faze dos meus destroços cimento úmido
aplaina, nivela com ele muros e campanários
assim alguém poderá rabiscar-me sem eu sentir
pois cortam as letras tão cheias de espinhos
que me escrevinham sem pena sob a pele
segunda-feira, 31 de janeiro de 2011
domingo, 30 de janeiro de 2011
479 - canto de espera por ramos e frutos
falta descrever a essência da árvore
na pele impúbere do teu umbigo
ser caligrafia em teu ventre
doar saliva e suor à tua língua
na pele impúbere do teu umbigo
ser caligrafia em teu ventre
doar saliva e suor à tua língua
sábado, 29 de janeiro de 2011
478 - o passado é um prólogo de imprevistos
hoje me deu na telha contar infortúnios
ah, vocês dirão: mas que cantilena repetida
eu advirto que não, hoje são mais graciosos
virão revestidos da inocência de dois anjos
sim, porque hoje encontrei-me com eles
tão puros, e me pediram que lhes contasse
os meus mais íntimos infortúnios
talvez, pudessem aquiescer alguma mínima
salvação para os augúrios da tormenta
e é sob a lira dos imaculados que
atiço-me neste redemoinho de recordações
contei para eles as travessuras de menino
e apenas sorriram dizendo que não era nada
então questionei sobre as marcas indeléveis
voltaram a sorrir com seus dentes alvos
amores: me disseram que eram muito comuns
trivialidades que não amaldiçoam alma nenhuma
sussurrei a frase dita naquela data imprecisa
e percebi o desconcerto, alegaram pressa
outros compromissos inadiáveis e me deixaram
hoje me deu na telha cantar infortúnios
ah, vocês dirão: mas que cantilena repetida
eu advirto que não, hoje são mais graciosos
virão revestidos da inocência de dois anjos
sim, porque hoje encontrei-me com eles
tão puros, e me pediram que lhes contasse
os meus mais íntimos infortúnios
talvez, pudessem aquiescer alguma mínima
salvação para os augúrios da tormenta
e é sob a lira dos imaculados que
atiço-me neste redemoinho de recordações
contei para eles as travessuras de menino
e apenas sorriram dizendo que não era nada
então questionei sobre as marcas indeléveis
voltaram a sorrir com seus dentes alvos
amores: me disseram que eram muito comuns
trivialidades que não amaldiçoam alma nenhuma
sussurrei a frase dita naquela data imprecisa
e percebi o desconcerto, alegaram pressa
outros compromissos inadiáveis e me deixaram
hoje me deu na telha cantar infortúnios
sexta-feira, 28 de janeiro de 2011
477 - poema para redemoinhos n’alma
Ainda não aprendi domar os corcéis
Que tu instalas nas palavras
Calcei botas, empunhei alamares
Mas só me fica o raio ensandecido
Deste verbo que teimo conjugar
Que tu instalas nas palavras
Calcei botas, empunhei alamares
Mas só me fica o raio ensandecido
Deste verbo que teimo conjugar
quinta-feira, 27 de janeiro de 2011
476 - arrisco em duas versões
I
com ou sem risco, ser cidadão
com ou sem risco, verso arisco
II
quando há risco
arrisco
o amor arisco
***
Outras versões
Ingrid disse...
com ou sem risco, ser cidadão
com ou sem risco, verso arisco
II
quando há risco
arrisco
o amor arisco
***
Outras versões
Júlio Castellain disse...
...
Risco no chão
Outra versão
Sem aversão
...
Risco no chão
Outra versão
Sem aversão
...
riscando o arisco nas tuas palavras..
Zélia Guardiano disse...
Arrisco:
Ainda que
Arisco
Transcendo
O risco
Fictício
Traçado
No chão
[ Tordesilhas
Entre o sim
E
O não ]
Ainda que
Arisco
Transcendo
O risco
Fictício
Traçado
No chão
[ Tordesilhas
Entre o sim
E
O não ]
Lívia Azzi disse...
Sempre quando há risco
o amor é arisco!
o amor é arisco!
LauraAlberto disse...
um risco de giz para nos separar de nós mesmos?
um risco de tinta para nos aproximar de nós mesmos?
é um risco, riscar assim!
um risco de tinta para nos aproximar de nós mesmos?
é um risco, riscar assim!
Oria Allyahan disse...
Arrisque ariscamente; arisque arriscadamente...
Por que você faz poema? disse...
