quarta-feira, 5 de maio de 2010

205 - canção de mais outono


em algum lugar ouve-se a voz
e nunca lugar houve a ouvir-se
senão como coração a pulsar
a evadir-se sem mar e solução

em algum lugar repito a canção
e repilo os ombros que amparam
mas ensombrecem a paisagem
e busco mãos como se fora luz

os deuses tecem a sua urdidura
e baloiço meus vestígios pela rua
algum lugar dobra-se em esquina
e reconstrói o arco-íris do amanhã

13 comentários:

Sueli Maia (Mai) disse...

E quedo-me em silêncio e sal.
Coisa de estourar um coração.

um beijo, POETA!

Sueli Maia (Mai) disse...

Em algum lugar entre a terra e o céu, você, a poesia e essa canção.

Meu Deus! Benditas palavras e mãos.
li,relí, trilí e é incrível, é como plasmar como um corpo, um poema, de uma garganta, o silêncio de um interior.

nina rizzi disse...

alguns poemas eu preciso ler e ler e ler muitas vezes. mas não é só a dslexia. aqui há uma aparente contradição no segundo e quarto versos da segunda estrofe... mas isso também nada tem a ver os meus deuses.

então eu escorrego até seu último verso.

beijos.

nina rizzi disse...

retificando meu comentário anterior que pode ter ficado obscuro: a APARENTE contradição do versos citados... os torna ainda mais belos, por serem humanos. humanos dúbios a se buscar no seu último verso: o pote de ouro no final do arco-íris.

outro beijo.

Tania regina Contreiras disse...

Li e vi com os olhos do tato, do rastro que o bordado deixou na pele: e amei!

Abraços,
Tânia

Marcantonio disse...

Canção dolente.Mas na vida não há senão contradições e antinomias. Eventos-esquinas nessa urdidura de linhas irregulares. E esse renascimento de um arco-íris, ora transbordante de cores,ora em matizes rebaixados e pálidos.

Poema tocante.

Abração.

Anônimo disse...

Depois de ler isso, dobro-me e não viro esquina, não vejo meu canto, mas dou a volta no seu mundo poético e volto. Não gosto de voltar... Mas amanhã tem mais =).

Abraço.

Zélia Guardiano disse...

"e baloiço meus vestígios pela rua"...
Ai, vontade de fazer um verso assim...rs...
Lindíssimo, Assis!

Um grande abraço!

Jorge Pimenta disse...

"os deuses tecem a sua urdidura
e baloiço meus vestígios pela rua"
enquanto os deuses tecem a teia, resta-nos, mortais, baloiçar as pequenas imperfeições à esquina do julgamento definitivo das vozes soberanas. viva o erro! viva a mácula! viva aquilo que nos torna homens! (suspeito que os deuses estejam já a dormir...)
um abraço, Assis!

líria porto disse...

leio-te e considero - a sorte é minha! besos

Insana disse...

Vou pintar um arco-íris, para poder ter um amanha..

Bjs
Insana

Gerana Damulakis disse...

"algum lugar dobra-se em esquina
e reconstrói o arco-íris do amanhã": o poema está todo aí nesses 2 versos maravilhosos.

Lou Vilela disse...

Sim... algum lugar...

Bjs