perdi-me em ausências
em prólogos intermináveis
sob a prateleira jaz um coração
desde o dia em que me vi acorrentado
tentando carpir a intempérie do amor
o mesmo amor que outrora foi alvíssara
mas quem há de ser sombra se fora já luz
quem há de habitar hades atabalhoado
na loucura de pares em esquiva caminhada
perdi-me em ausências
nessa desordem cotidiana do ser e coisa
sob a prateleira jaz um coração
o mesmo que um dia fiz de oferenda
o mesmo tumulto, a mesma refrega
o amor fez seu travo, deixou sua cica
perdi-me em ausências
sob a prateleira jaz um coração
quem há de cavalgar mais um dia
quem há de ver o lume no fio da lâmina
quem há de quebrar o encanto frio da adaga
quarta-feira, 31 de agosto de 2011
terça-feira, 30 de agosto de 2011
691 - sonata de ausência para barco, quebra-mar e violoncelo
não há contemplação
as balsas se espraiam no horizonte
acendo o cigarro e trago o arrebol
caminho entre sargaços
que o mar empresta a terra
aqui há um cheiro embevecido
que faz refúgio nas têmporas
seria melhor se chovesse
e todas as águas se misturassem
e se perdessem em sacrifício
no encontro de sal
e quatro átomos de carbono,
brandura e delicadeza
coisas que já não tenho
mesmo quando soam os acordes
e um cello desavisado me abotoa
de lembranças e tudo é um travo
como aquele que desbotou
na mancha da calça, no tecido fino
da camisa, nas meias e nos sapatos
quando as portas se cerraram
quando os lençóis se condoeram
e nada aquecia, e nada acalentava
a ausência nos meus pés umedecidos
as balsas se espraiam no horizonte
acendo o cigarro e trago o arrebol
caminho entre sargaços
que o mar empresta a terra
aqui há um cheiro embevecido
que faz refúgio nas têmporas
seria melhor se chovesse
e todas as águas se misturassem
e se perdessem em sacrifício
no encontro de sal
e quatro átomos de carbono,
brandura e delicadeza
coisas que já não tenho
mesmo quando soam os acordes
e um cello desavisado me abotoa
de lembranças e tudo é um travo
como aquele que desbotou
na mancha da calça, no tecido fino
da camisa, nas meias e nos sapatos
quando as portas se cerraram
quando os lençóis se condoeram
e nada aquecia, e nada acalentava
a ausência nos meus pés umedecidos
segunda-feira, 29 de agosto de 2011
690 - estudo étimo para o atalho das marinhas
tu me soubeste sal para regaço da língua
sob o desígnio das trovoadas eram riscos
raiando a alvorada em folguedos e guizos
tu me soubeste espinho na tua inquietude
em que abraçavas o espanto sem máculas
e soçobravas no sumo de atônitos desejos
tu me soubeste no atavio para tuas vestes
ornadas de semblantes, desvarios e fugas
eu era o único soluço a despir os girassóis
sob o desígnio das trovoadas eram riscos
raiando a alvorada em folguedos e guizos
tu me soubeste espinho na tua inquietude
em que abraçavas o espanto sem máculas
e soçobravas no sumo de atônitos desejos
tu me soubeste no atavio para tuas vestes
ornadas de semblantes, desvarios e fugas
eu era o único soluço a despir os girassóis
domingo, 28 de agosto de 2011
689 - sobre o impossível da poesia e outras levezas do vento
de nada adiantaria o amor
essa praga que alucina os dias
de nada adiantaria
se das cavernas não se repetissem
em rito os hieroglifos
de nada adiantaria
se não pintassem os esquivos traços
nas retinas de tantas cores
de nada adiantaria o amor
se a palavra não pudesse exasperar
de nada adiantaria
se o silencio não se fizesse
refúgio de todo o verbo
de nada adiantaria
essa praga que alucina os dias
de nada adiantaria
se das cavernas não se repetissem