Risco palavras
arrisco poemas.
arrisco poemas.
quarta-feira, 26 de janeiro de 2011
475 - canção da noite que verti o verbo do infinito
vivi para atiçar os folguedos da bonequinha
para derramar escaramuças na lua líquida
fazer redemoinho em busca da língua nua
tudo isso vivi para o anseio da bonequinha
que era tão bailarina trôpega no cachecol
com seu destino aziago de artista plebeia
que pintava estalos em cambraias e sedas
e se enfeitiçava de versos toda quinta-feira
ela era dia vívido para atiçar alumbramento
a bonequinha que se vestia como mary lyn
esperando a ventania de todas as ocasiões
um dia cantou happy birthay para o cais
nunca mais atracadouro, se pôs a caminho
com seus olhos azuis que vivi para atiçar
para derramar escaramuças na lua líquida
fazer redemoinho em busca da língua nua
tudo isso vivi para o anseio da bonequinha
que era tão bailarina trôpega no cachecol
com seu destino aziago de artista plebeia
que pintava estalos em cambraias e sedas
e se enfeitiçava de versos toda quinta-feira
ela era dia vívido para atiçar alumbramento
a bonequinha que se vestia como mary lyn
esperando a ventania de todas as ocasiões
um dia cantou happy birthay para o cais
nunca mais atracadouro, se pôs a caminho
com seus olhos azuis que vivi para atiçar
terça-feira, 25 de janeiro de 2011
474 - a quem se oferecer possa
ao menos convoco a legião de sombras para o baile
e assim rumamos noite e madrugada sem enleio
alimentando-nos de silhuetas
e assim rumamos noite e madrugada sem enleio
alimentando-nos de silhuetas
segunda-feira, 24 de janeiro de 2011
473 - tocata l’après-midi (com variação para cello)
tem dias em que perco meus olhos
e percorro desesperado a ausência
tudo melindra ante a escuridão
os passos se assustam em saltos
fico eu e minhas mãos tateando
sobras e equivalências, exaurindo
vestígios sob o infinito que arde
e se descolore sem forma ou matiz
e percorro desesperado a ausência
tudo melindra ante a escuridão
os passos se assustam em saltos
fico eu e minhas mãos tateando
sobras e equivalências, exaurindo
vestígios sob o infinito que arde
e se descolore sem forma ou matiz
domingo, 23 de janeiro de 2011
472 - outro ensaio sobre a astúcia mineral
acentuo-me ao desuso de libar
por ora nada quero desses teus
pode vir a invernada e os rigores
contento-me ávido de pedra-pomes
por ora nada quero desses teus
pode vir a invernada e os rigores
contento-me ávido de pedra-pomes
sábado, 22 de janeiro de 2011
471 - poema esquivo para contralto e baixo
ainda não sei de que distancia
ressoavam as sílabas da ausência
mas o espaço contaminado
era um plural de imensa solidão
ressoavam as sílabas da ausência
mas o espaço contaminado
era um plural de imensa solidão
sexta-feira, 21 de janeiro de 2011
470 - primeiro ensaio sobre a astúcia mineral
quem disse que pedras não ideiam
agora mesmo vi uma esquecida em devaneios
e do seu labor de realeza escorria o limo verde
agora mesmo vi uma esquecida em devaneios
e do seu labor de realeza escorria o limo verde
quinta-feira, 20 de janeiro de 2011
469 - poema para uma invernada de anelos
caíam-me em manto os auspícios
até os seios florirem e
fazer norte em todos os sentidos
e nossos passos se juntarem em trovoadas
até os seios florirem e
fazer norte em todos os sentidos
e nossos passos se juntarem em trovoadas
quarta-feira, 19 de janeiro de 2011
468 - vivre sa vie
era tu que vinhas ou
eu que sempre ficava
prélio não se decidia
diz se ia, dir-se-ia
eu que sempre ficava
prélio não se decidia
diz se ia, dir-se-ia
terça-feira, 18 de janeiro de 2011
467 - sonata, perfume e piazzola
quem sabe dançar o tango
na desmedida das horas
ou esperar o silencio
como atestado de óbito
na desmedida das horas
ou esperar o silencio
como atestado de óbito
segunda-feira, 17 de janeiro de 2011
466 - poema de algumas faces
eu ia s’imbora pra não encontrar consigo
eu ia, embora, pra não encontrar:
consigo
eu ia, embora, pra não encontrar:
consigo
domingo, 16 de janeiro de 2011
465 - quando lágrimas atravessaram os olhos e ainda não era madrugada
eu percebi o silencio nas pernas
o atroz enigma do cansaço
a rústica floração de lilases
e um blues a vingar na noite
que apenas era encruzilhada
o atroz enigma do cansaço
a rústica floração de lilases
e um blues a vingar na noite
que apenas era encruzilhada
sábado, 15 de janeiro de 2011
464 - poema para quando eu estiver cansado
