Para as noites que adormeço teu sonho
Velando o sono que irradias sossegada
Com este véu de inocencia em tua face
O branco corpo em elegante desalinho
Para as mãos crispadas sobre os lençóis
A colher em concha tão incessante vazio
Sopram migalhas do ser por entre lábios
Que eu me regozijo nesta vigília de fauno
domingo, 31 de outubro de 2010
sábado, 30 de outubro de 2010
383 - Sob a secreta linguagem da madrugada II
Era ainda alvo o caminho cego
A correr desatino de sal e ruas
Na fronte de tantos chamados
Louros os cabelos ao derredor
Com as luzes piscando atonitas
Nessa louca míriade de olhares
Tudo vinha em pedras e asfalto
Na pele luzidia dos automóveis
Nos deuses dançarinos do sinal
Na fileira dos cães da marquise
Entrelaçados nos cheiros do cio
Na vacancia de setas ou sentido
Na silhueta poética das sombras
Traçadas por espirais de fumaça
No coito ágil apressado no beco
O desatento balé dos transeuntes
Na calma onda do mar que sorve
As lágrimas desse tosco orgasmo
A correr desatino de sal e ruas
Na fronte de tantos chamados
Louros os cabelos ao derredor
Com as luzes piscando atonitas
Nessa louca míriade de olhares
Tudo vinha em pedras e asfalto
Na pele luzidia dos automóveis
Nos deuses dançarinos do sinal
Na fileira dos cães da marquise
Entrelaçados nos cheiros do cio
Na vacancia de setas ou sentido
Na silhueta poética das sombras
Traçadas por espirais de fumaça
No coito ágil apressado no beco
O desatento balé dos transeuntes
Na calma onda do mar que sorve
As lágrimas desse tosco orgasmo
sexta-feira, 29 de outubro de 2010
382 - Para um guia de amantes descuidados
Havia um rio seco debruçado nos teus cios
Um caminho de pedras lancinantes e de ais
Um soçobrar de imagens em tão fútil regaço
O afogar de margens a cada lado da concha
Que nenhuma correnteza atrevia atravessar
Um caminho de pedras lancinantes e de ais
Um soçobrar de imagens em tão fútil regaço
O afogar de margens a cada lado da concha
Que nenhuma correnteza atrevia atravessar
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
381 - Poema para espanto de menino no colo da manhã
No brilho da varanda cães pastoreavam o alvorecer
A vida vinha vindo de mansinho em flores e orvalho
Era quando madrepérolas interrogavam o horizonte
E eu fitava desatinado a existência que sorria no peito
quarta-feira, 27 de outubro de 2010
terça-feira, 26 de outubro de 2010
379 - improviso contra as marés e tempestades
não concebo mais noite entre teus sóis
tu que de claridades intensas me fitas
tu que resolveste adiantar-se aos faróis
ser rota incandescente nessa avalanche
não concebo a noite na lamina, no corte,
na imagem reticente de todos os corpos
na lágrima que purifica de suor os poros
na fria decomposição deste mar de sede
ar febril que assola retinas empertigadas
e dá forma de vazio ao abraço do silencio
tu que de claridades intensas me fitas
tu que resolveste adiantar-se aos faróis
ser rota incandescente nessa avalanche
não concebo a noite na lamina, no corte,
na imagem reticente de todos os corpos
na lágrima que purifica de suor os poros
na fria decomposição deste mar de sede
ar febril que assola retinas empertigadas
e dá forma de vazio ao abraço do silencio
segunda-feira, 25 de outubro de 2010
378 - Poema sobre um campo de origamis
p/ Mai
Enquanto dobravas os papéis
E com eles recortavas o horizonte
E tecias uma fina rede de sombras
O tempo dobrava os seus sinos
Clamava a liberdade dos olhares
Refazia a íngreme caminhada
E sobravam gestos e dobrados
Para a festa de crianças na varanda
P. S. O campo de origamis da Mai está aqui.
Enquanto dobravas os papéis
E com eles recortavas o horizonte
E tecias uma fina rede de sombras
O tempo dobrava os seus sinos
Clamava a liberdade dos olhares
Refazia a íngreme caminhada
E sobravam gestos e dobrados
Para a festa de crianças na varanda
P. S. O campo de origamis da Mai está aqui.
domingo, 24 de outubro de 2010
377 - Sobre a genealogia das pedras e dos silencios
A pedra pousa no quintal a sua solene curvatura
Exala o anseio de chão e sobre o dorso crescem
O limo e o musgo de toda uma existencia
Espaço de espanto encantado
Onde dormem lesmas e silencios
sábado, 23 de outubro de 2010
376 - Poema para um silencio e a tua brincadeira
Eu esqueci de dizer que queria.