em rito os hieroglifos
de nada adiantaria
se não pintassem os esquivos traços
nas retinas de tantas cores
de nada adiantaria o amor
se a palavra não pudesse exasperar
de nada adiantaria
se o silencio não se fizesse
refúgio de todo o verbo
de nada adiantaria
sábado, 27 de agosto de 2011
688 - Metapoema para alvorada, carícia e bem-me-quer
Se tu me visses os olhos em alumbramento
Lembrando o germinar das tuas cortesias
A mesura com que me enlaçavas as mãos
Só assim me terias ouvidos para o arrebol
Contemplarias a cantiga de retina e órbitas
Se tu me visses os olhos em alumbramento
Luzindo a azenha na toada que move a água
Saberia que só o tempo nos inventa desatino
Só assim nós seríamos completa equivalência
Esse rasgo de azul que pacifica céus e nuvens
Lembrando o germinar das tuas cortesias
A mesura com que me enlaçavas as mãos
Só assim me terias ouvidos para o arrebol
Contemplarias a cantiga de retina e órbitas
Se tu me visses os olhos em alumbramento
Luzindo a azenha na toada que move a água
Saberia que só o tempo nos inventa desatino
Só assim nós seríamos completa equivalência
Esse rasgo de azul que pacifica céus e nuvens
sexta-feira, 26 de agosto de 2011
687 - ária de desamparo para canto coral e violino solo
urgem os arrepios nesta trilha de rubro
cantem os desatinos
urgem medéias, tristãos, édipos e infantes
cantem o desencontro
urgem rosas, violetas, jasmins e girassóis
cantem os destemperos
urgem mãos que enlaçam retina e fronte
cantem o desassossego
urgem ritos para incendiar pontes e ilhas
cantem os desvarios
urgem demônios cavalgando as palavras
cantem o desalinho
urgem trilhas para os incautos e insanos
cantem os desenganos
urgem moitas, veredas, soslaio e gravatás
cantem o desembaraço
urgem aflição, medo, atavio e desespero
cantem os descompassos
urgem ponto, parágrafo, sina, vida e morte
cantem o desenlace
cantem os desatinos
urgem medéias, tristãos, édipos e infantes
cantem o desencontro
urgem rosas, violetas, jasmins e girassóis
cantem os destemperos
urgem mãos que enlaçam retina e fronte
cantem o desassossego
urgem ritos para incendiar pontes e ilhas
cantem os desvarios
urgem demônios cavalgando as palavras
cantem o desalinho
urgem trilhas para os incautos e insanos
cantem os desenganos
urgem moitas, veredas, soslaio e gravatás
cantem o desembaraço
urgem aflição, medo, atavio e desespero
cantem os descompassos
urgem ponto, parágrafo, sina, vida e morte
cantem o desenlace
quinta-feira, 25 de agosto de 2011
686 - loa para a senhora de fulva cabeleira ou quando o vento habitou o precipício
ela se foi lançar outro infante com olhar e arrebol
tinir as sobrancelhas da ventura com o desatino
mesmo que eu visse que a uma nau embarcaria
e faria destino por entre icebergs e luas geladas
pois do solo da caatinga ferviam ainda os cactos
enredados de seus espinhos em trôpego cavalgar
ela se foi lançar outro infante com olhar e arrebol
espargir o soluço que desabriga os pés incautos
mesmo que eu visse que a uma nau embarcaria
e faria destino por entre fiordes e tépido bosque
em brasa se alimentavam os meus olhos fúlgidos
na espora do anel da senhora de fulva cabeleira
quarta-feira, 24 de agosto de 2011
685 - sobre quando a areia incita pés descalços
era areia a pele deste desassossego
finos grãos a inventar os meus olhos
fazia tempestade por dentro a retina
eu molhava de passos teu passado
e os pés sorviam desavisado destino
era areia a pele deste desassossego
finos grãos a inventar os meus olhos
fazia tempestade por dentro a retina
eu molhava de passos teu passado
