Qualquer hora encanto a tua palavra
Faço dela arcabouço para a morada
Mesmo que seja de provisória estada
Qualquer hora engano a tua palavra
Faço dela arado e lavro outras ceias
Mesmo que seja seda da própria teia
quinta-feira, 31 de dezembro de 2009
quarta-feira, 30 de dezembro de 2009
79 - (re)lance de dados
Foi de vento o soluço
Que soçobrou a boca
Foi de vazante a nau
Que o mal se insurgiu
Foi de canção o verso
Que a palavra contraiu
Foi de canto a ternura
Que fez a nua tessitura
Foi de relance um dado
Que se decidiu a labuta
Foi súbito o sobressalto
Que a ausência cumpriu
Que soçobrou a boca
Foi de vazante a nau
Que o mal se insurgiu
Foi de canção o verso
Que a palavra contraiu
Foi de canto a ternura
Que fez a nua tessitura
Foi de relance um dado
Que se decidiu a labuta
Foi súbito o sobressalto
Que a ausência cumpriu
terça-feira, 29 de dezembro de 2009
78 - Poema da língua
Carrego comigo as reticências
As aparências, as reentrâncias
Tenho orgulho de toda palavra
Que me chega e que me clama
A insuspeita confissão do amor
As aparências, as reentrâncias
Tenho orgulho de toda palavra
Que me chega e que me clama
A insuspeita confissão do amor
segunda-feira, 28 de dezembro de 2009
77 - Ode para meus olhos
Às vezes uma chuva fina molha minha alma
Embala de lágrimas este peito tonto e febril
Que guarda o adeus e o visgo do teu espanto
Embala de lágrimas este peito tonto e febril
Que guarda o adeus e o visgo do teu espanto
domingo, 27 de dezembro de 2009
76 - Canção de tristes tópicos
Não dá para seguir-te ao tempo
Untar-me de pueril reminiscência
Deslocar a sintaxe de todo corpo
Ao propósito vil de um desencanto
Ser linguagem da carne e na pele
Equilibrando a intempérie do gesto
Não dá para seguir-te ao tempo
Ser tolo desvario da insensatez
Desfazer-me em tristes alegorias
E contemplar um pálido alvorecer
Untar-me de pueril reminiscência
Deslocar a sintaxe de todo corpo
Ao propósito vil de um desencanto
Ser linguagem da carne e na pele
Equilibrando a intempérie do gesto
Não dá para seguir-te ao tempo
Ser tolo desvario da insensatez
Desfazer-me em tristes alegorias
E contemplar um pálido alvorecer
sábado, 26 de dezembro de 2009
75 - Ode para nós
Todo o passado se abismou
Na vertigem desses passos
Fizeste aurora e crepúsculo
No movimento de um corpo
Insuflaste desejos e pecados
Que houveram de se cumprir
E puseste os olhos em vigília
No desconcerto do nosso dia
Na vertigem desses passos
Fizeste aurora e crepúsculo
No movimento de um corpo
Insuflaste desejos e pecados
Que houveram de se cumprir
E puseste os olhos em vigília
No desconcerto do nosso dia
sexta-feira, 25 de dezembro de 2009
74 - Dos quereres inolvidáveis
soluçava um querer completo
jamais permitido a um amante
feito a réstia d’alguma estrela
do lúdico fervor a se aprisionar
intensamente ansiava a vinda
e intentava o rosto para mirar
entre as tranças da sua elegia
despia as horas para enxergar
então o deus de fogo e desejo
deu-lhe invento de um espelho
e tão mágica proeza que enfim
contemplou o arrepio que viria
de súbito ficou intensa a certeza
que da aurora em si era rogada
nesse pasmo de espera infinda
jamais permitido a um amante
feito a réstia d’alguma estrela
do lúdico fervor a se aprisionar
intensamente ansiava a vinda
e intentava o rosto para mirar
entre as tranças da sua elegia
despia as horas para enxergar
então o deus de fogo e desejo
deu-lhe invento de um espelho
e tão mágica proeza que enfim
contemplou o arrepio que viria
de súbito ficou intensa a certeza
que da aurora em si era rogada
nesse pasmo de espera infinda
73 - Interlúdio e porvir III
Era tudo uma vez
E tu fizeste o bordado
Tosco dos nossos nós
Adornei com metáforas
E uma possível remissão
Iluminaste ambigüidades
Com a fogueira dos dias
E pétalas na ambrosia
Cumpri os desígnios e
A imposição das palavras
Até os olhos caírem rotos
De resto ficaram senhas
E era tudo outra vez
E tu fizeste o bordado
Tosco dos nossos nós
Adornei com metáforas
E uma possível remissão
Iluminaste ambigüidades
Com a fogueira dos dias
E pétalas na ambrosia
Cumpri os desígnios e
