segunda-feira, 31 de outubro de 2011

753 - poema para germinar amuletos esotéricos

é preciso reconhecer
a hora do silencio:
como agora

* hoje só Drummond

domingo, 30 de outubro de 2011

752 - poema de escarpas sobre silente beira-mar

há em tua terra esta áspera cobiça
que a pele enseja pasto de alvíssara
o atormentado e tenro bem-me-quer
que sobressai pela saliente saliva

dos teus líquidos quando se avista
esses mistérios que denotam sina
outros muros que a voz não declina
hão de crescer visgos nesta colina

se a mão enseja mas não se efetiva
queixume de se mover em linha fina
roncam tímpanos em surdo alvoroço
cai o pano arisca onde se fixa a tinta

sábado, 29 de outubro de 2011

751 - missiva repentina para serenar alvoroços

respiro pelo canto da boca
lentamente como num assovio
quando o ar penetra em demasia
meus pulmões se desassossegam
talvez seja assim o estertor
no mais o tempo castiga a pele
e impõe a serenidade das rugas

há aqui um jardim abandonado
que eu caminho sem pretensão
um dia a terra novamente sorrirá
e as sementes provocarão a vida
te beijo na distancia da ventania
e espero que as palavras tenras
façam eco na tua geografia

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

750 - canto de insolência para autorretrato e afins

como numa foto de antiga fortuna
tu me chegas plena de anseios
ainda tens o crispar das mãos
o retardo em acender a alvorada
a chave de grave desassossego
como numa foto de antiga fortuna
tu és o silêncio sépia do alvoroço

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

749 - Sobre o ímpeto do salto na alma das palavras

Tu eras meu vício no alvéolo das madrugadas
Ali quando me perdia entre labirintos
E havia um gosto para me fixar

Saltitavas nos bemóis de uma lua rasa
Como a brisa da carícia sempiterna
Neste chão embebido de ambrosias

Tu eras meu vício
A vívida imperfeição dos dias
O acento grave de uma ingênua perversão

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

748 - canto de insolência para afago bandeiriano

tem um silêncio que sossega minha alma
se expande na fronte e nos supercílios
quando as brisas fazem coito no olhar
e vamos vivendo de brisa, frisa o poeta
com gesto pausado no horizonte infinito
sem vergonha de que as palavras soltas
possam pousar solertes no verso arredio

terça-feira, 25 de outubro de 2011

747 - canto de insolência para foice e madrepérolas

estou fazendo exercícios para te esquecer
essas coisas de correr e deixar o corpo suar
quem sabe o amor se dissipe pelos poros
quem sabe nas flexões os músculos se libertem
e tudo volte a antiga rotina
quando havia segredos em outras peles
e eu buscava na saliva a sagração do tempo
quando ornava os lábios de fumaça
e fazia sacrifício a todos os deuses líquidos
hoje urge uma insanidade de ausências
nem a ubiquidade dos girassóis me conforta

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

746 - canto de insolência para bico de pássaro

oh! flor de tão vário cantar
quem dera o visgo no verso
para te cortejar voo pássaro

colher a brisa dos teus dons
essa ventania que ascende
e faz apetecer-me o achado

domingo, 23 de outubro de 2011

745 - canto intemporal em naufrágio



sorve-me líquido
os teus anéis
esta nau afagar

sábado, 22 de outubro de 2011

744 - poema de dor e espanto diante da alteridade da lua

como um cão enfeitiçado uivo aos teus pés
és-me lua e lençóis
cobre-se a tua face de singular arredio
onde fincas a foice do assovio
dou-me costas para lanhar
dou-me braços para o vento
mas nenhuma ponte incita esta fuga

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

743 - outro poema de louvor para senhora das brisas

andam me caindo nos cabelos
as guirlandas dessa ventania
que rogam pressa ao silencio

andam me caindo nos cabelos
o ócio de tanto mar e maresia
o embaraço da vela enfunada

andam me caindo nos cabelos
o ardor das tuas beligerâncias
o sargaço deste desassossego

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

742 - poema de solércia para arauto de proclamação

há um poema que não esqueço
e que se repete em todos os versos
regurgita na órbita das palavras
é parágrafo, intersecção, seguimento
há um poema que não esqueço
que se impregna nas retinas
como aquela nuvem distraída
no silêncio das antemanhãs

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

741 - Canção desavisada para alguns graus do homem

Trago a desmesura dos justos
A incivilidade dos calmos
Estou banhado em impolidez

Ouço das estrelas os desatinos
Perco-me em jiraus em girassóis
Sons de guizo são meus passos

A vós todos ofereço esta parvoíce
O instante do delgado e o ubíquo
O capitular em fado da existência

terça-feira, 18 de outubro de 2011

740 - canção em voo de vespa e assovio

teu calor é alheio ao meu querer
mas conspiram em ti colmeias
um eu todo retorcido em néctar
que empunho fábula e princesa
dou-me vida inteiro neste ferrão

