mil e um poemas
Neste blog (serão) foram escritos 1001 poemas e mais alguns.
sábado, 30 de junho de 2012
996 - suíte para pálpebras, noites, livros e abraços*
(um metaplagio de Eduardo Galeano)
como uma lança, uma chama, um silêncio
tenho uma mulher atravessada na garganta
se pudesse eu diria que a amo
mas temo desconhecer sua língua
*
para o Dario Banas, que me fez ver o poema
sexta-feira, 29 de junho de 2012
995 - Sonata para os rútilos vestígios do amor
É adiado o fulgor da pétala
A luminosidade do farol
O cimo do sol
Aqui só há o teu cintilar
Esta imensidão de luz
O sumo da seiva
Em única emissão de voz
Sílaba incondicional
Meu rio, tua foz
quinta-feira, 28 de junho de 2012
994 - balada triste para ruas quando chove
ela me flertava coraçãozinho
eu tão ensimesmado de amor
um dia nos debruçamos sobre o mar
eu tinha beethoven nos ouvidos
ela tão escarlate em seus lábios
rugia o vento dos olhos
não havia sílabas
apenas o raso da pele
o rasgo do peito em tumulto
eu não tinha vontade de lhe
entregar a minha solidão
quarta-feira, 27 de junho de 2012
993 - outra fantasia de ventura para moça do sonho
eu cismava outono
tu vinhas em orquídea
a soprar tuas brisas
no espanto de espáduas
não havia mais léguas
passo em desassossego
éramos calor e silêncio
sob a miragem do tempo
eu cismava outono
tu vinhas em teus lilases
a pele sedenta de rios
súbitos nós de um laço
terça-feira, 26 de junho de 2012
992 - fantasia de ventura para moça do sonho
comigo tu repartiste
os teus lilases,
teu corpo de nuvem,
teus oásis de mulher
comigo tu repartiste
a alucinação do silêncio
engendraste as tramas
de sorrisos e abraços
comigo tu repartiste
a confluência líquida
de gozos e anseios
e sobre teus lábios
depositei girassóis
entorpecidos de saliva
e sobre tua pele nua
inscrevi as rotas, a
desordenada geografia
do inesperado alvoroço
*Sobre o ofício da escritura poética
Fred expõe aqui
segunda-feira, 25 de junho de 2012
991 - sonata para o ouvido esquerdo de beethoven
sonhei que van gogh tocava piano
embebido na miragem do girassol
eu lustrava suas botas encardidas
e apreciava a sonata de beethoven
que elevava os dedos de van gogh
havia vestígios de silêncio no orbe
beethoven surdo espargia alegria
admirando van gogh sem a orelha
domingo, 24 de junho de 2012
990 - ensaio sobre a pedagogia de múltiplos e derivados
sobre o poema crescem as relvas
crescem ramos, crescem unhas
cresce a insanidade do verbo:
o alvoroço, o delírio, a ubiquidade
sobre o poema crescem as nuvens
e cresce assim o azul apascentado
a argamassa do vento e das brisas
sobre o poema adormece o silêncio:
inquietas horas aguardam e soluçam
sábado, 23 de junho de 2012
989 - Suíte de inclinação ao branco da nuvem
O jasmim, o vestido, a escova de dente
o espelho, a água, o teto cor de fogo
o lençol, o pertencimento, a fugacidade
os lábios, as espáduas, o colo ingênuo
o branco na pele, a aura, o tecido da fala
a carne, o cardo, o tato, o cheiro inato
o beijo, o laço, nós: o vicejar do instante
*No Verso Aberto do Pizano
Mil e muitos poemas
sexta-feira, 22 de junho de 2012
988 - Suíte de alvoroço para cordas e naipe de metais
Trago no semblante o desconforto da distancia
A carne ulcerada neste olhar de desterro
As minhas idades se confundem na areia
Os meus passos são nuvens assustadas
Em suspensão de rasos líquidos
Num périplo de agonia pelo céu
Os girassóis esvoaçam no horizonte
Numa multidão fugaz de amarelo
Todo canto ecoa em única seta
A palavra se destoa feito relâmpago
Quer iluminar este estranho mapa
Este assombro no meu peito plúmbeo
quinta-feira, 21 de junho de 2012
987 - suíte vetusta para precipitação de águas
vou vestido de chuva
pelas ruas
andarilho dos líquidos
que sou
nada me transborda,
mas vazo
neste precipício
de chagas
que me escorre
de arquétipos
nem tão opostos
quarta-feira, 20 de junho de 2012
986 - Antipoema para sertão, despropósito e veredas
(à guisa de um metaplagio para Romério Rômulo)
Manuelzão me cumpriu no rito do olhar
Era tudo passagem de veredas
As léguas não cabiam no horizonte
Vergava um gesto de despropósito
Ali o alumbramento não se furtava
Era todo barro que burilava o canto
Como espinho atravessado na goela
terça-feira, 19 de junho de 2012
985 - poema de ilhas, igarapés e paradigmas
meus pés interrogam uma saudade
teimam em descortinar novas ilhas
excelsos neste provisório paradoxo
segunda-feira, 18 de junho de 2012
984 - uma ponte qualquer para o aroma da nuvem
(segunda versão)
esta pele de quimeras que me inventas
no ubíquo leque de oferendas
a dispor argúcia, ranhuras, unhas
faz vazar dormência em lento tormento
nesta pele de quimeras que me intentas
domingo, 17 de junho de 2012
983 - uma ponte qualquer para o aroma da nuvem
tens uma eternidade nos lábios
o gozo suave de saliva e sílaba
reinventando órbitas e línguas
o florir do canto em asas soltas
ária de vermelha clarividência
a entrega para tontas invenções
sábado, 16 de junho de 2012
982 - poeminha para algas avessas e apressadas
trago a demência na palavra
este corpo sem recônditos
nenhuma verdade: nada
tenho na pele um funeral
os silêncios me desbotam
sexta-feira, 15 de junho de 2012
981 - outra berceuse para o recôndito das ilhas
enquanto tu amanheces,
há um sol que paira
sobre minhas têmporas
e anuncia o arrebol
da tua chegada.
