fastio
o incomodo pigarro a castigar o silencio
a intempérie do mar infestado de vazios
tens para mim o colo dos sem rumo
a canção e o sumarento copo de café
a inolvidável letra para bordar a pele
o vestígio de luz que emana da estrela
terça-feira, 12 de abril de 2011
551 - Poema para crescerem raízes em teu ventre
a terra me incita a uns passeios
mergulhar a mão na relva molhada
ouvir os pássaros no bulício do galho
como estivessem em véspera de canto
dos meus olhos crescem raízes fundas
todas as vezes que a terra me incita
estou atado ao barro, ao visgo de jaca
as manhãs são redemoinhos e sustos
mergulhar a mão na relva molhada
ouvir os pássaros no bulício do galho
como estivessem em véspera de canto
dos meus olhos crescem raízes fundas
todas as vezes que a terra me incita
estou atado ao barro, ao visgo de jaca
as manhãs são redemoinhos e sustos
segunda-feira, 11 de abril de 2011
550 - quando a noite me empresta os dentes
folheio o cartapácio de poemas
aqueles todos que lhe dediquei
tu recebias com festa nos olhos
a língua pronta para vocábulos
nada mais avulta deste sol escuro
que me brilha nas barbas e rugas
desde o muito que está inscrito e
naufraga essa estátua incompleta
folheio o cartapácio de poemas
são agora meros objetos silentes
faltam-lhes o calor de tuas mãos
o armistício de nossa inconstância
aqueles todos que lhe dediquei
tu recebias com festa nos olhos
a língua pronta para vocábulos
nada mais avulta deste sol escuro
que me brilha nas barbas e rugas
desde o muito que está inscrito e
naufraga essa estátua incompleta
folheio o cartapácio de poemas
são agora meros objetos silentes
faltam-lhes o calor de tuas mãos
o armistício de nossa inconstância
domingo, 10 de abril de 2011
549 - outro metapoema para vingar um verso de Rimbaud
agora são estes passos sonâmbulos que me perseguem, há esteiras espalhadas na areia, algumas mulheres se divertem na sacada do prédio, acho que fumam alguma coisa, os carros transitam entre os faróis, muitos definham na praça logo em frente enrolados em lençóis, devo crer que há mais vida que a minha, esta que se encerra neste corpo a vagar, esta que se ilude nos alísios, esta que a escória de olhares atravessa, não em faca, lamina, punhal, mas algo mais corrosivo como um abraço, agora são estes passos sonâmbulos que me perseguem, sei que não estás em nenhuma mensagem, nem ao menos atirei garrafas ao mar, sei que me afago em lembranças, agarro as intempéries e ouço stravinski em um piano distante, depois do meio-dia me abate o princípio de uma saudade, recompensa daqueles dias em que o corpo era o alívio da alma e os deuses eram os sábios sapos que coaxavam na lagoa, que venham os entardeceres quando definharei com o cigarro, a vodka e a água salgada que não cansa de vazar sob as retinas.
sábado, 9 de abril de 2011
548 - Metapoema para conhaque e lua cheia
A palavra tem destino de crisálida
Coisa latente em véspera de ebulição
Assim me dizias enquanto havia vento
E teu voo era a extensão do meu peito
Mãos belicosas me ocorriam no olhar
Coisa latente em véspera de ebulição
Assim me dizias enquanto havia vento
E teu voo era a extensão do meu peito
Mãos belicosas me ocorriam no olhar
sexta-feira, 8 de abril de 2011
547 - Partita em tom menor para cais e ventania
As tuas águas me invadem de esquecimento
És-me a vertigem do sempre,
O inútil sobraçar
De ti me acusam as dores,
Os temores raiam por sobre as horas
Não há invenção possível
As tuas águas me invadem de esquecimento
E eu recito alegorias para o mar
Vingo-me em doces preces
És-me a vertigem do sempre,
O inútil sobraçar
De ti me acusam as dores,
Os temores raiam por sobre as horas
Não há invenção possível
As tuas águas me invadem de esquecimento
E eu recito alegorias para o mar
Vingo-me em doces preces
quinta-feira, 7 de abril de 2011
546 - quando a esfinge me propôs o teorema
Decomponho-me de vazios
Feito nuvem, raiz suspensa
Onde nenhum sumo se extrai
Como canto silencioso de girassol
Em rota de colisão com o entardecer
quarta-feira, 6 de abril de 2011
545 - quando sopra o terral em minhas têmporas
de fonte extensa vem a minha sede
perdura sobre as noites de mar
debruça-se aos ventos aziagos
eu colho as intempéries em jejum
e não me atrevo a dispor recordações
corrói-me as laminas como um vício
aquele que abrasei em tuas ilhas
sem nenhum propósito de serventia
perdura sobre as noites de mar
debruça-se aos ventos aziagos
eu colho as intempéries em jejum
e não me atrevo a dispor recordações
corrói-me as laminas como um vício
aquele que abrasei em tuas ilhas
sem nenhum propósito de serventia
terça-feira, 5 de abril de 2011
544 - sobre o ofício do mar e outras tempestades
“o amor é uma flor atrasada
a abrir no que resta ao dia”
Hart Crane
assim vogam teus olhos de poeta:
as mãos imprimem a caligrafia das nuvens,
o corpo é só um pretexto para epifanias
segunda-feira, 4 de abril de 2011
543 - sobre o ofício do desassossego das pedras
Calhau ou seixo deixo-me ao encontro de rios
Sou todo leito espargindo mansidão mineral
domingo, 3 de abril de 2011
542 - sobre o ofício de perder-se em miragens
Ontem eu a vi
submersa em seus anseios
Recolhendo o significado
de tanto silencio
Não deixei de perceber
as pálpebras que rosnavam
a amplitude dos horizontes e
cobria de infinito teus espasmos
submersa em seus anseios
Recolhendo o significado
de tanto silencio
Não deixei de perceber
as pálpebras que rosnavam
a amplitude dos horizontes e
cobria de infinito teus espasmos
sábado, 2 de abril de 2011
541 - sobre o ofício do amor e outras aliterações
eu chegava trôpego em teus lilases
e debruçava-me de cio em tuas vestes
tu eras o extenso leito de vertigem
o curso infindo de procura da palavra
depois que o ócio do verso me derretia
como febre intensa em tuas mãos
e debruçava-me de cio em tuas vestes
tu eras o extenso leito de vertigem
o curso infindo de procura da palavra
depois que o ócio do verso me derretia
como febre intensa em tuas mãos
sexta-feira, 1 de abril de 2011
540 - sobre o ofício de conter o branco na página
Há um infinito por trás de cada palavra
Há um cortejo de sombras em cada frase
Há um silencio pejado de imensidão
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