sábado, 27 de março de 2010

166 - Poema das descobertas

I
Pássaros voavam debaixo daquele vestido
E eu investido de arapucas tentava em vão
II
As moças com flor de tamarindo
Tem sabor que intumesce lábios
III
Na volta que a curva faz na esquina
Tem a praça, a amendoeira, o banco
E a fugacidade de algumas palavras
IV
Três ou quatro coisas ficaram na lembrança
O que muito se perdeu, não dói por ausência
Mas castiga e atormenta como uma renúncia
V
As pescarias de domingo eram o vício mais alegre
Cheias de viço, visgo e vigor de uma súbita revoada
VI
dona menina fingia-se em algumas intimidades
que gostava de insinuar até me ver extenuado
VII
Coisa mais divertida o espiar pelas gretas
era sempre o refazer do susto revelando-se
VIII
Quando ela foi embora, não apaguei a luz
Fiquei insone com esse fardo de palavras
Que não consigo dar conta pronunciá-las.

11 comentários:

Sueli Maia (Mai) disse...

Gotas de saber. Meus olhos sorriram.
Nesta série a revelação e o conhecimento escorrem entre os dedos. Uma linguagem bela, atrevida, sagaz, audaz e vão-se todos os adjetivos...Você é raro como os bons perfumes, Assis.
cheiros e aplausos.
Muita admiração

Sueli Maia (Mai) disse...

Desde o primeiro até o oitavo, as imagens instantâneas, modularam a minha expressão.
Já reli três vezes. O riso vem naturalmente e quando é o caso, me pego circunspecta e atenta.
Mas um pensamento me acompanha do início ao fim.
Você esborra, transborda, inunda-nos de poesia.
...
meus olhos ainda brilham.

Zélia Guardiano disse...

Lindíssimo, meu querido!Isto sim é poesia! Daquelas que fazem bem ao espírito.
"Fiquei insone com esse fardo de palavras"...
Sou sua fã de carteirinha...
Um abraço

nina rizzi disse...

assis, to correndo, passei aqui pra me... me.
eu vou nimprimir isso e ler e reler lá em casa.
cheiro cansado.

líria porto disse...

nossa - um salto após o outro!!!
besos

Jorge Pimenta disse...

Quando li o título, imaginei as descobertas lusas que correram os quatro cantos do mundo, no tempo em que a audácia e o aventureirismo nos corriam no sangue... Pois, a epifania lusa não se confirmou, mas a sequência de imagens femininas, numa linguagem sensitivo-audaz, é, em si mesma, uma revelação.

Um abraço!

Anônimo disse...

Poeta dos sentidos, vc me tocou com o seu comentário-poema lá no Maria Clara.

Beijo =).

Gerana Damulakis disse...

ADOREI, assim mesmo em Caps Lock.

nydia bonetti disse...

O que muito se perdeu sempre dói... A vida é uma eterna descoberta. Beleza de poema! Beijo, bom domingo!

Lou Vilela disse...

Belo instantâneo, meu caro!

Beijos

... disse...

Os poemas descobertos são
passagens de imagens no tempo.
A grandeza está no
além da palavra -
no que não é dito.

Abraços,
mR.