domingo, 20 de fevereiro de 2011

500 - Canção de infortúnio para olheiras e guelras

outrora foi o pranto que vazou a garganta
penetrou nas chagas da pele, fez moradia
eternizou-se em montanhas de silencios

essas estranhas correntezas corróem-me
são silvos no meio de tormenta e estrada
cantam comigo o desvario de tantas vozes

outrora foi uma palavra de gesto destituído
compilada na enciclopédia das galáxias
a irromper–se em predicados de gula febril

senhoria de tantos mistérios a quem invoco
em triste cantilena sobre preces e pretéritos
nesta tarde em que se ruflam todos os poentes

Poema para a postagem 500

CANTILENA

às vezes eu penso, ou então não penso.
às vezes cresço por dentro e então digo:
de quem é esta terra mais pequena, aquele
espaço no cabelo mais pequeno tão quando
a tua mão tão na minha? apertá-la é um lugar
muito perto. e digo ainda: quem é a locomotiva
de silêncio? lá fora é dia e a noite é um moinho.
sim, a planta entende as tuas pernas porque canta
nelas. a mão bate na cara, a canção hoje canta!
se alguém me perguntar eu digo que a beleza
é uma garganta toda azul a escorregar no céu.
e falo numa máquina feia de segredar ao ouvido.
quero comer o mar
quero um silêncio assim durante quinhentos poemas

Rui Costa

22 comentários:

Jorge Pimenta disse...

caro amigo,
500. número mágico!
o cabo das tormentas está dobrado; falta a derradeira parte onde te esperam "estranhas correntezas", também.
admirável, sem dúvida!
um abraço!

Everson Russo disse...

Belissimos versos,,,500 um numero muito significativo de inspiração...abraços de boa semana.

Unknown disse...

Já falta pouco, e a inspiração continua sendo muita. Abraço.

Vais disse...

Salve, salve, Assis!
lindo demais!
canto contigo o desvario de tantas vozes
a canção hoje canta!
Cantilena
beijo e tudo de bom

Batom e poesias disse...

Dois poemas belíssimos!

Agora só faltam quinhentos e um!
:D
Beijos nessa tarde em que se ruflam todos os poentes.

Rossana

Tuca Zamagna disse...

Ruflam-se todos os poentes e também todos os depoentes de tua épica jornada, Assis. A dobra do cabo está armada. Amanhã, ao romper da aurora, à tenacidade de suas velas se juntará mais uma vez o desvario de tantas vozes que lhe sopram preces propiciatórias de bons ventos para singrares todos os mistérios que invocas, rumo ao porto que só teus quadrantes e astrolábios - ou nem eles - podem apontar.

Abraços

Anônimo disse...

Foi uma delicia, viajar até aqui, chegar ao poema 500. Metade do caminho está cumprido, espero o que resta, que, ao julgar pelos trilhos por onde viajei, me deixará sempre a sensação de extase e me deitará por terra, ao ler como juntas todas as palavras com mestria, de mestre!
que se cumpram os próximos 501
beijo
Laura

Tania regina Contreiras disse...

Menino Assis, que beleza de metade do caminho, heim? Minha sugestão é que comece a escrever o 500a, 500b, 500c...pra ver se a gente adia esse final para o qual estamos caminhando. Quando chegar aos 1001...a gente faz o que? Vem o livro? Ah, tomara!
Beijos,

Unknown disse...

ASSIS!

Maravilha essa cantilena. Duas para emocionar mais.

Brilhante!

Beijos, poeta MIL!

Mirze

Eder disse...

Poxa, só não sei o qual é melhor, acho que nem existe. Sei que também quero comer o mar e também quero cantar o deveiro de tantas vozes...

O díficil é perceber que já estamos na (quase) metade...

Gerana Damulakis disse...

Querido poeta: parabéns por todos os versos de seus 500 poemas!
Continuo admirando sua arte. Estou dando um tempo na blogosfera por conta de aborrecimentos, mas voltarei um dia. No mais, está tudo bem. Obrigada pela lembrança. Grande abraço.

Luiza Maciel Nogueira disse...

Acompanhei esses 500 e sei, digo com alegria que os teus versos merecem um livro ao final dos 1001, concordo com a Tânia poderíamos adiar fazer o 500a, b.c.d.e, seria ótimo!

Beijos!

Teté M. Jorge disse...

... "montanhas de silêncios..."

Que beleza o seu trabalho.
Merece comemoração com 500 beijos.
E 1001 abraços.

Daniela Delias disse...

Que número fantástico!!! O melhor de tudo é pensar que vir aqui é algo que faz parte dos meus dias há alguns poemas, com o melhor sentido que se pode dar à palavra "rotina"...bjos, amigão.

Vanessa Souza disse...

Fatam só 501.

Suzana Martins disse...

Dos 500 a magia dos outros 499...

Abraços

Anônimo disse...

Lindos poemas e muito apropriados.
Parabéns, poeta, pelas 500 maravilhas que já nos apresentou, quem venham muito mais!

Beijo.

Ingrid disse...

Assis,
tantas vozes, tantas letras..
palavras no teu caminho..sempre morada em nós..
beijo querido poeta.. e já são os 500..

dade amorim disse...

Salve o poema, todos os poemas!
Chegando lá.
Beijo, Assis, e muito sucesso.

nydia bonetti disse...

Invoquemos pois, as palavras, que cicatrizam chagas, embora tantas vezes as escancarem, que amenizam poentes, encurtam noites e nos mantém na trilha das manhãs. beijoos.

lula eurico disse...

Salve os 500!

Abç fraterno

Rejane Martins disse...

...nada se perde, tudo se transforma em palavra que pulsa, algumas, mais - como estas que me trouxeram até aqui.