A imposição das palavras
Até os olhos caírem rotos
De resto ficaram senhas
E era tudo outra vez
quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
72 - Ode nada gentil
É noite quando deparas com este vazio
E sucumbem teus gestos em alvorada
Soluçam almas tristes e gentis na alcova
E o pálido véu cobre a urbe em desvario
E sucumbem teus gestos em alvorada
Soluçam almas tristes e gentis na alcova
E o pálido véu cobre a urbe em desvario
terça-feira, 22 de dezembro de 2009
71 - madrigal anunciado
não espere
que eu volto nunca mais
nem mesmo para não dizer
ficar amuado em silêncio
e recontar
os vitrais da amurada
como a vez que aconteceu
não, não espere
que eu volto nunca mais
nem mesmo livros
nem mesmo dúvidas
não, não espere
corre o risco de ficar à toa
esse rosto que persigo
e que nunca ofereceste
corre o risco de se perder
o ser que colhe a reticência
que emprega dois pontos
não espere
passos voam em direção
os equívocos estão postos
as quimeras desfeitas
o que não foi, foi feito
não espere
que eu volto nunca mais
que eu volto nunca mais
nem mesmo para não dizer
ficar amuado em silêncio
e recontar
os vitrais da amurada
como a vez que aconteceu
não, não espere
que eu volto nunca mais
nem mesmo livros
nem mesmo dúvidas
não, não espere
corre o risco de ficar à toa
esse rosto que persigo
e que nunca ofereceste
corre o risco de se perder
o ser que colhe a reticência
que emprega dois pontos
não espere
passos voam em direção
os equívocos estão postos
as quimeras desfeitas
o que não foi, foi feito
não espere
que eu volto nunca mais
segunda-feira, 21 de dezembro de 2009
70 - pequeno poema dos dons
aos que não conseguem
meditar:
as saudades e os jasmins
aos que não conseguem
imantar:
os silêncios e os gerânios
aos que não conseguem
flertar:
os mistérios e as violetas
aos que não conseguem
perseverar:
as palavras e as angélicas
aos que não conseguem
acorrentar:
o infinito e as orquídeas
meditar:
as saudades e os jasmins
aos que não conseguem
imantar:
os silêncios e os gerânios
aos que não conseguem
flertar:
os mistérios e as violetas
aos que não conseguem
perseverar:
as palavras e as angélicas
aos que não conseguem
acorrentar:
o infinito e as orquídeas
domingo, 20 de dezembro de 2009
69 - Ode simples
Atravesso os umbrais
Para recolher a seiva
Deste silêncio de nau
Afagar com as palavras
A solidão que me queima
E se esparrama oblíqua
Para recolher a seiva
Deste silêncio de nau
Afagar com as palavras
A solidão que me queima
E se esparrama oblíqua
sábado, 19 de dezembro de 2009
68 - Interlúdio e porvir II
Em teu rosto venho sucumbir
O sonho do infante de pedra
Recolher versos que dormem
Inauditos na aurora do tempo
Revolver a nostalgia do vento
Sorver a colheita do teu mirar
O sonho do infante de pedra
Recolher versos que dormem
Inauditos na aurora do tempo
Revolver a nostalgia do vento
Sorver a colheita do teu mirar
sexta-feira, 18 de dezembro de 2009
67 - melancias cortadas
Para uso e pasto das cores
A natureza é morta e jazz
Vela o que quero e à vera
Pode ser méxico, a riviera
Frito os calos de toda a dor
Falo solitário em dois amores
Faço parir o riso embevecido
Na penumbra curro a saudade
A natureza é morta e jazz
Vela o que quero e à vera
Pode ser méxico, a riviera
Frito os calos de toda a dor
Falo solitário em dois amores
Faço parir o riso embevecido
Na penumbra curro a saudade
quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
66 - Poema de puro tédio
Há de se gerar raízes e pétalas
Faunos consumindo gerânios
Inverter as simetrias:
Há de se opor aos cérebros
Mendigar cheiros e fragrâncias
Interceder os gestos:
Há de se mastigar interjeições
Masturbar consoantes e plurais
Inventariar mistérios:
Há de se perverter a sobriedade
Dar destino ao arredio, ao que sobra
Interditar as verdades:
Faunos consumindo gerânios
Inverter as simetrias:
Há de se opor aos cérebros
Mendigar cheiros e fragrâncias
Interceder os gestos:
Há de se mastigar interjeições
Masturbar consoantes e plurais
Inventariar mistérios:
Há de se perverter a sobriedade
Dar destino ao arredio, ao que sobra
Interditar as verdades:
