os versos surgem feito nuvens de algodão
se orientam por uns alísios úmidos
e pairam sobre arquipélagos coralinos
terça-feira, 31 de janeiro de 2012
segunda-feira, 30 de janeiro de 2012
844 - suíte tosca para o não dizer da poesia II
a minha poesia não tem nada ensaiado
é uma praia deserta: areia, vento e água
se me desespero é porque não durmo
há sempre o silencio que me atiça
sabe aquelas guirlandas no céu
são as nuvenzinhas que se avizinham
breve estarei pastando ao lado delas
entrecortado do assovio da brisa
a minha poesia é a orquestra de nadas
coisas que se aproximam de acontecer
um hiato, uns parêntesis, um intervalo
casulo interditado para outro alvorecer
é uma praia deserta: areia, vento e água
se me desespero é porque não durmo
há sempre o silencio que me atiça
sabe aquelas guirlandas no céu
são as nuvenzinhas que se avizinham
breve estarei pastando ao lado delas
entrecortado do assovio da brisa
a minha poesia é a orquestra de nadas
coisas que se aproximam de acontecer
um hiato, uns parêntesis, um intervalo
casulo interditado para outro alvorecer
domingo, 29 de janeiro de 2012
843 - suíte tosca para o não dizer da poesia
a poesia pode ser substantivo
verbo, pronome articulado
não carece de cumprimento
vá até o verso e se exaspere
passe os olhos ou borracha
se emborrache de melancolia
a poesia pode ser quimera
doravante será só alquimia
verbo, pronome articulado
não carece de cumprimento
vá até o verso e se exaspere
passe os olhos ou borracha
se emborrache de melancolia
a poesia pode ser quimera
doravante será só alquimia
sábado, 28 de janeiro de 2012
842 - vincent galgando estrelas sem orelha
a partir do poema Céu de Vincent de Dade Amorim
quando o céu espargia seus bemóis
entre as luzes que soçobram o orbe
vincent abraçava girassóis cortados
a lua se refletia na orelha que ouvia
vincent enumerava um chão de lírios
corria o tempo, sorria o rio do tempo
quando o céu espargia seus bemóis
entre as luzes que soçobram o orbe
vincent abraçava girassóis cortados
a lua se refletia na orelha que ouvia
vincent enumerava um chão de lírios
corria o tempo, sorria o rio do tempo
sexta-feira, 27 de janeiro de 2012
841 - outro canto de oferenda para o não dizer da poesia
o crepúsculo despertou as horas ao meu redor
crescem em mim como raízes e desassossego
não tenho mais o tempo para lilases e cotovias
agora me resta atormentar os últimos heliantos
crescem em mim como raízes e desassossego
não tenho mais o tempo para lilases e cotovias
agora me resta atormentar os últimos heliantos
quinta-feira, 26 de janeiro de 2012
840 - cântico de oferenda para o não dizer da poesia
uma nuvem no céu perambula meu olhar
eu me extravio do chão para acontecer
e as minhas mãos galgam circunstancias
fico assim ornado de coisas a amanhecer
eu me extravio do chão para acontecer
e as minhas mãos galgam circunstancias
fico assim ornado de coisas a amanhecer
quarta-feira, 25 de janeiro de 2012
839 - sonata devoluta para resquício da alba V
quando se assentarem os caminhos
na tosca linha que tece o alvorecer
estaremos lassos no fio fino do laço
na tosca linha que tece o alvorecer
estaremos lassos no fio fino do laço
terça-feira, 24 de janeiro de 2012
838 - sonata devoluta para resquício da alba IV
estavas instável como as nuvens
incerta como os raios
movediça como areia no deserto
incerta como os raios
movediça como areia no deserto
segunda-feira, 23 de janeiro de 2012
domingo, 22 de janeiro de 2012
836 - sonata devoluta para resquício da alba II
passageiro e acaso
velar velhos vícios:
com a noite me caso
velar velhos vícios:
com a noite me caso
sábado, 21 de janeiro de 2012
835 - sonata devoluta para resquício da alba
entorpece em outonos teu olhar
