Não choveu, amor
A nossa fonte, nosso jardim
Nossos sonhos de cristais
Tudo isso o tempo comeu
Como as nossas carnes
Desbastadas pela natureza
Não choveu, amor
A frieza do relógio impõe-se
As taças erguidas em vão
Em meio a tantos vendavais
Tudo isso o tempo comeu
Em sacrossanta castidade
Não choveu, amor
E eu ainda fito a paisagem
E repito em versos o canto
Aquele que faz soar o coração
Que o tempo só há de comer
Se murcharem as pedras
16 comentários:
Cristais trincam, cristais quebram...
Uma ótima metáfora do Freud sobre o cristal diz que, quando quebra, “não o faz aleatoriamente, mas expõe as linhas de fragilidade que, embora invisíveis, já estavam presentes em sua própria estrutura”
Um amor quando é verdadeiro, nada destrói...
Lindo poema.
Bjos achocolatados
Estava te lendo, Assis, e pensando nos cristais... Referi-me ao cristal ainda ontem, mas ao cristal pedra, bruta, sólida... Vejo aqui o cristal transformado, frágil, nobre, prestes a trincar...e por outro lado a obstinação do poeta, que espera que as pedras murchem, porque não abre mão de sonhar!
Abraços, Assis!
e de verso em verso, de poema em poema, caminha o poeta entre os cristais...
besos
Lindo poema, aliás mais que lindo!
O tempo, a frieza do relógio, e o amor que o tempo não há de comer, por estar mineralizado em pedras.
Maravilha, poeta!
Beijos
Mirze
A castidade do tempo devasta tantas coisas que o poema pode salvar.
Beijo, Assis.
"Não choveu, amor
E eu ainda fito a paisagem"
paisagem cada vez mais rara, o amor é nos dias de hoje ficção
Se chover, são cristais, que pingam espatifando; a paisagem reluz.
Abraço, querido poeta!
"que o tempo só há de comer
se murcharem as pedras"
a despeito do que dizem, nem tudo passa...há coisas que nem o tempo pode engolir
passar aqui traz sempre um novo encantamento
um abraço pra ti
Cristal é tua poesia...
Lindo. Não sei se dizia isso o teu poema mas despertou em mim uma idéia: que o tempo devora os instantes na velocidade da luz de cada presença. Se não choveu, pelo menos as lembranças luziram em ti.
bjs
não choveu, não, assis. e, mesmo que chovesse, o cântico soaria espontâneo, translúcido, arrebatador... porque as pedras apenas murcham quando o coração dos homens se esquece de amar.
um abraço!
vc vai chover, de novo e sempre, a me ellenizar...
beijos.
Olá poeta, metáforas belíssimas num poema intenso, de alta qualidade poética... Parabéns pelo talento e sensibilidade. Um abraço.
Marco este também. Gostei muito muito.
Não choveu para umedecer a terra e fomentar a vida, mas a poesia persiste! ;)
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