quarta-feira, 16 de dezembro de 2009
65 - Interlúdio e porvir
p/ os versos da Nina Rizzi
Nunca mais houvera lábios
Onde a terna carne espargir
Desde o leque em flor se abrir
Nunca mais colher os lábios
Desde sismos, cismas e pelos
Desde tenros apelos e o não
Nunca mais houvera lábios
Onde a terna carne espargir
Desde o leque em flor se abrir
Nunca mais colher os lábios
Desde sismos, cismas e pelos
Desde tenros apelos e o não
terça-feira, 15 de dezembro de 2009
64 - Ode para todos os cansaços
O tempo invade a memória do ontem
E põe girassóis nas minhas metáforas
Explico que venho ao vento de maresia
E insisto em arrebanhar as mancúspias
Os desertores caminhos sopram versos
Regurgito palavras no olvido e encantado
Destituo os enigmas que formam sombras
Aguardo o impacto do sorriso que não vem
E põe girassóis nas minhas metáforas
Explico que venho ao vento de maresia
E insisto em arrebanhar as mancúspias
Os desertores caminhos sopram versos
Regurgito palavras no olvido e encantado
Destituo os enigmas que formam sombras
Aguardo o impacto do sorriso que não vem
segunda-feira, 14 de dezembro de 2009
63 - Canção de bem-me-quer III
Desisti de todos os amores
Em que me fizeste acreditar
Agora brindo as falácias
Ao abismo das palavras
Ao mistério fútil deste sorriso
Que arrebataste da Monalisa
Em que me fizeste acreditar
Agora brindo as falácias
Ao abismo das palavras
Ao mistério fútil deste sorriso
Que arrebataste da Monalisa
domingo, 13 de dezembro de 2009
62 - Outro poema de correnteza
Talvez venham ilhas neste oceano sem fim
Olhos que aportem a maresia do mirar-te
Vendaval que sopre este soluço de paixão
Vaguem vagas para longe neste escarcéu
De imolar espíritos aos deuses do universo
No indolente balouçar das águas e mágoas
Olhos que aportem a maresia do mirar-te
Vendaval que sopre este soluço de paixão
Vaguem vagas para longe neste escarcéu
De imolar espíritos aos deuses do universo
No indolente balouçar das águas e mágoas
sábado, 12 de dezembro de 2009
61 - Canção de bem-me-quer II
p/Gerana Damulakis que instigou
Amanheceste em mim
como um lírio atormentado
cheia de renúncia ao querer
eu fiquei tecendo quimeras
implorando a luz do arrebol
até que viesses sem pressa
despir o silêncio desse agora
Amanheceste em mim
como um lírio atormentado
cheia de renúncia ao querer
eu fiquei tecendo quimeras
implorando a luz do arrebol
até que viesses sem pressa
despir o silêncio desse agora
sexta-feira, 11 de dezembro de 2009
60 - Canção de bem-me-quer
Não te pedirei em silêncio
A alegoria desse encanto
Preciso fazer ouvir alarido
Despertar sons no instante
Não te pedirei em auroras
Para vires esculpir os dias
Vivo a brisa destes passos
O reticente pulsar dos olhos
A alegoria desse encanto
Preciso fazer ouvir alarido
Despertar sons no instante
Não te pedirei em auroras
Para vires esculpir os dias
Vivo a brisa destes passos
O reticente pulsar dos olhos
quinta-feira, 10 de dezembro de 2009
59 - Poema de correnteza
Dos meus rios que vingam instantes
Sobram súbitas pedras em avalanche
Emaranham-se peixes à minha rede
Dão-me salto por sobre a correnteza
Cortam em lençóis que divagam ilhas
Súbitos redemoinhos e uns alvoroços
Paragens de encostas, nuas margens
Turbilhão que soçobra rude naufragar
Sobram súbitas pedras em avalanche
Emaranham-se peixes à minha rede
Dão-me salto por sobre a correnteza
Cortam em lençóis que divagam ilhas
Súbitos redemoinhos e uns alvoroços
Paragens de encostas, nuas margens
Turbilhão que soçobra rude naufragar
quarta-feira, 9 de dezembro de 2009
58 - AUTO-CONTRASTE II
O rio consome a água
Como a veia consome o sangue
Como o sertão consome a enxada
Como a vida consome o dia
A resma consome a folha
Como o enxame consome a abelha
Como a tribo consome o índio
Como o cardume consome o peixe
O vento consome o sopro
Como a ilha consome o mar
Como o fogo consome a água
Como o amor consome a dor
A palavra consome o verso
Como a rima consome a estrofe
Como a língua consome o verbo
Como o espírito consome o corpo
Pouco a pouco
Pouco a pouco
Como a veia consome o sangue
Como o sertão consome a enxada
