terça-feira, 8 de junho de 2010

239 - Canção de plena alvorada

Não choveu, amor
A nossa fonte, nosso jardim
Nossos sonhos de cristais
Tudo isso o tempo comeu
Como as nossas carnes
Desbastadas pela natureza

Não choveu, amor
A frieza do relógio impõe-se
As taças erguidas em vão
Em meio a tantos vendavais
Tudo isso o tempo comeu
Em sacrossanta castidade

Não choveu, amor
E eu ainda fito a paisagem
E repito em versos o canto
Aquele que faz soar o coração
Que o tempo só há de comer
Se murcharem as pedras

16 comentários:

Vanessa Souza disse...

Cristais trincam, cristais quebram...

Uma ótima metáfora do Freud sobre o cristal diz que, quando quebra, “não o faz aleatoriamente, mas expõe as linhas de fragilidade que, embora invisíveis, já estavam presentes em sua própria estrutura”

Sandra Gonçalves disse...

Um amor quando é verdadeiro, nada destrói...
Lindo poema.
Bjos achocolatados

Tania regina Contreiras disse...

Estava te lendo, Assis, e pensando nos cristais... Referi-me ao cristal ainda ontem, mas ao cristal pedra, bruta, sólida... Vejo aqui o cristal transformado, frágil, nobre, prestes a trincar...e por outro lado a obstinação do poeta, que espera que as pedras murchem, porque não abre mão de sonhar!

Abraços, Assis!

líria porto disse...

e de verso em verso, de poema em poema, caminha o poeta entre os cristais...
besos

Unknown disse...

Lindo poema, aliás mais que lindo!

O tempo, a frieza do relógio, e o amor que o tempo não há de comer, por estar mineralizado em pedras.

Maravilha, poeta!

Beijos

Mirze

dade amorim disse...

A castidade do tempo devasta tantas coisas que o poema pode salvar.

Beijo, Assis.

Non je ne regrette rien: Ediney Santana disse...

"Não choveu, amor
E eu ainda fito a paisagem"
paisagem cada vez mais rara, o amor é nos dias de hoje ficção

Anônimo disse...

Se chover, são cristais, que pingam espatifando; a paisagem reluz.

Abraço, querido poeta!

Andrea de Godoy Neto disse...

"que o tempo só há de comer
se murcharem as pedras"

a despeito do que dizem, nem tudo passa...há coisas que nem o tempo pode engolir

passar aqui traz sempre um novo encantamento

um abraço pra ti

Cris de Souza disse...

Cristal é tua poesia...

Luiza Maciel Nogueira disse...

Lindo. Não sei se dizia isso o teu poema mas despertou em mim uma idéia: que o tempo devora os instantes na velocidade da luz de cada presença. Se não choveu, pelo menos as lembranças luziram em ti.

bjs

Jorge Pimenta disse...

não choveu, não, assis. e, mesmo que chovesse, o cântico soaria espontâneo, translúcido, arrebatador... porque as pedras apenas murcham quando o coração dos homens se esquece de amar.
um abraço!

nina rizzi disse...

vc vai chover, de novo e sempre, a me ellenizar...

beijos.

Úrsula Avner disse...

Olá poeta, metáforas belíssimas num poema intenso, de alta qualidade poética... Parabéns pelo talento e sensibilidade. Um abraço.

Gerana Damulakis disse...

Marco este também. Gostei muito muito.

Lou Vilela disse...

Não choveu para umedecer a terra e fomentar a vida, mas a poesia persiste! ;)