sou todo esperas
para as tuas vindas,
sou todo espelho
para teus sóis,
ancora desapegada
deste porto sem naus
quinta-feira, 14 de junho de 2012
980 - berceuse para o recôndito das ilhas
amanheceu-me uma chuva fina
e eu carrego o incêndio na alma
as minhas mãos tateiam o infinito
os olhos declinam o pote no arco-íris
há o tumulto dentro do meu silêncio
sílabas que se afogam de amanhãs
breve os girassóis hão de se curvar
como reverência para um alvoroço:
sem norte, faróis ou bússolas
nesta geografia de desassossego
quarta-feira, 13 de junho de 2012
979 - outra canção de amor para radiola de ficha
onde está escrito amor
leiam outra coisa
é só o que me
(s)ocorre agora
quando a luz se apagou
terça-feira, 12 de junho de 2012
978 - canção feérica de desordem dos hemisférios
ela vai saber que eu cheguei
quando vir o vento na retina
e constatar no lábio a fidalguia
será assim, não de outra maneira
eu estarei investido de presságio
como nuvem no céu desavisada
ela há de se imbuir das estações
e vicejar seu outono e seu inverno
para cumprir as intenções do verbo
segunda-feira, 11 de junho de 2012
977 - quando eram mais bárbaros os doces bardos
ficou via, alegria, um dia
o ser, o não, talvez, quiçá
a cor do trem, o manacá
ficou jia, qualquer coisa
jóia, rebento, procissão
sede e lamento sertanejo
ficou índio, morena, ateu
extra, divino, maravilhoso
rede, recôndito, reconvexo
ficou, comeu, aqui e agora
grão, drão, gente, cajuína
estrangeiro, força estranha
domingo, 10 de junho de 2012
976 - Suíte para luzir reentrâncias e recantos
Havia os líquidos todos:
Alimentos fugazes do querer.
Teus desvãos, os desalinhos:
Alva, alba, níveo, lácteo.
A dissolução de nuas peles:
Tez, fluidez, placidez.
Havia os poros em suspiros:
Interstício para precipícios.
sábado, 9 de junho de 2012
975 - suíte para todos os silêncios: o silêncio
(à guisa de um metaplagio de Cortázar)
meu peito não é só silêncio
meu verso não é só silêncio
meu amar não é só silêncio
embora haja só este silêncio
como uma chaga aberta
estranha flor na cabeceira
embora haja apenas silêncio
como neste mar desavisado
e os seus ventos atemporais
meu peito não é só silêncio:
vaza um liquido que ruge
e cega atravessando os olhos
sexta-feira, 8 de junho de 2012
974 - suíte para um jogo de dados
mar
la
mer
quinta-feira, 7 de junho de 2012
973 - canção para corpos em amplidão de extravio
abraço, jardim, claraboia
língua, saliva, água de cheiro
lábio, lóbulo, espádua
jasmim, florada, abóbada
céu, estrado, cópula
quarta-feira, 6 de junho de 2012
972 - canto de remoer o vento nos dentes
és-me o impossível
a roer no peito
impor flagelos
és-me o tudo
neste vazio
oco do mundo
és-me: nada sou
mágoa análoga
inexistência vil
terça-feira, 5 de junho de 2012
971 - poeminha para o céu em alvoroço
vivo de uma inutilidade
sem fim com as palavras
eu as anseio,
elas me aguardam:
quando brotam
rugem condenadas
segunda-feira, 4 de junho de 2012
970 - canto de alarido para matinada
vais surgir em outono
com a festa de rasgos
o pulsar do relâmpago
a esculturar no orbe
o desígnio dos astros
em fogo de anunciação
domingo, 3 de junho de 2012
969 - cálida balada de artefatos inesquecíveis
dorme selvagem comigo
a espada da querência
às vezes sonha cadencia
ora serpenteia galante
faz de muitos o outrora
tece a vigília do instante
dorme selvagem comigo
sem nenhum embaraço
a afiada garra do porvir
sábado, 2 de junho de 2012
968 - canção de entardecer barcos no horizonte
o que será da minha palavra
quando não mais houver
o sentido de fazer acontecer
e tudo se resumir ao deserto
onde os oásis não florescem:
o orbe desabitado de estrelas
o que será da minha palavra
quando não mais houver
a confluência dos teus passos
e estrada, vereda e caminho
forem ilações a lugar nenhum
síntese de feérico desencontro
sexta-feira, 1 de junho de 2012
967 - Árido haikai
Às vezes arrisco
E nada crio
Silencio: estio
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