Como a vida consome o dia
A resma consome a folha
Como o enxame consome a abelha
Como a tribo consome o índio
Como o cardume consome o peixe
O vento consome o sopro
Como a ilha consome o mar
Como o fogo consome a água
Como o amor consome a dor
A palavra consome o verso
Como a rima consome a estrofe
Como a língua consome o verbo
Como o espírito consome o corpo
Pouco a pouco
Pouco a pouco
terça-feira, 8 de dezembro de 2009
57 - Poema de encantamento
A dama de todas as telas e teias
insinuava-se em aulas de anatomia
em que era a primeira a se despir
enquanto me fitavam outros vestidos
eu não percebia que havia a mudez
daquele sexo embevecido de claridade
insinuava-se em aulas de anatomia
em que era a primeira a se despir
enquanto me fitavam outros vestidos
eu não percebia que havia a mudez
daquele sexo embevecido de claridade
segunda-feira, 7 de dezembro de 2009
56 - Poema de uns nadas rudes
Inda tonto de tanto encanto
Vaguei vário de indolência
Da penitência e resguardo
Do teu soluço embriagado
Na antevéspera do abraço
A derramar clarão e alarido
Vaguei vário de indolência
Da penitência e resguardo
Do teu soluço embriagado
Na antevéspera do abraço
A derramar clarão e alarido
domingo, 6 de dezembro de 2009
55 - Elegia de desamor
No desassossego da manhã
Recolho os cristais da pele
Recolho a virgindade do ar
Respiro nele teus vestígios
Sou a solidão no teu espírito
Parte desabitada desses nós
O rio que não flui da tua foz
O silêncio plácido da tua voz
Dos quereres que não fostes
Me ficaste o imã de um visgo
Fio na carne que não sangra
O gozo de mácula da paixão
Recolho os cristais da pele
Recolho a virgindade do ar
Respiro nele teus vestígios
Sou a solidão no teu espírito
Parte desabitada desses nós
O rio que não flui da tua foz
O silêncio plácido da tua voz
Dos quereres que não fostes
Me ficaste o imã de um visgo
Fio na carne que não sangra
O gozo de mácula da paixão
sábado, 5 de dezembro de 2009
54 - Poema de além mar
Calha-me vontade de ir ao mar
Sorver reminiscência vindoura
Rever-me no cais, nestas ondas
Aportar vazio em tristes tragos
Calha-me a vontade de pessoas
Infinitas em múltiplas finitudes
De faces ligeiramente doiradas
Inocentes em suas teatralidades
Calha-me a vontade de uma sorte
Especial e bem vinda no sortilégio
Como quando a vi se desnudando
E não deste conta do desassossego
Sorver reminiscência vindoura
Rever-me no cais, nestas ondas
Aportar vazio em tristes tragos
Calha-me a vontade de pessoas
Infinitas em múltiplas finitudes
De faces ligeiramente doiradas
Inocentes em suas teatralidades
Calha-me a vontade de uma sorte
Especial e bem vinda no sortilégio
Como quando a vi se desnudando
E não deste conta do desassossego
sexta-feira, 4 de dezembro de 2009
53 - poema dos significados
sempre me encantou a palavra caravana
desde que a vi incrustada feito sonho
num poema antigo que nunca me esqueci
sempre me pareceu de sentido peregrino
repleta de areia no deserto domesticado
forjada no lombo e na ânsia de um povo
desde que a vi incrustada feito sonho
num poema antigo que nunca me esqueci
sempre me pareceu de sentido peregrino
repleta de areia no deserto domesticado
forjada no lombo e na ânsia de um povo
quinta-feira, 3 de dezembro de 2009
52 - canção de queixumes
de fato antevejo a dor
que porventura possa vir
doí-me o fado de existir
e de repetir versos assim
ser outra pessoa do Pessoa
encontrar eco senão em mim
de fato soa triste a querela
deste estar e não estar indo
deste passar, passar, infindo
que porventura possa vir
doí-me o fado de existir
e de repetir versos assim
ser outra pessoa do Pessoa
encontrar eco senão em mim
de fato soa triste a querela
deste estar e não estar indo
deste passar, passar, infindo
quarta-feira, 2 de dezembro de 2009
51 - elegia tosca
venho de uma cidade sem vestes
despida por carmins e ciprestes
tão gentil com quem marca a pele
tão rude a quem lhe oferece grão
recuso abandoná-la em sua sina
de teimosia, perfídia e incesto
perdida em seus ofícios de pólis
no ventre vil do frio ostracismo
despida por carmins e ciprestes
tão gentil com quem marca a pele