há um inferno nesses teus lábios
que umedecem e queimam
pálpebras e solidão
que umedecem e queimam
pálpebras e solidão
sexta-feira, 14 de janeiro de 2011
463 - sob o desígnio da mais clara estrela
sou eu ateu e deserto
neste oásis de versos
sol em mares e pares
larvas que me lavras
sou eu e o teu invento
me vem ventos e areia
frágil nebulosa no olho
vasto lençol e rude laço
neste oásis de versos
sol em mares e pares
larvas que me lavras
sou eu e o teu invento
me vem ventos e areia
frágil nebulosa no olho
vasto lençol e rude laço
quinta-feira, 13 de janeiro de 2011
462 - sobre uns definitivos: plenamente
p/Lelena *
talvez seja esse redemoinho,
essa incessante partilha de sons,
esses frágeis caminhos,
essa sinuosidade de olhares,
quem sabe a dádiva de lábios,
esse estar em uma distancia alegre,
esse horizonte que é límpida perdição,
talvez sejam os eflúvios espumantes
ou espumas flutuantes
*poema a partir de um comentário em Definitivamentes no Bipede Falante
talvez seja esse redemoinho,
essa incessante partilha de sons,
esses frágeis caminhos,
essa sinuosidade de olhares,
quem sabe a dádiva de lábios,
esse estar em uma distancia alegre,
esse horizonte que é límpida perdição,
talvez sejam os eflúvios espumantes
ou espumas flutuantes
*poema a partir de um comentário em Definitivamentes no Bipede Falante
quarta-feira, 12 de janeiro de 2011
461 - loas para uma cantata de Elomar
não é distante de ver
do desconforto da estrada
o resto de cinza da imagem
mausoléu ao mundaréu
aquele trecho das ingás
vento comeu, murchou
marca de pena da terra
nunca mais foi de vingar
resta o consolo da virgem
no precipício das preces
azulão devolve-me o garbo
leva-me o arredio aziago
do desconforto da estrada
o resto de cinza da imagem
mausoléu ao mundaréu
aquele trecho das ingás
vento comeu, murchou
marca de pena da terra
nunca mais foi de vingar
resta o consolo da virgem
no precipício das preces
azulão devolve-me o garbo
leva-me o arredio aziago
terça-feira, 11 de janeiro de 2011
460 - canção de mesa, sala e corredor
tudo desistiu de funcionar
até os anjos pediram licença
parece que só eu fiquei preso
no visgo de tanta melancolia
- eu sou aquele que disse -
com o inferno nos olhos e
a caricatura de todas romãs
fruta que determina auroras
pois brilha infinda tua mão
e há teu regaço que aquece
meus olhos, meus silêncios
minhas oblíquas incoerências
até os anjos pediram licença
parece que só eu fiquei preso
no visgo de tanta melancolia
- eu sou aquele que disse -
com o inferno nos olhos e
a caricatura de todas romãs
fruta que determina auroras
pois brilha infinda tua mão
e há teu regaço que aquece
meus olhos, meus silêncios
minhas oblíquas incoerências
segunda-feira, 10 de janeiro de 2011
459 - sobre a sonata número um de Bártok
espera-me em ofertas que não tenho
o mundo é vasto como disse o poeta
há poeira nas oferendas da estrada
então não me espera, eu nada tenho
daqueles vendavais sobraram brisas
o tempo é circunstancia dos silêncios
então, nada possuo em ofertas para ti
a dona de todos instantes me procura
são dela os meus passos e evocações
até este poema não me pertence mais
ele agora corre desembestado em eco
atravessando as varandas deste olhar
então, não espera que nada me tenho
o mundo é vasto como disse o poeta
há poeira nas oferendas da estrada
então não me espera, eu nada tenho
daqueles vendavais sobraram brisas
o tempo é circunstancia dos silêncios
então, nada possuo em ofertas para ti
a dona de todos instantes me procura
são dela os meus passos e evocações
até este poema não me pertence mais
ele agora corre desembestado em eco
atravessando as varandas deste olhar
então, não espera que nada me tenho
domingo, 9 de janeiro de 2011
458 - concerto mínimo para viola e espasmos
então eu não pude mais
você vinha com tanto zelo
devorar o caminho íngreme
cavalgar o precipício da hora
aparar meus pelos com o olhar
você que impingia o desconcerto
lambuzava de língua todo o quarto
e o mundo era roda gigante, crescente
você vinha com tanto zelo
devorar o caminho íngreme
cavalgar o precipício da hora
aparar meus pelos com o olhar
você que impingia o desconcerto
lambuzava de língua todo o quarto
e o mundo era roda gigante, crescente
sábado, 8 de janeiro de 2011
457 - Poema para sobressalto e desalinho
Sob a espessa copa da manhã
Dançam impassíveis amândalas