e os pés sorviam desavisado destino
era areia a pele deste desassossego
terça-feira, 23 de agosto de 2011
684 - cantiga para as águas que habitam os córregos e regatos
foi o gesto impreciso da tua mão que veio me visitar
a serenidade desse céu em que espargem nuvens
a melancolia de tantas horas premeditadas ao ócio
foi o gesto impreciso da tua mão que veio me visitar
envolver de suavidade esse regaço que contemplo
esquecer a sede e o tormento que aniquila o tempo
o orbe da palavra murmura memória: disse o poeta
como devaneio desperto criar aquilo que só vemos
neste gesto precioso da tua mão que veio me visitar
a serenidade desse céu em que espargem nuvens
a melancolia de tantas horas premeditadas ao ócio
foi o gesto impreciso da tua mão que veio me visitar
envolver de suavidade esse regaço que contemplo
esquecer a sede e o tormento que aniquila o tempo
o orbe da palavra murmura memória: disse o poeta
como devaneio desperto criar aquilo que só vemos
neste gesto precioso da tua mão que veio me visitar
segunda-feira, 22 de agosto de 2011
683 - ária de almas imprecisas para o navio fantasma de wagner
quem sabe do mar acolher as suas vagas
supõe do amor corrente de fiel fantasma
quem sabe assim em velas colher desdita
supõe do amor lealdade de vento em proa
senta na calma nuvem que obnubila o céu
senta em desatino de alma à procura de lar
supõe do amor corrente de fiel fantasma
quem sabe assim em velas colher desdita
supõe do amor lealdade de vento em proa
senta na calma nuvem que obnubila o céu
senta em desatino de alma à procura de lar
domingo, 21 de agosto de 2011
682 - ária de preceito para adaga e lenço branco
não me soube vento em passeio por tua pele
como não me sabia sopro no encargo da voz
não me sabia sinal das tuas possíveis cartas
acumulei de presságio duna e branca nuvem
no céu habitei retinas de horizonte e arrebol
no caminho de lajedo e pedra deslizei silente
não me soube augúrio no passo da chegada
não sabia que no fado da água povoa soluço
de nada sabia e me afogavam língua e verbo
como não me sabia sopro no encargo da voz
não me sabia sinal das tuas possíveis cartas
acumulei de presságio duna e branca nuvem
no céu habitei retinas de horizonte e arrebol
no caminho de lajedo e pedra deslizei silente
não me soube augúrio no passo da chegada
não sabia que no fado da água povoa soluço
de nada sabia e me afogavam língua e verbo
sábado, 20 de agosto de 2011
681 - madrigal de lisonja aos encantos de senhora e lavanda
com quantos nomes assinaria por ti o amor
pois de amar se colheu múltiplos ramos
e nesta enseada onde vicejam areia e pés
e nesta paisagem de nuvens em alvoroço
cumpre o vento de seguir-te os passos
cumpre o pássaro de alçar-te em voo
com quantos nomes assinaria por ti o amor
pois de amar se acolheu o fogo em sossego
pois de amar se colheu múltiplos ramos
e nesta enseada onde vicejam areia e pés
e nesta paisagem de nuvens em alvoroço
cumpre o vento de seguir-te os passos
cumpre o pássaro de alçar-te em voo
com quantos nomes assinaria por ti o amor
pois de amar se acolheu o fogo em sossego
sexta-feira, 19 de agosto de 2011
680 - ária de entardecer para senhora de alfabeto delicado
seria preciso adentrar os ismos
para alcançar a verve do improviso
ela escreve em alfa, beta, gama
flutua por arcturus, antares
ledo engano quem pensa em augúrio
é uma pena que flui em correnteza
sabe aquele assovio de pássaro
aquela cantoria de festa do feijão
aquele assomo de realeza em desatino
uma escrita em princípio de elevação