tão rude a quem lhe oferece grão
recuso abandoná-la em sua sina
de teimosia, perfídia e incesto
perdida em seus ofícios de pólis
no ventre vil do frio ostracismo
terça-feira, 1 de dezembro de 2009
50 - outro poema sem título
evito o escárnio dos lábios
mas saboreio doce de língua
assim, quando vires o joio
separe os trigos da intriga
não penses que sempre passo
às vezes fico suficientemente
como a luz disforme pairando
languidamente pelas esquinas
mas saboreio doce de língua
assim, quando vires o joio
separe os trigos da intriga
não penses que sempre passo
às vezes fico suficientemente
como a luz disforme pairando
languidamente pelas esquinas
segunda-feira, 30 de novembro de 2009
49 - Poema tipo on the road
Não quero ser poeira na tua estrada
Nem ficção a ser editada no coração
Quero tambores de negros sabores
Untar-me em peles de vários odores
Atar-me a mais caudalosa corrente
Ser o veneno de uma sábia serpente
Forjar o urso do meu próprio abraço
Calcificar a dor na vertigem do ocaso
- viver o inferno do inverso que me tornei
Nem ficção a ser editada no coração
Quero tambores de negros sabores
Untar-me em peles de vários odores
Atar-me a mais caudalosa corrente
Ser o veneno de uma sábia serpente
Forjar o urso do meu próprio abraço
Calcificar a dor na vertigem do ocaso
- viver o inferno do inverso que me tornei
domingo, 29 de novembro de 2009
48 - Madrigal de infantes
Era a intriga da espera
Que afligia os sentidos
Vazavam tolos medos
Embebidos em segredo
Era a intriga da espera
Que desprendia o desejo
Feito o calor da maresia
Farto parto: coito e poesia
Que afligia os sentidos
Vazavam tolos medos
Embebidos em segredo
Era a intriga da espera
Que desprendia o desejo
Feito o calor da maresia
Farto parto: coito e poesia
sábado, 28 de novembro de 2009
47 - Canto de Krishna
Do raso celestial se fez o canto
Uníssono em estrelas abismadas
Eu assisto à criação em claridade
em flor de espada transcendental
Até vir nascer o rouxinol em mim
Uníssono em estrelas abismadas
Eu assisto à criação em claridade
em flor de espada transcendental
Até vir nascer o rouxinol em mim
sexta-feira, 27 de novembro de 2009
46 - Ode singular (outra variação)
Incrédulo eu bebo a vertigem do teu sexo
Que paralisa o veneno do meu tédio diário
Que paralisa o veneno do meu tédio diário
quinta-feira, 26 de novembro de 2009
45 - poema de mea culpa
teimo em reler proust
entre madeleines,
chás e ambrosias
temo reler proust
- paraíso perdido
apocalipse do agora
e não consigo tirar
o ranço nordestino
no malfadado francês
entre madeleines,
chás e ambrosias
temo reler proust
- paraíso perdido
apocalipse do agora
e não consigo tirar
o ranço nordestino
no malfadado francês
quarta-feira, 25 de novembro de 2009
44 - poema de repetição
sou ainda cativo de teu fino pasto
como se fosse aleivosia do destino
como se pudesse pastorear silêncios
eternizando girassóis no meu desejo
como se fosse aleivosia do destino
como se pudesse pastorear silêncios
eternizando girassóis no meu desejo
terça-feira, 24 de novembro de 2009
43 - ode singular (variação)
ando distante da tua saudade
escondendo-me entre espelhos
pois quero ter variadas faces
para iluminar cada orgasmo teu
escondendo-me entre espelhos
pois quero ter variadas faces
para iluminar cada orgasmo teu
segunda-feira, 23 de novembro de 2009
domingo, 22 de novembro de 2009
41 - Poema de outra linhagem
O essencial do verbo é a palavra
- bebe em si seu único mistério -
Morre só se não for pronunciada
Mesmo por esta caligrafia do nada
- bebe em si seu único mistério -
Morre só se não for pronunciada
Mesmo por esta caligrafia do nada
sábado, 21 de novembro de 2009
40 - Pingo nos ismos
Quero acabar de vez com eufemismos
Nada de condensou-se o bravio do rosto
Recuso-me ao poema sem farta ousadia
Antes prefiro a saia justa de uma revoada
Nada de condensou-se o bravio do rosto
Recuso-me ao poema sem farta ousadia
Antes prefiro a saia justa de uma revoada
sexta-feira, 20 de novembro de 2009
39 - poema para Borges e o infinito
flui o caudoloso rio
de Borges e Heráclito
flui metáfora do tempo