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

739 - haikai’s profanos

flores mundanas
no avental
chuva no quintal

*
amadureceu
não caiu
sazão ou razão

*
dor de cotovelo
anatomia
de uma paixão

domingo, 16 de outubro de 2011

738 - como uma lâmina vária assentada em cascata II

há uma cisma de calor na penedia do rio
transitam anfíbios em suas armadilhas
como o abraço na vereda escorregadia

há o sismo de temor na maresia do olhar
transita afago em véspera de acontecer
como o ímpeto do pássaro em elevação

há uma cisma de calor na penedia do rio
há o sismo de temor na maresia do olhar
como o laço na tua vereda escorregadia
como o ímpeto do pássaro em sagração

sábado, 15 de outubro de 2011

737 - como uma lâmina vária assentada em cascata

um vento faz astúcia em minha face
recorta-me de reminiscência
imola-me lábios na palavra anunciada
um vento faz vertigem, miríade, miragem
um desconcerto que não ouso nominar
mas que ruge em meus supercílios

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

736 - melopeia para profanos ritos de véspera

os cavalos relincham na alvorada
são deles um pasto de alvíssaras
eu me movo atônito entre pedras
são minhas as paisagens sólidas

de resto o concreto soa metafísico
com a caricatura dos navegantes
as toscas pegadas do hermeneuta
o rápido cintilar dos olhos castos

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

735 - poema para outras doses de amores cáusticos


quando tu bailas baby
a terra arrepia meus tendões
sobe uma ventania de saudação
os pássaros se extasiam em voo
os répteis se disfarçam de silencio
o que era precipício vira prelúdio
o mundo incita teus passos
para um exercício de assombro

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

734 - poema para duas ou três doses de amores cáusticos

quem emprestou os dentes
para vazar a madrugada
se me escorre a vertigem
de inóspitas sombras
e teu retrato é o assovio
de uma inútil canção


A Luiza me fez alumbramento aqui

terça-feira, 11 de outubro de 2011

733 - poema tuareg em três versões

I
na solidão da paisagem
contemplam a areia
meus olhos desertos

II
no deserto da paisagem
a areia é o espelho
nos olhos cansados

III
no espelho da paisagem
olhos e areia
se misturam em caos

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

732 - canção para o chá da tarde da senhora dos jasmins

eu tinha os olhos atônitos para o arrebol
quando tu chegaste em lenta fotografia
foi preciso que as vagas me levassem
e dos pés o suspiro da terra fosse findo
para que as mãos acalentassem nuvens
foste assim o folguedo que se avizinha
o instante em que as brasas se acendem
a urgência que não elege arrependimento

domingo, 9 de outubro de 2011

731 - poema para quase esquecimento que não cessa

quando se nos toca a pele em olvido
do mar se ouve em vaga canto infindo
a muralha de vento o sol vai carpindo

recostam-se mãos em fino murmúrio
crivando o elo de estranhas nuvens
dos olhos vingam águas em marulho

sábado, 8 de outubro de 2011

730 - poema de acalanto para a dona dos lilases (outra versão)

estavas tão intensa no olhar
que por vezes o mundo se perdia
os átomos se concentravam
na inquietude dos teus passos

sorvias o ar com a tenacidade
dos que não sofrem de silêncios
e quando os lábios se ofereciam
as palavras luziam magnitude

eu fiquei assim com teu quadro
a me palpitar os desencontros
tão feérica quanto as nuvens
que se embriagam em harmonia

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

729 - dicionário mínimo para entornar alvoroços

VIII

É de pedra a janela dos meus sonhos
Nada medra na arquitetura agreste
Cujo relógio de sol acentua a dicotomia

Na pele borda a redondilha de agruras
Nada a mágoa no couro da alvorada
Enquanto o réptil cultua o sobressalto

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

728 - dicionário mínimo para entornar alvoroços

VII

Aos acordes destemperados da solidão
Vazei os meus olhos em teus espinhos
Tinhas a incongruência do mandacaru

Para oferecer o fruto há o crivo da dor
Para provar néctar há sangue na saliva
Para seca do corpo há o viço benfazejo

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

727 - dicionário mínimo para entornar alvoroços

VI

Apaziguei-me de soluço em súbito salmo
Disso resulta a convivência imprecisa
Entre as bruscas levitações de pássaro

Dou ímpeto de asas às palavras arredias
Com elas vou construindo esse paralelo
Cujo fervor e desencontro são amálgama

terça-feira, 4 de outubro de 2011

726 - dicionário mínimo para entornar alvoroços

V

Receio o desaparecimento do incomum
Agora que tudo passou a ser simulacro
Eu que me eduquei para tanger trovoadas

Contento-me a espreitar barrancas do rio
Esperar que o rito das águas se cumpra
Lamber a vertigem que me corta os cílios

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

725 - dicionário mínimo para entornar alvoroços

IV

Não raro as coisas se misturam em luz
Então é preciso certo mister de estrela
Para elevar o brilho além da existência

Ser amálgama para todo o desconcerto
Cingir na algibeira o susto e a intempérie
Não esquecer o tempo de carpir nuvens

domingo, 2 de outubro de 2011

724 - dicionário mínimo para entornar alvoroços

III

Alumbramento é um raio nos olhos
Lembra a festa de delicados trovões
É o fazer-se súbito de divindades

Quando a fronte se sente ungida
Pelo toque indelével do assombro
E as mãos carregam arrebatamentos

sábado, 1 de outubro de 2011

723 - dicionário mínimo para entornar alvoroços

II

Pensei em polir umas dissonâncias
Acalentar os lagartos que se espraiam
E acender o lume das pedras distraídas

Mas são esquivas as tarefas que se impõem
E há muitos vestígios na solidão das veredas
Ali trafegam duendes e sombras em desuso