para alcançar a verve do improviso
ela escreve em alfa, beta, gama
flutua por arcturus, antares
ledo engano quem pensa em augúrio
é uma pena que flui em correnteza
sabe aquele assovio de pássaro
aquela cantoria de festa do feijão
aquele assomo de realeza em desatino
uma escrita em princípio de elevação
quinta-feira, 18 de agosto de 2011
679 - poema para ruir os últimos moinhos de vento (metaplagio em cascata para solista e coral)
a noite fez ruir teus cílios, minhas sobrancelhas
a noite fez ruir teus cactos, minhas madrepérolas
a noite fez ruir teus insetos, minhas mariposas
a noite fez ruir teus pastores, minhas alcateias
a noite fez ruir teus quandos, minhas incertezas
a noite fez ruir teus quadros, minhas molduras
a noite fez ruir teus mapas, minhas geografias
a noite fez ruir teus idílios, minhas fantasias
a noite fez ruir teus sinais, minhas idolatrias
a noite fez ruir teu alfabeto, minha idiossincrasia
a noite fez ruir o silêncio, o girassol, o moinho de vento,
a atônita sinfonia, os florais de bach, a orelha de van gogh,
o adagio de mahler, o quinto, o sexto e o sétimo selo,
toda a cavalaria e meus alamares
a noite fez ruir minha repetição, a medíocre poesia,
o último trago do cigarro, aquela cena de cinema,
binoche, deneuve, delon,
o salvador, a memória e as insígnias do tempo,
a pasárgada, o bandeira, a sentinela,
o vizinho, o cravo nos dentes,
o inútil bem querer que insisto em outorgar
a noite fez ruir teus cactos, minhas madrepérolas
a noite fez ruir teus insetos, minhas mariposas
a noite fez ruir teus pastores, minhas alcateias
a noite fez ruir teus quandos, minhas incertezas
a noite fez ruir teus quadros, minhas molduras
a noite fez ruir teus mapas, minhas geografias
a noite fez ruir teus idílios, minhas fantasias
a noite fez ruir teus sinais, minhas idolatrias
a noite fez ruir teu alfabeto, minha idiossincrasia
a noite fez ruir o silêncio, o girassol, o moinho de vento,
a atônita sinfonia, os florais de bach, a orelha de van gogh,
o adagio de mahler, o quinto, o sexto e o sétimo selo,
toda a cavalaria e meus alamares
a noite fez ruir minha repetição, a medíocre poesia,
o último trago do cigarro, aquela cena de cinema,
binoche, deneuve, delon,
o salvador, a memória e as insígnias do tempo,
a pasárgada, o bandeira, a sentinela,
o vizinho, o cravo nos dentes,
o inútil bem querer que insisto em outorgar
quarta-feira, 17 de agosto de 2011
678 - poema para ruir os últimos moinhos de vento
a índole da palavra viceja em órbita
salta aos olhos a cada parágrafo
a cada pausa
é preciso colher as intempéries
no risco, no riso, na alegoria
projetar de silencio a imagem
a cada desatino
sussurrar o alfabeto de espanto
quem sabe o poema nasça
com esse viço de elevação
quem sabe o vício enlace
esse fluir de regato na alma
salta aos olhos a cada parágrafo
a cada pausa
é preciso colher as intempéries
no risco, no riso, na alegoria
projetar de silencio a imagem
a cada desatino
sussurrar o alfabeto de espanto
quem sabe o poema nasça
com esse viço de elevação
quem sabe o vício enlace
esse fluir de regato na alma
terça-feira, 16 de agosto de 2011
677 - récita alegórica para ermo, grade e jardim abandonado
Canso-me deste enternecimento das violetas
Agatea, leonia, mayanaea, isodendron, viola
Tão sensíveis na desoladora procura por ar
Logo eu que afoito no passo vivo a arquejar
E os olhos cansados debruçam-se púrpura
E a mão há muito não colhe senão ausência
Canso-me deste enternecimento das violetas
Como me cansam paisagens pejadas de sol
Caiu-me a noite em madrugada sem floração
