Observo atentamente os vestígios
A existência deixa seus rastros
A sobra da maquilagem esquecida
O leve inclinar do corpo ao passo
A resistência dos lábios disformes
Cada batida no coração destronado
O inefável declínio de pele e ossos
O canto da cotovia assustada
O irremovível papel de parede
As cinzas do cigarro inacabado
O repouso da mão sobre o colo
O perene vento a esparramar-se
O fogo que atiça a longa noite
A proeminência das horas
A sede, o fastio, a flor na lapela
A intromissão dos fatos proibidos
A memória, o retrato, a página
O lento despertar para a alvorada
O que nunca cede, o que nunca fala
A constatação inóspita da inutilidade
11 comentários:
Olá Assis!
Linda poesia! Todos os versos compostos com maestria! São coisas da vida e às vezes precisamos viver uma vida inteira para nos dar conta disso. Parabéns pelo post!
Abraço,
Thiago
Diario dos sentimentos e da paz interior,,,ou, a busca por ela...um belo dia de Natal pra ti amigo...abraços.
Sentimentos e pensamentos tomados pelo vazio podem brilhar e resplandecer em novas alvoradas...
Feliz Natal!
Um beijo!
ASSIS!
Aquele que nunca cede, o que nunca fala, é a própria constatação inóspita!
Maravilha!
Beijos, poeta MIL!
Mirze
Mas viva a inutilidade da poesia!!
Grande abraço, poeta!
^^
Cada verso é um poema!
Maravilha, Assis...
Seus versos ecoam na blogosfera... e eu venho insistentemente aqui pegar o tom.
Um beijo carinhoso, poeta, que verseja sabiamente.
Profundo e melancólico arrolamento de imagens que ficam suspensas entre o extravio definitivo de algo e sua perenidade como memória. Registros, recortes para formar o painel impossível de uma passagem distinta. Como uma câmera que que vai mostrando lentamente os objetos do quarto de alguém que já se foi.
Abração, Assis.
... e tudo isso que nos toca, mobiliza quase sem percebermos e coabita nossas pobres cabeças mortais...
Beijo beijo.
Poema/diário de "profunda profundidade", poeta. A começar pelo primeiro verso. Me encanto ao ler a palavra "vestígios".
Admiro essa palavra.Acho-a forte. Vestígio, pra mim, é ranço, lastro...
Parabéns, poeta.
Beijo
Vou me atualizando, aos poucos,nas suas belas obras. Estava dodói, Assis.
Permita-lhe destacar um verso:
"O repouso da mão sobre o colo" pela indelével imagem de abandono que perpassa o poema.
L.B.
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