Apontei, fiz o gesto para depois.
Voce respondeu que sim.
Eu achei que o tempo esperaria.
E assim ficamos.
Apontei, fiz o gesto para depois.
Voce respondeu que sim.
Eu achei que o tempo esperaria.
E assim ficamos.
sexta-feira, 22 de outubro de 2010
375 - poema para todos os batismos
na noite que mascavas inocencias
eu me recostei sobre teus cheiros
exalavas a mocidade dos sorrisos
e tinhas nos gestos o açoite do viço
na noite que mascavas inocencias
eu percebi tuas saliencias de moça
os contornos sinuosos dos silencios
e o gosto que permanece no depois
eu me recostei sobre teus cheiros
exalavas a mocidade dos sorrisos
e tinhas nos gestos o açoite do viço
na noite que mascavas inocencias
eu percebi tuas saliencias de moça
os contornos sinuosos dos silencios
e o gosto que permanece no depois
quinta-feira, 21 de outubro de 2010
374 - um quase poema para Tonio e Inge
A moça tinha sobrancelhas alvas e uns lábios recortados de azul.
Às vezes o sol vinha e brincava em seu corpo.
Ela, então, se misturava a água e parecia renascida de luz.
Seu olhar não se fixava em nenhum ponto, bailava.
Soprava uma brisa tão antiga que eu nunca mais quis me enternecer.
Às vezes o sol vinha e brincava em seu corpo.
Ela, então, se misturava a água e parecia renascida de luz.
Seu olhar não se fixava em nenhum ponto, bailava.
Soprava uma brisa tão antiga que eu nunca mais quis me enternecer.
quarta-feira, 20 de outubro de 2010
373 - concerto para a súbita rajada de vento
do rosto hirsuto
cai-me o dilúvio
de pesares
eu nada sinto
neste anódino
e vão levitar
invento sombra
e deslizo ágil
em gesto mudo
cai-me o dilúvio
de pesares
eu nada sinto
neste anódino
e vão levitar
invento sombra
e deslizo ágil
em gesto mudo
terça-feira, 19 de outubro de 2010
372 - Balada de repentina claridade
subitamente teu gesto acordara
o silencio de todos os crepúsculos
acendera a cólera dos jasmins
inaugurando rios e correntezas
nesse íngreme degrau do tempo
cristalizado no áspero vão do agora
o silencio de todos os crepúsculos
acendera a cólera dos jasmins
inaugurando rios e correntezas
nesse íngreme degrau do tempo
cristalizado no áspero vão do agora
segunda-feira, 18 de outubro de 2010
371 - Poema já um tanto envelhecido
não me peça retorno
pois ando desatado em sapiência
corro e me comovo entre as tilápias
que bailam em torno dos anzóis
breve um arco-íris vem me buscar
e eu não quero despedidas
basta este sereno na pele encardida
basta esta régua no horizonte
este raio ensandecido de solidão
pois ando desatado em sapiência
corro e me comovo entre as tilápias
que bailam em torno dos anzóis
breve um arco-íris vem me buscar
e eu não quero despedidas
basta este sereno na pele encardida
basta esta régua no horizonte
este raio ensandecido de solidão
domingo, 17 de outubro de 2010
370 - fantasia para areia, quebra-mar e horizonte
é da natureza dos cristais o singelo
o laço de seda na pele nos jasmins
o eflúvio das horas nos lagartos
a desobediência civil nas árvores
a incontinência em arroios e regatos
a beligerância nos mares e oceanos
o pálido nos meninos esquecidos
o infortúnio nas cercas de estrada
o amor é da natureza das nuvens
como o ócio é da natureza da pedra
não é natureza a poesia nem o poeta
nem o canto,
nem o verso,
nem a rima
nem a (maldita) palavra
o laço de seda na pele nos jasmins
o eflúvio das horas nos lagartos
a desobediência civil nas árvores
a incontinência em arroios e regatos
a beligerância nos mares e oceanos
o pálido nos meninos esquecidos
o infortúnio nas cercas de estrada
o amor é da natureza das nuvens
como o ócio é da natureza da pedra
não é natureza a poesia nem o poeta
nem o canto,
nem o verso,
nem a rima
nem a (maldita) palavra
sábado, 16 de outubro de 2010
369 - poema de arroio e lagarto
não sei o que dizer quando irrompes
em sentimentos liquidos e anseios
julgando a caligrafia dos meus lábios
por tantas linhas evasivas e solitárias
são tantas interrogações que me deixas
invocando-me um súbito luzir de estrelas
que me recolho aos olhares e soslaios
e deixo a chuva florir os teus desígnios
em sentimentos liquidos e anseios
julgando a caligrafia dos meus lábios
por tantas linhas evasivas e solitárias
