Vem fecundar os segundos desta manhã
Com a prenhez das tuas mãos
E afugentar os ventos aziagos
Que me fazem volta aos sentidos
Deixa-me ser teu gentil carpinteiro
A esculpir alvoradas
A delinear com a brasa da saliva
Este território em que me habitas
* O poema acima é filho deste abaixo. O poema de Moacyr Félix me acompanha há muito tempo, quando as paixões violentas corriam nas vastas encostas e havia sempre luzes para recomeçar.
VEM!
Não me deixa sozinho,
catavento à mercê de um vento frio.
Vem
encher com teu corpo de moça
o vazio, o imenso vazio...
Vem
apagar toda esta dança de luzes
luzes loucas, loucamente piscando
na cidade escura dos meus pensamentos!
Vem, depressa, vem
abrigar o meu impulso de fim
como um rei entre as tuas coxas
ou trazer nos lábios o esquecimento
das coisas que eu desconheço
mas são brasas
aprisionadas dentro do meu cérebro.
Vem
empurrar com a carícia de tuas mãos
esta noite estranha que cresce, que cresce...