flui água que me banha
deixa-me apenas o punhal
dessas horas pontiagudas
em que sou o espelho roto
conduzindo no dorso a agonia
de Borges e Heráclito
flui metáfora do tempo
flui água que me banha
deixa-me apenas o punhal
dessas horas pontiagudas
em que sou o espelho roto
conduzindo no dorso a agonia
quinta-feira, 19 de novembro de 2009
38 - Este amor querendo (ser) o sol
Por seres a maior estrela
Dessa galáxia via láctea
Quero o deleite do brilho
Mais intenso e cristalino
- efeméride de luz assolar
o plúmbeo peito da dor -
Dessa galáxia via láctea
Quero o deleite do brilho
Mais intenso e cristalino
- efeméride de luz assolar
o plúmbeo peito da dor -
quarta-feira, 18 de novembro de 2009
37 - poema de contemplação
o infinito não caberia neste minuto
- teu sorriso sorvia a seiva do dia -
- teu sorriso sorvia a seiva do dia -
terça-feira, 17 de novembro de 2009
36 - acontecimento
quero pertencer a gleba dos desavisados
dos que se exaurem no tempo sem palavra
dos completamente desvalidos de memória
assim teria tempo de mastigar teu hálito
e ser feliz como o sopro dessa aquarela
dos que se exaurem no tempo sem palavra
dos completamente desvalidos de memória
assim teria tempo de mastigar teu hálito
e ser feliz como o sopro dessa aquarela
segunda-feira, 16 de novembro de 2009
domingo, 15 de novembro de 2009
34 - um canto, um blues, um soul
Deixa-me envergar esta face desgastada
E remover em segredo gestos e afagos
Cobrir a imperiosa tempestade dos relógios
E afligir o silêncio que se conforma em tédio
E remover em segredo gestos e afagos
Cobrir a imperiosa tempestade dos relógios
E afligir o silêncio que se conforma em tédio
sábado, 14 de novembro de 2009
33 - madrigal de amantes
inspirado em poema da Nina Rizzi
quando finda o tempo de nós dois
dez mil sóis se ninam em orgasmo
fecundam perguntas sem respostas
fica esse visgo na pele do teu pasto
quando finda o tempo de nós dois
formam laços agridoces na solidão
o céu desaba jasmins domesticados
e tudo plasma o espanto do agora
quando finda o tempo de nós dois
dez mil sóis se ninam em orgasmo
fecundam perguntas sem respostas
fica esse visgo na pele do teu pasto
quando finda o tempo de nós dois
formam laços agridoces na solidão
o céu desaba jasmins domesticados
e tudo plasma o espanto do agora
sexta-feira, 13 de novembro de 2009
32 - madrigal gitano
Minha senhora de longas tranças
Que sortilégios trazem tua canga
Quantos enfeites, quantos açoites
a pedir abrigo no ventre da noite
Minha senhora de longas tranças
quanto silêncio entoas o teu canto
quanto mistério cruzas nos braços
que fazem alvorecer os teus lábios
Minha senhora de longas tranças
Que infindável lua teces prisioneira
Alimentando de orgias as paragens
Do reticente mar que vazas no peito
Que sortilégios trazem tua canga
Quantos enfeites, quantos açoites
a pedir abrigo no ventre da noite
Minha senhora de longas tranças
quanto silêncio entoas o teu canto
quanto mistério cruzas nos braços
que fazem alvorecer os teus lábios
Minha senhora de longas tranças
Que infindável lua teces prisioneira
Alimentando de orgias as paragens
Do reticente mar que vazas no peito
quinta-feira, 12 de novembro de 2009
31 - poema de favorecimento
enlouqueço a cada acorde do teu olhar
seja aceito, seja açoite, seja noite,
seja assim o que for ou o que não há
seja aceito, seja açoite, seja noite,
seja assim o que for ou o que não há
quarta-feira, 11 de novembro de 2009
30 - a uma dádiva do olhar
quero consumir ainda a aurora
vê-la escorrer em lábios
vê-la translúcida em raios
enquanto o mar suga o instante
impreciso do encontro na areia
vê-la escorrer em lábios
vê-la translúcida em raios
enquanto o mar suga o instante
impreciso do encontro na areia
terça-feira, 10 de novembro de 2009
29 - improviso em si, em fuga
a angústia desses passos
vaga insone na madrugada
feito a solidão de um verso
vaga insone na madrugada
feito a solidão de um verso
segunda-feira, 9 de novembro de 2009
28 - poema de quase inspiração
Deixai-me com meus vocábulos moucos
nesta clareira de gestos e máculas
pois vejo a fécula febril a fecundar
