quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

94 - prosa rasa para violino e oboé (último movimento)

Agora é feito e a tarde arde.
Ultrapassamos os limites dos
sinais. Fomos corrompidos
pela virtude da carne. Agora
é feito e a tarde arde. A angústia
se fez parceira do verbo. O teu eu
se entranhou em todas as partes.
(Regozijo a este pensamento).
Sei que o silêncio está prenhe de
fervor. Sei que da tua mão surgem
luas. Sei que do teu corpo sopram
brisas de almíscar, e sei que
o mistério da tua boca fascina.
Agora é feito e a tarde arde. A
alvorada está no calmo jardim
que aguardo cheio de sede, quando
ofereces a seda do aconchego ao
viajante. Agora é feito e a tarde arde.
Despeço-me com a infâmia do adeus,
uma cara saudade em intermitência
e esta insolência pueril da paixão.

6 comentários:

nina rizzi disse...

adorei, Assis, adorei.
piú... é tão bom tudo isso, letras e sentidos, que preferia ser um intermezzo...

um cheiro, cabra.

Primeira Pessoa disse...

assis, cê nunca teve a sensação de que um oboé toca dentro do seu peito, por volta das 15 para as seis da tarde?

rapaz, é um sofrimento...
mas um sofrimento bonito.
sabe quando dói mas é bão?

belo poema.
abração do
roberto.

Sueli Maia (Mai) disse...

Misericórdia! Danousse! É fogo que arde e que nem dói, É brisa de almiscar que se sente...
Nem sei por onde começar... Vou pelas entrelinhas e pelas reticências...e tu falas do último movimento... Eita! Escuta e sente e ouve... São línguas... Sshhhhhh...Fecho a porta.
Lindo, lindo, lindo. Aplausos e mais e bis.

Moacy Cirne disse...

Muito bom, meu caro.
Muito bom.

Abraços.

Lou Vilela disse...

Putz! Um primor!

Beijos

Gerana Damulakis disse...

Os 3 últimos versos: excelentes!