Agatea, leonia, mayanaea, isodendron, viola
Tão sensíveis na desoladora procura por ar
Logo eu que afoito no passo vivo a arquejar
E os olhos cansados debruçam-se púrpura
E a mão há muito não colhe senão ausência
Canso-me deste enternecimento das violetas
Como me cansam paisagens pejadas de sol
Caiu-me a noite em madrugada sem floração
segunda-feira, 15 de agosto de 2011
676 - poema para a alegria de Bach e floração de Vincent
quando eu era menino e ouvia bach
havia jesus na alegria dos homens
depois eu adulto, só e desencontrado
caem-me as tintas de tosco entardecer
perambulo no esquecimento desperto
procuro a orelha esquerda neste trigal
van gogh se aproxima com os pincéis
breve teceremos cantata de girassóis
havia jesus na alegria dos homens
depois eu adulto, só e desencontrado
caem-me as tintas de tosco entardecer
perambulo no esquecimento desperto
procuro a orelha esquerda neste trigal
van gogh se aproxima com os pincéis
breve teceremos cantata de girassóis
domingo, 14 de agosto de 2011
675 - poema desencontrado para gioconda ao arrebol
caiu-me o poema em ventania
eu que de ladainhas me repito
quero acoitar-me nos desvãos
encontrar a récita para assalto
e tirar verso do encantamento
que se desnuda no cílio casto
na linha dúbia deste entardecer
eu que de ladainhas me repito
quero acoitar-me nos desvãos
encontrar a récita para assalto
e tirar verso do encantamento
que se desnuda no cílio casto
na linha dúbia deste entardecer
sábado, 13 de agosto de 2011
674 - ária de contralto sobre desolador cello de Barber
Deram de florescer magras petúnias em meu olhar
Ficaram róseas as retinas na paisagem umedecida
Parece que as mãos calosas de um deus petrificou
A tua imagem nuvem no céu caudaloso de agosto
Não me cansa carpir sobre o ermo que é a espera
Infinda prece que se abriga de silencio no alpendre
Ficaram róseas as retinas na paisagem umedecida
Parece que as mãos calosas de um deus petrificou
A tua imagem nuvem no céu caudaloso de agosto
Não me cansa carpir sobre o ermo que é a espera
Infinda prece que se abriga de silencio no alpendre
sexta-feira, 12 de agosto de 2011
673 - rapsódia para quando ventarem os girassóis de agosto
depois que ela se foi com as intempéries de agosto
eu fiquei com esta face em desalinho: os pés atados
caminho sobre pedras como se em lanças afagasse
tenho dito as cotovias que nenhum canto nos salva
mas elas insistem e eu fico atônito entre sustenidos
outro dia lagartos deram de açoitar versos e estrofes
queriam o sabor das auroras em germinação estéril
depois que ela se foi com as intempéries de agosto
meus instintos se arvoraram em verbo ensandecido
eu fiquei com esta face em desalinho: os pés atados
caminho sobre pedras como se em lanças afagasse
tenho dito as cotovias que nenhum canto nos salva
mas elas insistem e eu fico atônito entre sustenidos
outro dia lagartos deram de açoitar versos e estrofes
queriam o sabor das auroras em germinação estéril
depois que ela se foi com as intempéries de agosto
meus instintos se arvoraram em verbo ensandecido
quinta-feira, 11 de agosto de 2011
672 - variação para cello e oboé em agreste rapsódia
tão sutil o visgo dessa sede
seiva que escorre em lábios
eu querendo florir a tua pele
voce esquiva em pas de deux
aprendiz estágio de purificação
corpo em sublimação de altura
não fosse o casulo que me cala
não fosse desatino ao derredor
seiva que escorre em lábios
eu querendo florir a tua pele
voce esquiva em pas de deux
aprendiz estágio de purificação
corpo em sublimação de altura
