outrora foi o pranto que vazou a garganta
penetrou nas chagas da pele, fez moradia
eternizou-se em montanhas de silencios
essas estranhas correntezas corróem-me
são silvos no meio de tormenta e estrada
cantam comigo o desvario de tantas vozes
outrora foi uma palavra de gesto destituído
compilada na enciclopédia das galáxias
a irromper–se em predicados de gula febril
senhoria de tantos mistérios a quem invoco
em triste cantilena sobre preces e pretéritos
nesta tarde em que se ruflam todos os poentes
Poema para a postagem 500
CANTILENA
às vezes eu penso, ou então não penso.
às vezes cresço por dentro e então digo:
de quem é esta terra mais pequena, aquele
espaço no cabelo mais pequeno tão quando
a tua mão tão na minha? apertá-la é um lugar
muito perto. e digo ainda: quem é a locomotiva
de silêncio? lá fora é dia e a noite é um moinho.
sim, a planta entende as tuas pernas porque canta
nelas. a mão bate na cara, a canção hoje canta!
se alguém me perguntar eu digo que a beleza
é uma garganta toda azul a escorregar no céu.
e falo numa máquina feia de segredar ao ouvido.
quero comer o mar
quero um silêncio assim durante quinhentos poemas
Rui Costa
22 comentários:
caro amigo,
500. número mágico!
o cabo das tormentas está dobrado; falta a derradeira parte onde te esperam "estranhas correntezas", também.
admirável, sem dúvida!
um abraço!
Belissimos versos,,,500 um numero muito significativo de inspiração...abraços de boa semana.
Já falta pouco, e a inspiração continua sendo muita. Abraço.
Salve, salve, Assis!
lindo demais!
canto contigo o desvario de tantas vozes
a canção hoje canta!
Cantilena
beijo e tudo de bom
Dois poemas belíssimos!
Agora só faltam quinhentos e um!
:D
Beijos nessa tarde em que se ruflam todos os poentes.
Rossana
Ruflam-se todos os poentes e também todos os depoentes de tua épica jornada, Assis. A dobra do cabo está armada. Amanhã, ao romper da aurora, à tenacidade de suas velas se juntará mais uma vez o desvario de tantas vozes que lhe sopram preces propiciatórias de bons ventos para singrares todos os mistérios que invocas, rumo ao porto que só teus quadrantes e astrolábios - ou nem eles - podem apontar.
Abraços
Foi uma delicia, viajar até aqui, chegar ao poema 500. Metade do caminho está cumprido, espero o que resta, que, ao julgar pelos trilhos por onde viajei, me deixará sempre a sensação de extase e me deitará por terra, ao ler como juntas todas as palavras com mestria, de mestre!
que se cumpram os próximos 501
beijo
Laura
Menino Assis, que beleza de metade do caminho, heim? Minha sugestão é que comece a escrever o 500a, 500b, 500c...pra ver se a gente adia esse final para o qual estamos caminhando. Quando chegar aos 1001...a gente faz o que? Vem o livro? Ah, tomara!
Beijos,
ASSIS!
Maravilha essa cantilena. Duas para emocionar mais.
Brilhante!
Beijos, poeta MIL!
Mirze
Poxa, só não sei o qual é melhor, acho que nem existe. Sei que também quero comer o mar e também quero cantar o deveiro de tantas vozes...
O díficil é perceber que já estamos na (quase) metade...
Querido poeta: parabéns por todos os versos de seus 500 poemas!
Continuo admirando sua arte. Estou dando um tempo na blogosfera por conta de aborrecimentos, mas voltarei um dia. No mais, está tudo bem. Obrigada pela lembrança. Grande abraço.
Acompanhei esses 500 e sei, digo com alegria que os teus versos merecem um livro ao final dos 1001, concordo com a Tânia poderíamos adiar fazer o 500a, b.c.d.e, seria ótimo!
Beijos!
... "montanhas de silêncios..."
Que beleza o seu trabalho.
Merece comemoração com 500 beijos.
E 1001 abraços.
Que número fantástico!!! O melhor de tudo é pensar que vir aqui é algo que faz parte dos meus dias há alguns poemas, com o melhor sentido que se pode dar à palavra "rotina"...bjos, amigão.
Fatam só 501.
Dos 500 a magia dos outros 499...
Abraços
Lindos poemas e muito apropriados.
Parabéns, poeta, pelas 500 maravilhas que já nos apresentou, quem venham muito mais!
Beijo.
Assis,
tantas vozes, tantas letras..
palavras no teu caminho..sempre morada em nós..
beijo querido poeta.. e já são os 500..
Salve o poema, todos os poemas!
Chegando lá.
Beijo, Assis, e muito sucesso.
Invoquemos pois, as palavras, que cicatrizam chagas, embora tantas vezes as escancarem, que amenizam poentes, encurtam noites e nos mantém na trilha das manhãs. beijoos.
Salve os 500!
Abç fraterno
...nada se perde, tudo se transforma em palavra que pulsa, algumas, mais - como estas que me trouxeram até aqui.
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