são tantas interrogações que me deixas
invocando-me um súbito luzir de estrelas
que me recolho aos olhares e soslaios
e deixo a chuva florir os teus desígnios
sexta-feira, 15 de outubro de 2010
368 - Noturno para os teus caninos II
Como onda soberana carrego
A flor secreta do nosso abismo:
a solidão da palavra em tua boca
quinta-feira, 14 de outubro de 2010
367 - Balada para a Nona e outras sinfonias
Quando derrubaram o muro de Berlim
Eu já desacreditava todas as certezas
Mas pulsava a ode a Alegria bradando
Teus encantos unem novamente
Todos os homens se irmanam
E eu me vi paralisado na frente da TV
Tinha meu filho nos braços
E uma vida ainda a cumprir
Minha angústia ficou tão mínima
Que resolvi apenas agradecer
A fortuna de Schiller
Eu já desacreditava todas as certezas
Mas pulsava a ode a Alegria bradando
Teus encantos unem novamente
Todos os homens se irmanam
E eu me vi paralisado na frente da TV
Tinha meu filho nos braços
E uma vida ainda a cumprir
Minha angústia ficou tão mínima
Que resolvi apenas agradecer
A fortuna de Schiller
quarta-feira, 13 de outubro de 2010
366 - poema em oito movimentos sem captura
Passo a passo a imensidão
Desemboca no mar de algaravia
Caos de todos os sentidos
Surto de cores que assusta
A claridade que emana da alvenaria
E faz do silencio a tosca verdade
Passo a passo a imensidão
Deforma o labirinto da existência
Como um cão escava a terra
Como a larva consome a casca
E quer explodir em outra dimensão
Na ordem de uma ilusão predestinada
Passo a passo a imensidão
Produz os augúrios, os dissabores,
O ócio que corrói desde a raiz
Instaura o dilúvio que consome a terra
Com cinza e lava do mesmo Vesúvio
Que irrompe em primitivos ecos
Passo a passo a imensidão
Põe as interrogações em xeque
Precipita em faíscas todo este amanhã
Assombra as dobras de todos os olhares
E não oferece senão as desídias
Aos reis e rainhas neste inocente tabuleiro
Desemboca no mar de algaravia
Caos de todos os sentidos
Surto de cores que assusta
A claridade que emana da alvenaria
E faz do silencio a tosca verdade
Passo a passo a imensidão
Deforma o labirinto da existência
Como um cão escava a terra
Como a larva consome a casca
E quer explodir em outra dimensão
Na ordem de uma ilusão predestinada
Passo a passo a imensidão
Produz os augúrios, os dissabores,
O ócio que corrói desde a raiz
Instaura o dilúvio que consome a terra
Com cinza e lava do mesmo Vesúvio
Que irrompe em primitivos ecos
Passo a passo a imensidão
Põe as interrogações em xeque
Precipita em faíscas todo este amanhã
Assombra as dobras de todos os olhares
E não oferece senão as desídias
Aos reis e rainhas neste inocente tabuleiro
terça-feira, 12 de outubro de 2010
365 - Balada para a Nona e outras sinfonias (scherzo)
Caminho entre pares que não vejo
Há demais auto-suficiência nas palavras
Ferem cristais, desabotoam corações
Mesmo diante do espelho estamos rotos
Nada aviva a face de tantos transtornos
Repetimos preces, odes e nostalgias
Este mar que invade a avenida é silêncio
Vindo de ancestrais paragens, evoé grito
Vamos afugentar os corcéis desta solidão
Há demais auto-suficiência nas palavras
Ferem cristais, desabotoam corações
Mesmo diante do espelho estamos rotos
Nada aviva a face de tantos transtornos
Repetimos preces, odes e nostalgias
Este mar que invade a avenida é silêncio
Vindo de ancestrais paragens, evoé grito
Vamos afugentar os corcéis desta solidão
segunda-feira, 11 de outubro de 2010
364 - noções de vocabulário e desencontro
eu me encontrei com as palavras encabulado
nunca evoluí de seus mistérios
sempre fui poeira de sandália de arrasto
e quanto perguntado espargia imaginação
via as dores, consumia os fatos
- na peripécia dos versos faço artesanato -
nunca evoluí de seus mistérios
sempre fui poeira de sandália de arrasto
e quanto perguntado espargia imaginação
via as dores, consumia os fatos
- na peripécia dos versos faço artesanato -
domingo, 10 de outubro de 2010
363 - sobre o visgo no laço do teu abraço
por ele me desvio de tortos desalinhos
invoco o pretérito de todos os ocasos
por ele saio do casulo dos acasos
e fico pregado como palavra
fisgada no branco da página
invoco o pretérito de todos os ocasos
