segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

1001 + 42 - Quando o poema é apenas circunstância



o nume, o lume
há que se acender
como aquele farol

para anunciar o nome
com sílabas em sorriso

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

1001 + 41 - à guisa de um exercício para abandono


para Nydia Bonetti

com quantos corpos se faz a solidão
com quantos mares se traga o amor
com quantas esperas se bebe a dor

para quantas margens convergem
o alvoroço de pétalas, o voo silente
repentino de sílaba que não alvorece

as coisas que se escondem enfermas
como a ária antiga esquecida na voz

com quantos anseios se rasga o peito
se o abandono é olor que beija a pele

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

1001 + 40 - Ensaio instável sobre os princípios gasosos da matéria


Quem disse que tu és quimera
Se estás inteira aqui na pele
Enquanto prossigo e respiro
E até os meus olhos singram
Por este oceano que tu miras
(As unhas crescem e os cabelos
Se atormentam de vento)
E mesmo os navios reorientam
Bússolas, reordenam mapas
(Quando fores estuário
Quando fores marés
Quando fores vazante)
E feito Ulisses avisto a Ítaca
E as tranças de Penélope
E preparo o corpo para mãos
Nesta imensa solidão e ruína 

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

1001 + 39 - estudo singular sobre plumas, minérios e afins


daquele sonho de asas
ficou a ideia de voo
sobre rasos precipícios

daquele sonho de águas
ficou a ideia de liquido
sobre rasos que inundam

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

1001 + 38 - A canção de amor para fogo e imensidão


Então sigamos tu e eu, como naquele poema do Elliot,
Tu me emprestas os olhos para eu beijar as avenidas
Eu te ofereço este réquiem de silêncios
Mas nada sei além do cansaço de pernas e mãos
E há muito sereias não cantam no ermo da noite
E já não me lembro da insidiosa pergunta: qual?
E quem de nós ousaria perturbar o universo
Não é nada disso, em absoluto, nada disso
Apenas soluço e afivelo lâminas que não cortam
E assim vamos nos afogando neste vento gelado
Almejando a palavra impossível que se estende
no crepúsculo como este rio solene e insondável