não fosse o casulo que me cala
não fosse desatino ao derredor
quarta-feira, 10 de agosto de 2011
671 - Cantata em rito para novena de sete noites
é preciso acolher tempo e silencio
sou rio nessa empreitada de mar
e os olhos deram de acender nuvens
vejo girassóis em abóbadas e auroras
assim me alimento de contemplação
mesmo vazio pesam-me as algibeiras
deve ser o estranhamento que carrego
sou rio nessa empreitada de mar
e os olhos deram de acender nuvens
vejo girassóis em abóbadas e auroras
assim me alimento de contemplação
mesmo vazio pesam-me as algibeiras
deve ser o estranhamento que carrego
terça-feira, 9 de agosto de 2011
670 - rapsódia de alumbramento para gioconda ao arrebol
seria imperioso que os teus olhos passassem
com esse jeito desconexo de fitar o desalinho
como se a coisa mirada estivesse embebida
numa aura de equidade entre os hemisférios
seria imperioso que os teus olhos filtrassem
a maresia que contamina o espelho do asfalto
reflexo de rotas e extravios, obituário de sais
e ficassem no lusco-fusco que atrai mariposas
seria imperioso que os teus olhos declinassem
de toda a singeleza que envolve as cartografias
e de repente altiplanos, horizontes e metáforas
fossem apenas precípuo para o alumbramento
com esse jeito desconexo de fitar o desalinho
como se a coisa mirada estivesse embebida
numa aura de equidade entre os hemisférios
seria imperioso que os teus olhos filtrassem
a maresia que contamina o espelho do asfalto
reflexo de rotas e extravios, obituário de sais
e ficassem no lusco-fusco que atrai mariposas
seria imperioso que os teus olhos declinassem
de toda a singeleza que envolve as cartografias
e de repente altiplanos, horizontes e metáforas
fossem apenas precípuo para o alumbramento
segunda-feira, 8 de agosto de 2011
669 - rapsódia incômoda para extravio e embaraço
algum tempo acreditei na pele como atavio
e que a têmpera dos anos fosse delineando
o descaminho que flora na carne os sentidos
mas sob o impacto dessa chaga que me arde
diviso a luz que trespassa os corpos em sede
sei que a aurora fenece sem alarde e encanto
hoje tenho as mãos enredadas em solilóquio
nenhuma sombra acompanha-me de acalanto
nenhum canto suprime a inutilidade do existir
e que a têmpera dos anos fosse delineando
o descaminho que flora na carne os sentidos
mas sob o impacto dessa chaga que me arde
diviso a luz que trespassa os corpos em sede
sei que a aurora fenece sem alarde e encanto
hoje tenho as mãos enredadas em solilóquio
nenhuma sombra acompanha-me de acalanto
nenhum canto suprime a inutilidade do existir
domingo, 7 de agosto de 2011
668 - rapsódia desencontrada para estados químicos dos corpos
não guardei os caminhos que me trilhaste
mas as intempéries trago-as triste
o sol em destempero neste agosto
esta vontade de lua cheia
acende lume nos invertebrados
cada toque arisca a pele em chagas
tu não me ensinaste apascentar a chama
queimam-me os sóis em querelas
nem os peixes se refrigeram em líquido
mas as intempéries trago-as triste
o sol em destempero neste agosto
esta vontade de lua cheia
acende lume nos invertebrados
cada toque arisca a pele em chagas
tu não me ensinaste apascentar a chama
queimam-me os sóis em querelas
nem os peixes se refrigeram em líquido
sábado, 6 de agosto de 2011
667 - metaplágio para tempestades de início do verão
acaso tu sabes dos percalços
que imantas em meus olhos
quando desavisada
irrompes neste silencio
e todo o mundo se concentra
no achado das tuas mãos
e todas as órbitas
giram desencontradas
e eu no mais fundo sacrilégio
