terça-feira, 18 de dezembro de 2012

1001 + 34 - Balada para a garota num vestido vermelho descendo do carro branco


Ele me perguntava pelo tempo:
Será que hoje chove?
Olhava o céu, contemplava
Vinha um vento, outro vento
Os cabelos se assanhavam
Eu perscrutava o horizonte
Ele me perguntava pelo tempo:
Acho que não chove hoje!
Ele olhava e acenava um não
Acho que hoje chove!
Era um tempo até vir chuva
O tempo de espargir o pulso
Cheirar o casaco puído
Enrolar o cigarro, fluir a fumaça
Leia alguma coisa: me pedia
Eu remexia os bolsos, aceitava
As palavras do guardanapo
A grafia do medo, do arrepio

“uma vez que você foi para o inferno
e voltou
é o bastante, é a
mais silenciosa celebração
conhecida”

Ele me perguntava pelo tempo:
Será que hoje chove?
Eu olhava o céu e esperava
Vinha um vento, outro vento
A puta da esquina se escondia
Parece que vinham lhe cobrar
O pedágio da sobrevivência
Uma vez eu fui ao inferno
E lá deixei meus farrapos
Nunca mais volto, nunca mais
Mesmo que não haja nada
Além de uns ratos assustados
Eu fui ao inferno; disse a ele.

Ele me perguntava pelo tempo:
Acho que hoje chove, sim!
A grafia do medo, os dedos rangem
Recolher os sinais, dobrar-se
Nem mesmo morrendo serei feliz:
Ele me disse, enquanto a chuva caía.

6 comentários:

Wanderley Elian Lima disse...

Esse foi especial. Será que chove hoje?
Abraço

Unknown disse...

chover: e o verbo torna-se pessoal e conjugado em todas as pessoas gram... - digo, em todas as estações.

abraço, poeta!

Anônimo disse...

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Constanza Muirin disse...

Lembra o À Espera de Godot. Abraço!

Reflexos Espelhando Espalhando Amig disse...

Muito rico seu blog.
Encantada.
Bjins
Catiaho Reflexo d'Alma

LauraAlberto disse...

que chuva é essa que por aí cai?

tu és mestre Assis, porra...

beijo