Seduzem-se de areia e mistério
Eu assisto de fauteuil as ondas
Buscando o canto do merequém
E o repouso da alma em astélias
Dançam impassíveis amândalas
Seduzem-se de areia e mistério
Eu assisto de fauteuil as ondas
Buscando o canto do merequém
E o repouso da alma em astélias
sexta-feira, 7 de janeiro de 2011
456 - sonata em desconcerto de retiro e descaminho
ah esse intenso partir
mesmo quando fico a esmo
serviçal pedinte da existência
mesmo quando desdobram-se
as folhas, as relvas e os sinos
e eu sou esse rio de urgência
que naufraga leito e correnteza
ah esse intenso partir
sob o céu infindo de calmaria
ornado de nuvens rendadas
e estranhos astros de sutil matiz
quem veleja a vela do alvorecer
quem borda a corda do martírio
quem sopra acordes ao olvido
mesmo quando fico a esmo
serviçal pedinte da existência
mesmo quando desdobram-se
as folhas, as relvas e os sinos
e eu sou esse rio de urgência
que naufraga leito e correnteza
ah esse intenso partir
sob o céu infindo de calmaria
ornado de nuvens rendadas
e estranhos astros de sutil matiz
quem veleja a vela do alvorecer
quem borda a corda do martírio
quem sopra acordes ao olvido
quinta-feira, 6 de janeiro de 2011
455 - samba perdido em pandeiro outonal
criei limo na ciranda dos pés
pisei perdido batucadas e jasmins
no couro da sede soou o pandeiro
agora resta a iluminação da varanda
teu sortilégio e outras notas e claves
quarta-feira, 5 de janeiro de 2011
454 - Outro velho poema de impossíveis eras
Somos todos navegantes e não nos damos conta
Um dia aqui outro além, as coisas se misturam
Quimeras vão, desesperos vêm, quem dera mais
A torneira está sempre a pingar a última gota
E nunca aprendemos o nó certo dos cadarços
A noite está escura embora haja uma luz incerta
Palavras são faróis tontos cheios de significados
O roto, o maltrapilho frequentam-se no glamour
Das placas acetinadas, dos outdoors reluzentes
O homem convive com a sombra indevassável
Repete-se em antigos rituais e nunca se purifica
Rostos acenam em uma infindável procissão
Este que vos escreve se debate em celidografias
Se debruça pericondrítico com um surto ptótico
Calcinado por nada vislumbrar neste presbitismo
terça-feira, 4 de janeiro de 2011
453 - cantata para oboé, libélula e raio de sol
Tinhas a posição dos voos solenes
Mesmo quando dormias sem vestes
E o mundo inteiro era teu quadril
E os meus olhos paralisados eram
A única ânsia de palavra que corria
Tinhas a posição dos voos solenes
Mesmo quando o martírio de asas
Te despregava do peito todo mar
E vinhas para querência de mãos
Afligir na foz o vendaval de lábios
Mesmo quando dormias sem vestes
E o mundo inteiro era teu quadril
E os meus olhos paralisados eram
A única ânsia de palavra que corria
Tinhas a posição dos voos solenes
Mesmo quando o martírio de asas
Te despregava do peito todo mar
E vinhas para querência de mãos
Afligir na foz o vendaval de lábios
segunda-feira, 3 de janeiro de 2011
452 - recitando Rimbaud numa jaula de tigres
ergue-te mistério de promontório
passeia lanças sobre minha face
ouve o corcel de tanto infortúnio
repara na tez dessa noite impura
observa os deuses que se foram
entretidos numa hodierna ciranda
deposita no meu peito a tua sede
sêde intento para desejo de mãos
deixa a solidão invadir os passos
e prenunciar o mar dos afogados
agora as auroras se hão de fechar
e a fortuna jaz no hálito do fâmulo
passeia lanças sobre minha face
ouve o corcel de tanto infortúnio
repara na tez dessa noite impura
observa os deuses que se foram
entretidos numa hodierna ciranda
deposita no meu peito a tua sede
sêde intento para desejo de mãos
deixa a solidão invadir os passos
e prenunciar o mar dos afogados
agora as auroras se hão de fechar
e a fortuna jaz no hálito do fâmulo
domingo, 2 de janeiro de 2011
sábado, 1 de janeiro de 2011
450 - Canção de mares e ventanias
Teus cabelos me querem explicar os ventos
Enquanto observo redemoinhos e paisagens
Sei que na noite farão luz em minhas mãos
Serão cristais ungidos por calor, sede e fome
Teus cabelos me querem explicar os ventos
Enquanto abraço o vício das tempestades
Enquanto observo redemoinhos e paisagens
Sei que na noite farão luz em minhas mãos
Serão cristais ungidos por calor, sede e fome
Teus cabelos me querem explicar os ventos
Enquanto abraço o vício das tempestades
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