desdenha desejos ao ocaso
dentro dele permeia um extravio
desdenha desejos ao ocaso
dentro dele permeia um extravio
sexta-feira, 20 de janeiro de 2012
834 - variação mundana para o quam tristis et afflicta
eu te queria o vento a me adentrar
riso de rocha sólido
a defenestrar minhas retinas
eu apenas te queria água de pote
corpo cristalino
ao desdém de muitos guizos
eu só te queria pasto de nuvem
alma em letargia
corcel alado no céu de açoite
eu não te queria rimas óbvias
verso silente
cadafalso para a poesia
riso de rocha sólido
a defenestrar minhas retinas
eu apenas te queria água de pote
corpo cristalino
ao desdém de muitos guizos
eu só te queria pasto de nuvem
alma em letargia
corcel alado no céu de açoite
eu não te queria rimas óbvias
verso silente
cadafalso para a poesia
quinta-feira, 19 de janeiro de 2012
833 - réquiem para as almas decantadas de paraíso
quem dera fosse só poesia
o que me escorre dos olhos
mas há a carnificina lá fora
que faz eco aqui dentro
há trevas inomináveis
em nome de deus
um muro de lamentações
recortado de fantasmas
que dera fosse só poesia
crianças pintando arco-íris
mas se colhe o infortúnio
na seara escolhida do paraíso
o que me escorre dos olhos
mas há a carnificina lá fora
que faz eco aqui dentro
há trevas inomináveis
em nome de deus
um muro de lamentações
recortado de fantasmas
que dera fosse só poesia
crianças pintando arco-íris
mas se colhe o infortúnio
na seara escolhida do paraíso
quarta-feira, 18 de janeiro de 2012
832 - poema para algumas práticas transitórias depois do vendaval
a contemplação dos lilases para esquecer a razão
o cultivo de nenúfares para o alvoroço das retinas
o remanso de heliantos a vigiar o sol no horizonte
o canto da cotovia para quando se extinguir o dia
o voo breve do bem-te-vi a evocar amanhecimento
a paragem de águas delicadas nos olhos do peixe
a travessia sinuosa de lábios inflamando a paixão
o hiato entre o acontecimento e o que há de florir
o arrevesado travo das coisas que provocam cica
o inesperado que surge quando rotas dão veredas
a desassossegada coreografia no coito da libélula
a pacificada interjeição que amalgama a existência
o cultivo de nenúfares para o alvoroço das retinas
o remanso de heliantos a vigiar o sol no horizonte
o canto da cotovia para quando se extinguir o dia
o voo breve do bem-te-vi a evocar amanhecimento
a paragem de águas delicadas nos olhos do peixe
a travessia sinuosa de lábios inflamando a paixão
o hiato entre o acontecimento e o que há de florir
o arrevesado travo das coisas que provocam cica
o inesperado que surge quando rotas dão veredas
a desassossegada coreografia no coito da libélula
a pacificada interjeição que amalgama a existência
terça-feira, 17 de janeiro de 2012
831 - se me viesses com a tempestade nos olhos
se me viesses com a tempestade nos olhos
não contaria tua chegada o fervor dos clarins
nem mesmo nuvens desavisadas se ruflariam
se me viesses com a tempestade nos olhos
apenas meu corpo seria cálice para embaraço
apenas minhas mãos se entregariam ao vento
se me viesses com a tempestade nos olhos
restariam a sofreguidão e o descaminho de rio
a ponta vesga desta lamina que cintila no azul
não contaria tua chegada o fervor dos clarins
nem mesmo nuvens desavisadas se ruflariam
se me viesses com a tempestade nos olhos
apenas meu corpo seria cálice para embaraço
apenas minhas mãos se entregariam ao vento
se me viesses com a tempestade nos olhos
restariam a sofreguidão e o descaminho de rio
a ponta vesga desta lamina que cintila no azul
segunda-feira, 16 de janeiro de 2012
830 - suíte burlesca para o repentino dos olhos VI
infortúnio grande é o soluço do peixe
quando garras agarram suas guelras
há uma invocação de ar nos suspiros