mergulho em prece
neste infindo precipício
de línguas, bocas e peles
que imantas em meus olhos
quando desavisada
irrompes neste silencio
e todo o mundo se concentra
no achado das tuas mãos
e todas as órbitas
giram desencontradas
e eu no mais fundo sacrilégio
mergulho em prece
neste infindo precipício
de línguas, bocas e peles
sexta-feira, 5 de agosto de 2011
666 - metapoema assustado à guisa de portos cardeais
ao oeste do que me vive
comove o verso que leste
és meu norte por todo sul
mesmo em sol quando suo
intuo de arroubo o sumo
da palavra atada ao cais
para subverter da sílaba
vértebra nua em voo cego
* A Dani me fez feliz oferenda aqui
comove o verso que leste
és meu norte por todo sul
mesmo em sol quando suo
intuo de arroubo o sumo
da palavra atada ao cais
para subverter da sílaba
vértebra nua em voo cego
* A Dani me fez feliz oferenda aqui
quinta-feira, 4 de agosto de 2011
665 - prosa rasa para rútilo cintilar
a poesia escoiceia a didática
obcecada pela ânsia do espanto
ruge aos sentidos em oferenda
para fluir trôpega na vertigem
lamber os parágrafos da língua
improvisar um rito de assombro
saciar assim o céu de elevação
obcecada pela ânsia do espanto
ruge aos sentidos em oferenda
para fluir trôpega na vertigem
lamber os parágrafos da língua
improvisar um rito de assombro
saciar assim o céu de elevação
quarta-feira, 3 de agosto de 2011
664 - estudo para étimo consoante aboio na caatinga
por pura assepsia retiro a palavra estéril
deste dicionário idiossincrático que velo
como velam o cuspe sonoras carpideiras
como os velhos velam o tempo da espera
também seria a palavra reverencia retirada
por pura simbologia ao dicionário que velo
como velam as árvores na paisagem tardia
como os ventos imolam o casco do navio
seria de bom alvitre por fastio em retirada
pelo que se denota a acepção da palavra
numa espécie de cansaço, fadiga, afronta
numa inércia que deixa repousar o volátil
deste dicionário que velo o silencio bastaria
como flecha para atingir todos os sentidos
como manto para tingir o véu de toda face
como um acalanto para tanger o intangível
*Bate-papo comigo no blog do Gustavo
deste dicionário idiossincrático que velo
como velam o cuspe sonoras carpideiras
como os velhos velam o tempo da espera
também seria a palavra reverencia retirada
por pura simbologia ao dicionário que velo
como velam as árvores na paisagem tardia
como os ventos imolam o casco do navio
seria de bom alvitre por fastio em retirada
pelo que se denota a acepção da palavra
numa espécie de cansaço, fadiga, afronta
numa inércia que deixa repousar o volátil
deste dicionário que velo o silencio bastaria
como flecha para atingir todos os sentidos
como manto para tingir o véu de toda face
como um acalanto para tanger o intangível
*Bate-papo comigo no blog do Gustavo
terça-feira, 2 de agosto de 2011
663 - repentino ávido para lumes do arrebol
há um assombro de impaciência
sob a tênue luz dos vagalumes
quando teus passos se deslocam
e fito fixo esse espelho que me és
destino inexorável, risco de tristeza
sob a tênue luz dos vagalumes
quando teus passos se deslocam
e fito fixo esse espelho que me és
destino inexorável, risco de tristeza
segunda-feira, 1 de agosto de 2011
662 - repentino casto para amoras, violas e oboés
para decompor-se
em fidalguia no teu olhar
urge a aurora de assombros
anuncia-se o sobressalto de luz
o jasmim refrigera-se no orvalho
enquanto do outro lado da moeda
acena-me o infortúnio das tuas mãos
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