na sofreguidão, teus vaticínios roucos
nesta clareira de gestos e máculas
pois vejo a fécula febril a fecundar
na sofreguidão, teus vaticínios roucos
domingo, 8 de novembro de 2009
27 - poema para sempre-vivas no primeiro raio da manhã
dentre tantos entretantos
foram horas se passando
eu tonto em meus devaneios
e a impassível luz em teu seio
foram horas se passando
eu tonto em meus devaneios
e a impassível luz em teu seio
sábado, 7 de novembro de 2009
26 - em outrora, quando havia
na disparada da ladeira
cresceu o vento nas pernas
subiu um redemoinho
e já se foi eu menino
saboreando mangas e manjar
cresceu o vento nas pernas
subiu um redemoinho
e já se foi eu menino
saboreando mangas e manjar
sexta-feira, 6 de novembro de 2009
25 - poema que li em qualquer lugar
perdeu-se o bonde de ir embora
faíscas do tempo criam raizes
a pele aplaca o metal da dissídia
e somos para sempre felizes
como nesta foto da escrivaninha
faíscas do tempo criam raizes
a pele aplaca o metal da dissídia
e somos para sempre felizes
como nesta foto da escrivaninha
quinta-feira, 5 de novembro de 2009
24 - uma historinha
de quando em vez
há solidão demais
à minha volta
de quando em vez
permito o tumulto
deste silêncio tosco
de quando em vez
dou espaço ao espanto
como agora
há solidão demais
à minha volta
de quando em vez
permito o tumulto
deste silêncio tosco
de quando em vez
dou espaço ao espanto
como agora
quarta-feira, 4 de novembro de 2009
23 - canção de enganar o vento II
eu bem te disse que havia desvios
e nem todo caminho leva ou conduz
que as flores na ribanceira pendem
se ruflam e se riem daquele abismo
eu bem te disse pequenas verdades
tolas todas em formato de petiscos
embrulhadas em papel fino e barato
feito sortilégios de alguma cigana
eu bem te disse e fiz disso oferenda
como esse corpo vazio que se esquece
esse destino sem rotas, sem bússola
o tropego desafio de querer resistir
eu te disse quase tudo que já sabias
e lancei ancora neste terno desterro
valseando em velas e quilhas e portos
sendo relâmpago inútil do que é pouco
e nem todo caminho leva ou conduz
que as flores na ribanceira pendem
se ruflam e se riem daquele abismo
eu bem te disse pequenas verdades
tolas todas em formato de petiscos
embrulhadas em papel fino e barato
feito sortilégios de alguma cigana
eu bem te disse e fiz disso oferenda
como esse corpo vazio que se esquece
esse destino sem rotas, sem bússola
o tropego desafio de querer resistir
eu te disse quase tudo que já sabias
e lancei ancora neste terno desterro
valseando em velas e quilhas e portos
sendo relâmpago inútil do que é pouco
terça-feira, 3 de novembro de 2009
22 - canção de enganar o vento
o teu corpo acena reentrancias
que empalidecem a alma ingenua
onde brotam designios e olores
que te deixam flor se tu fores
que empalidecem a alma ingenua
onde brotam designios e olores
que te deixam flor se tu fores
segunda-feira, 2 de novembro de 2009
21 - Manual de sobrevivência para insetos e afins
A terra revolvida
O areal da memória
Os restos e a escória
O areal da memória
Os restos e a escória
domingo, 1 de novembro de 2009
20 - Poema das perdidas ilusões
naquele centro
havia o cetro
e que toda a sua
realeza emanava
eu ficava
feito o vento
que sobre o
encantamento
pairava
havia o cetro
e que toda a sua
realeza emanava
eu ficava
feito o vento
que sobre o
encantamento
pairava
sábado, 31 de outubro de 2009
19 - Poema sem o teu adeus
retornar ao ventre é ainda vício
e
rememorar as vinhas e vindas
é sacrifício que se impõe a alma
imolar o vazio nesta fenda do dia
instaurar a desordem nas agruras
e
afiar a fome no gesto que não sacia
e
rememorar as vinhas e vindas
é sacrifício que se impõe a alma
imolar o vazio nesta fenda do dia
instaurar a desordem nas agruras
e
afiar a fome no gesto que não sacia
sexta-feira, 30 de outubro de 2009
18 - Poema sem idade
Era ainda terno o olhar
- eterno como a rima -
que o vento soçobrava
em faíscas dominicais
dessa tarde eternidade
nos meus lábios partidos
- eterno como a rima -
que o vento soçobrava
em faíscas dominicais
dessa tarde eternidade