o destino fica atravessado nos anzóis
como vez primeira preso ao lábio teu
quando garras agarram suas guelras
há uma invocação de ar nos suspiros
o destino fica atravessado nos anzóis
como vez primeira preso ao lábio teu
domingo, 15 de janeiro de 2012
829 - suíte burlesca para o repentino dos olhos V
auroras e curumins apaziguam dores
sopram amanhecimento suas hordas
assim como um repasto de girassóis
ou súbito declive no arroio do olhar
sopram amanhecimento suas hordas
assim como um repasto de girassóis
ou súbito declive no arroio do olhar
sábado, 14 de janeiro de 2012
828 - suíte burlesca para o repentino dos olhos IV
um dia estarei para sempre nuvem
tão quieto, no céu apascentado
tão completo com meus nadas,
meus vazios e os meus silêncios
tão quieto, no céu apascentado
tão completo com meus nadas,
meus vazios e os meus silêncios
sexta-feira, 13 de janeiro de 2012
827 - suíte burlesca para o repentino dos olhos III
o lume do punhal se atiça em faíscas
corre no fio a sagração do corte
não há nada mais dolorido
que a lamina cega de uma adaga
corre no fio a sagração do corte
não há nada mais dolorido
que a lamina cega de uma adaga
quinta-feira, 12 de janeiro de 2012
826 - suíte burlesca para o repentino dos olhos II
as minhas mãos gravaram um pôr-do-sol
bem no caminho das falanges
ficam-me assim de arrepio as unhas
a crescer desmedidas de horizontes
bem no caminho das falanges
ficam-me assim de arrepio as unhas
a crescer desmedidas de horizontes
quarta-feira, 11 de janeiro de 2012
825 - suíte burlesca para o repentino dos olhos
não há movimento que perdure
eu capto as instancias
ora à esquerda, ora à direita
num lento fluir de imagens
o vulto vem em fragrâncias
como se o aroma antecedesse
somente depois constato o eis
e ali está o quadro emoldurado
seja o pasto líquido de nenúfares
seja a senhora e a chávena de chá
seja o assombro da nuvem apascentada
terça-feira, 10 de janeiro de 2012
824 - canção de extravio para girassóis ensimesmados (prolegômenos)
eu te queria em súbita alegoria
na leve anunciação das asas
no murmúrio repentino de nuvem
no incessante fluir dos peixes
nesse ir e vir das mornas areias
eu te queria e nada mais quero
na leve anunciação das asas
no murmúrio repentino de nuvem
no incessante fluir dos peixes
nesse ir e vir das mornas areias
eu te queria e nada mais quero
segunda-feira, 9 de janeiro de 2012
823 - canção de extravio para girassóis ensimesmados (outra versão)
de tanto ouvir o silencio me desencaminhei
mergulhei as mãos neste rio sem lágrimas
nunca mais senti a brisa que me ofereceste
nunca mais os olhos se deitaram em súbito
meus lábios reluzem esta cor desmerecida
à espera da floração que o teu futuro instila
* A Cris e a Dani resolveram me colorir de sílabas aqui
mergulhei as mãos neste rio sem lágrimas
nunca mais senti a brisa que me ofereceste
nunca mais os olhos se deitaram em súbito
meus lábios reluzem esta cor desmerecida
à espera da floração que o teu futuro instila
* A Cris e a Dani resolveram me colorir de sílabas aqui
domingo, 8 de janeiro de 2012
822 - canção de extravio para girassóis ensimesmados
de tanto ouvir o silencio me desencaminhei
galguei estradas de nuvens e crepúsculos
me fez companhia o alvoroço de pés alados
a contemplação do horizonte apascentado
e um tumulto de asa que no chão se debatia
galguei estradas de nuvens e crepúsculos
me fez companhia o alvoroço de pés alados
a contemplação do horizonte apascentado
e um tumulto de asa que no chão se debatia
sábado, 7 de janeiro de 2012
821 - contraponto para inexistência, achados e afins X
foi de sentir a contemplação dos pássaros
que me pus a engendrar súbitos e impulsos
a ler na desmedida das horas os desígnios