por ele saio do casulo dos acasos
e fico pregado como palavra
fisgada no branco da página
sábado, 9 de outubro de 2010
362 - noturno para os teus caninos
a noite desdenha do meu caminhar
por isso põe calçadas neste deserto
faz rol de estrelas a vincar-me os passos
enquanto sigo crucificado de mansa luz
sexta-feira, 8 de outubro de 2010
361 - Balada da mais pura alma portuguesa
O saber a nada contenta
a não ser em equilíbrio
diz-me o verso do poeta
de tão sublime linhagem
infortunada ave desse existir
que de falhas se torna imenso
que de tormento baila intenso
se pondo corda para sem fim
espelhos de tanta recusa
velas de tão triste alvitre
que posso querer neste eu
que só queda nu, frio e triste
O poema amigo da Dade me foi ofertado hoje, aqui
a não ser em equilíbrio
diz-me o verso do poeta
de tão sublime linhagem
infortunada ave desse existir
que de falhas se torna imenso
que de tormento baila intenso
se pondo corda para sem fim
espelhos de tanta recusa
velas de tão triste alvitre
que posso querer neste eu
que só queda nu, frio e triste
O poema amigo da Dade me foi ofertado hoje, aqui
quinta-feira, 7 de outubro de 2010
360 - poema de inútil ventania II
fita o deserto que espelha o céu
ouve e contempla
observa a aurora, o arrebol
depois caminha languidamente
até se dissolver em lenta sombra
para que eu possa finalmente
constatar o arrepio desta brisa
deste ontem que não cessa
e dar descanso aos olhos
- ao peito que arde -
ouve e contempla
observa a aurora, o arrebol
depois caminha languidamente
até se dissolver em lenta sombra
para que eu possa finalmente
constatar o arrepio desta brisa
deste ontem que não cessa
e dar descanso aos olhos
- ao peito que arde -
quarta-feira, 6 de outubro de 2010
359 - poema de inútil ventania
nada do que posso negar
cala-me mais fundo
do que esta inútil ventania
sempre ao despertar
quando recolho escombros
e ponho o rosto a secar
são tão súbitos segundos
de tão insistente naufrágio
que entorpecem em maresia
nada do que posso negar
mesmo a inútil ventania
se dissipa com mágoa e água
cala-me mais fundo
do que esta inútil ventania
sempre ao despertar
quando recolho escombros
e ponho o rosto a secar
são tão súbitos segundos
de tão insistente naufrágio
que entorpecem em maresia
nada do que posso negar
mesmo a inútil ventania
se dissipa com mágoa e água
terça-feira, 5 de outubro de 2010
358 - Quadra à moda antiga e ancestral
A luz rasgou-me o peito em oferenda
Expôs o que nada havia mais de ti
Mas mesmo neste território de ausência
Cresce o augúrio, o desterro, a dor
Expôs o que nada havia mais de ti
Mas mesmo neste território de ausência
Cresce o augúrio, o desterro, a dor
segunda-feira, 4 de outubro de 2010
357 - improviso sobre aquele poema que não te dei
ao te ver em velas, velo
o torpe desvelo, novelo
em que se tece, esquece
a dor e o desvario, rio
desse fruto tosco, mordo
e afino migalhas, guitarra
de tão línea fibra, retina
largamente em ilhas, sina
a cada verso findo, minto
e a ti flor prometida, linda
recorda-me o destino, tino
sobraçar o vazio, principio
o torpe desvelo, novelo
em que se tece, esquece
a dor e o desvario, rio
desse fruto tosco, mordo
e afino migalhas, guitarra
de tão línea fibra, retina
largamente em ilhas, sina
a cada verso findo, minto
e a ti flor prometida, linda
recorda-me o destino, tino
sobraçar o vazio, principio
domingo, 3 de outubro de 2010
sábado, 2 de outubro de 2010
355 - Mínimas variações sobre o rapto da donzela em flor
Eu que vi campanários
E construí arrebol todo azul
Para acolher as sedas deste olhar
Agora me vejo neste sortilégio
Entre as águas que me pejam
Todo o coração, e a estrada que
Lancina montaria e cavaleiro
E construí arrebol todo azul
Para acolher as sedas deste olhar
Agora me vejo neste sortilégio
Entre as águas que me pejam
Todo o coração, e a estrada que
Lancina montaria e cavaleiro
sexta-feira, 1 de outubro de 2010
354 - recado colado ao pingüim da geladeira
eu continuo por aqui
lendo as tuas coisas
sem ser sutil
parto é o presente
do verbo partir
ou simplesmente parir
lendo as tuas coisas
sem ser sutil
parto é o presente
do verbo partir
ou simplesmente parir
Assinar:
Postagens (Atom)