nos meus lábios partidos
quinta-feira, 29 de outubro de 2009
17 - para ti
cada dia precipita
o punhal e o espelho
a hora da refrega
em que solitário
espero o assombro
inelutável da chegada
o punhal e o espelho
a hora da refrega
em que solitário
espero o assombro
inelutável da chegada
quarta-feira, 28 de outubro de 2009
16 - ensaio de cinema
assim que tu chegaste
tudo em volta paralisou
o ar ficou rarefeito
a luz começou escassear
o nó na garganta se fechou
mas bela e resoluta
apenas concedeste-me
o soslaio do olhar
tudo em volta paralisou
o ar ficou rarefeito
a luz começou escassear
o nó na garganta se fechou
mas bela e resoluta
apenas concedeste-me
o soslaio do olhar
terça-feira, 27 de outubro de 2009
15 - à mercè
anseio a palavra
como uma náusea
um engasgo
a ser expelido
pois por dentro
atormenta a dor
do querer existir
como uma náusea
um engasgo
a ser expelido
pois por dentro
atormenta a dor
do querer existir
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
14 - diálogo com as sombras
nesta manhã sem sol
a algaravia de passos
tece a fina rede entre
o abismo e a vertigem
desconcerta as palavras
e faz do assombro a raiz
deste poema sem imagens
a algaravia de passos
tece a fina rede entre
o abismo e a vertigem
desconcerta as palavras
e faz do assombro a raiz
deste poema sem imagens
domingo, 25 de outubro de 2009
13 - Para Joan
Desde que ouço tua voz
Ventos calam a tempestade
De uma silenciosa paisagem
Onde homens apaziguados
Tangem a revoada feliz
Dos pássaros alucinados
Ventos calam a tempestade
De uma silenciosa paisagem
Onde homens apaziguados
Tangem a revoada feliz
Dos pássaros alucinados
sábado, 24 de outubro de 2009
12 - Outra prosa ( o mesmo tema)
o tempo revolve as cinzas
enquanto o silêncio vaza:
já não encontro as minhas asas
perderam-se com as palavras e
todas as ausências anunciadas
enquanto o silêncio vaza:
já não encontro as minhas asas
perderam-se com as palavras e
todas as ausências anunciadas
sexta-feira, 23 de outubro de 2009
quinta-feira, 22 de outubro de 2009
10 - sonata vespertina
a relva incandescente
floresceu nos lábios
e
em gozosos sabores
deitou-se em orgasmos
floresceu nos lábios
e
em gozosos sabores
deitou-se em orgasmos
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
9 - poema do encontro
queria escrever um poema
sobre Cortázar e Borges
um poema pervertido em
espelhos e mancúspias
um bestiário de punhais
poema sem qualquer final
com os versos em silêncio
brando, branco
sobre Cortázar e Borges
um poema pervertido em
espelhos e mancúspias
um bestiário de punhais
poema sem qualquer final
com os versos em silêncio
brando, branco
terça-feira, 20 de outubro de 2009
8 - à deriva
do sobressalto à razão
não passou de um minuto
aquele instante mágico
tu já se ias sorrindo
eu ficava remoendo desejos
não passou de um minuto
aquele instante mágico
tu já se ias sorrindo
eu ficava remoendo desejos
segunda-feira, 19 de outubro de 2009
domingo, 18 de outubro de 2009
sábado, 17 de outubro de 2009
5 - Poema em contínua rédea
Entre cravos e claves
Vaguei o indefinido
espaço que me davas
Sou nada nesta estada
E perscruto o amanhã
Com inefável precisão
Vaguei o indefinido
espaço que me davas
Sou nada nesta estada
E perscruto o amanhã
Com inefável precisão
sexta-feira, 16 de outubro de 2009
4 - poema de circunstância
o poema não nasce torto
são as palavras que se
desconfiam unidas amiúde
e não satisfeitas
querem se fundir em espanto
são as palavras que se
desconfiam unidas amiúde
e não satisfeitas
querem se fundir em espanto
quinta-feira, 15 de outubro de 2009
quarta-feira, 14 de outubro de 2009
2 - a outra imagem, a do espelho
pelo presente
instrumento
particular
de decisão
indefiro o
poema e sigo
só com a vida
instrumento
particular
de decisão
indefiro o
poema e sigo
só com a vida
terça-feira, 13 de outubro de 2009
1 - A imagem
no quadro
quadro a quadro
os teus seios
sempre pintavam
em cores reais
enquanto
rabiscavas
o céu de ficção
quadro a quadro
os teus seios
sempre pintavam
em cores reais
enquanto
rabiscavas
o céu de ficção
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