a buscar na palavra uma gênese de nuvem
*
O poeta Jorge Pimenta me ungiu de maravilhas aqui
que me pus a engendrar súbitos e impulsos
a ler na desmedida das horas os desígnios
a buscar na palavra uma gênese de nuvem
*
O poeta Jorge Pimenta me ungiu de maravilhas aqui
sexta-feira, 6 de janeiro de 2012
820 - contraponto para inexistência, achados e afins IX
as ruas se insinuam na vermelhidão da tarde
um aboio ecoa desatinado em pretéritos
enquanto rumino ausências, lilases e girassóis
um aboio ecoa desatinado em pretéritos
enquanto rumino ausências, lilases e girassóis
quinta-feira, 5 de janeiro de 2012
819 - contraponto para inexistência, achados e afins VIII
varei espinhos em tuas veredas
e os passos colheram uma sede de rio
não fui o princípio, o verbo da tua carne
guardo as intempéries que germinaste
neste silencio que me corrói a pele
e os passos colheram uma sede de rio
não fui o princípio, o verbo da tua carne
guardo as intempéries que germinaste
neste silencio que me corrói a pele
quarta-feira, 4 de janeiro de 2012
818 - contraponto para inexistência, achados e afins VII
por vezes temo esse teu mimetismo lunar
mas mesmo assim continuo evocando
as noites e as derradeiras aparições
meus se pelos se eriçam e as retinas
desdobram-se num acalanto abençoado
mas mesmo assim continuo evocando
as noites e as derradeiras aparições
meus se pelos se eriçam e as retinas
desdobram-se num acalanto abençoado
terça-feira, 3 de janeiro de 2012
817 - poema de mesura ao princípio de levitação
meu desejo está apaziguado
em tuas membranas, retinas
nas dunas que se inflamam
dentre os teus desconcertos
nada ousará em ressoar por ti
mais que as falésias e jiraus
nenhum intento será tamanho
nem a correnteza, nem o trago
meu desejo está apaziguado
como corcel que ganha asas
do chão retira as sementes e
se empluma em voo impávido
em tuas membranas, retinas
nas dunas que se inflamam
dentre os teus desconcertos
nada ousará em ressoar por ti
mais que as falésias e jiraus
nenhum intento será tamanho
nem a correnteza, nem o trago
meu desejo está apaziguado
como corcel que ganha asas
do chão retira as sementes e
se empluma em voo impávido
segunda-feira, 2 de janeiro de 2012
816 - antipoema para sertania alvoroçada de pífanos
a encruzilhada vazou-me de infortúnios
foi no retiro das águas que me fiz barro
ouvi dos pássaros os assovios fortuitos
assim ganhei uma plumagem de nuvens
mas ainda trago o sibilo do teu veneno
por isso me decomponho nas alvoradas
e armo laço na vereda do desassossego
quem sabe me salve o brilho do arrebol
do corte seco no silencio da foice insana
foi no retiro das águas que me fiz barro
ouvi dos pássaros os assovios fortuitos
assim ganhei uma plumagem de nuvens
mas ainda trago o sibilo do teu veneno
por isso me decomponho nas alvoradas
e armo laço na vereda do desassossego
quem sabe me salve o brilho do arrebol
do corte seco no silencio da foice insana
domingo, 1 de janeiro de 2012
815 - fantasia breve para contemplação da aurora
o tempo é um cultivar-me de incertezas
acrescenta circunstâncias ao repentino
me desfaz de geometrias e geografias
o tempo me apascenta os quilômetros
faz das minhas retinas morada invisível
conduz todas as distancias ao pretérito
o tempo insurge levitação no crepúsculo
destila as incoerências, as contradições
armazena o singelo, os súbitos do porvir
acrescenta circunstâncias ao repentino
me desfaz de geometrias e geografias
o tempo me apascenta os quilômetros
faz das minhas retinas morada invisível
conduz todas as distancias ao pretérito
o tempo insurge levitação no crepúsculo
destila as incoerências, as contradições
armazena o singelo, os súbitos do porvir
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