puseste um condomínio de deidades na poesia
circundaste de diáfana teia a corola do verso
agora o sopro do cio contaminou-se em sílabas
agora o horizonte é o espaço de concupiscência
e borboletas lilases esquecem-se na caligrafia
e girassóis rugem infortúnios na tarde solitária
sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
quinta-feira, 30 de dezembro de 2010
448 - canto de alforria em beira de lagoa
meu desejo vivia acoitado no vão de duas pernas,
peras tuas que me embelezavam as mãos
e escorria coitado no sêmen de antigas bananeiras
quando o coito era sortilégio de brisas enluaradas
no tão à toa de vagar em visgo de tanta armadilha:
pássaros regem o penar no desengano das auroras
peras tuas que me embelezavam as mãos
e escorria coitado no sêmen de antigas bananeiras
quando o coito era sortilégio de brisas enluaradas
no tão à toa de vagar em visgo de tanta armadilha:
pássaros regem o penar no desengano das auroras
quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
447 - quando o astro se descola da órbita
tudo finda aqui na mão que estrago
a dádiva que renego a cada trago
o beijo e o arroubo na mesma boca
o cio consumindo meu pouco dia
o fastio na fração de cada segundo
e o incessante frio a me mastigar
a dádiva que renego a cada trago
o beijo e o arroubo na mesma boca
o cio consumindo meu pouco dia
o fastio na fração de cada segundo
e o incessante frio a me mastigar
terça-feira, 28 de dezembro de 2010
446 - pequeno diário de rasa profundidade (romanza)
entre mares, cambraias, finas redes
caem-me lágrimas de muitos sais
sol e solidão em maresia me ardem
cultivo foices na paisagem desolada
entre mares, cambraias, finas sedas
caem-me em cordas uma rubra sede
noite e estrela em romaria e alarde
adaga e punhal rasgam a madrugada
caem-me lágrimas de muitos sais
sol e solidão em maresia me ardem
cultivo foices na paisagem desolada
entre mares, cambraias, finas sedas
caem-me em cordas uma rubra sede
noite e estrela em romaria e alarde
adaga e punhal rasgam a madrugada
segunda-feira, 27 de dezembro de 2010
445 - pequeno diário de rasa profundidade (versos soltos)
eu tinha o clamor para ti
poemas de uma nota só
no seio da voz dissonante
miragem de quando existo
e curva e sina se encontram
num mesmo mergulho raso
torto arrepio que cala a alma
embaraço de tantos passos
neste mistério já tão escasso
poemas de uma nota só
no seio da voz dissonante
miragem de quando existo
e curva e sina se encontram
num mesmo mergulho raso
torto arrepio que cala a alma
embaraço de tantos passos
neste mistério já tão escasso
domingo, 26 de dezembro de 2010
444 - Sob o espanto de uma possível caligrafia
talvez não tenha sido no ontem
que colhi as dádivas da tua lembrança
pois no barco que balouça cada vaga
antevejo os teus futuros olhares
e no silencio eterno de cada pedra
possamos desfolhar pétalas e distancias
que colhi as dádivas da tua lembrança
pois no barco que balouça cada vaga
antevejo os teus futuros olhares
e no silencio eterno de cada pedra
possamos desfolhar pétalas e distancias
sábado, 25 de dezembro de 2010
443 - pequeno diário de rasa profundidade (anotações esparsas)
Observo atentamente os vestígios
A existência deixa seus rastros
A sobra da maquilagem esquecida
O leve inclinar do corpo ao passo
A resistência dos lábios disformes
Cada batida no coração destronado
O inefável declínio de pele e ossos
O canto da cotovia assustada
O irremovível papel de parede
As cinzas do cigarro inacabado
O repouso da mão sobre o colo
O perene vento a esparramar-se
O fogo que atiça a longa noite
A proeminência das horas
A sede, o fastio, a flor na lapela
A intromissão dos fatos proibidos
A memória, o retrato, a página
O lento despertar para a alvorada
O que nunca cede, o que nunca fala
A constatação inóspita da inutilidade
A existência deixa seus rastros
A sobra da maquilagem esquecida
O leve inclinar do corpo ao passo
A resistência dos lábios disformes
Cada batida no coração destronado
O inefável declínio de pele e ossos
O canto da cotovia assustada
O irremovível papel de parede
As cinzas do cigarro inacabado
O repouso da mão sobre o colo
O perene vento a esparramar-se
O fogo que atiça a longa noite
A proeminência das horas
A sede, o fastio, a flor na lapela
A intromissão dos fatos proibidos
A memória, o retrato, a página
O lento despertar para a alvorada
O que nunca cede, o que nunca fala
A constatação inóspita da inutilidade
sexta-feira, 24 de dezembro de 2010
442 - pequeno diário de rasa profundidade
o dia sempre começa partido
canto à meia voz, café e pão
quando chove nas vidraças
mais se fixa o sabor do vazio
o quarto sufoca todo espaço
às vezes penso nas cortinas
e o efeito pairando suspensão
às vezes é mais escuro fundo
o dia sempre começa partindo
canto à meia voz, café e pão
quando chove nas vidraças
mais se fixa o sabor do vazio
o quarto sufoca todo espaço
às vezes penso nas cortinas
e o efeito pairando suspensão
às vezes é mais escuro fundo
o dia sempre começa partindo
quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
441 - tocata l’après-midi
adormeço entre vulcões serenados
sou peça antiga de um cálido museu
onde cinzas se fecharam em solidez
não há mais portais a serem vencidos
flui lentamente o ontem que não se fez
sou peça antiga de um cálido museu
onde cinzas se fecharam em solidez
não há mais portais a serem vencidos
flui lentamente o ontem que não se fez
quarta-feira, 22 de dezembro de 2010
440 - poema de olhos e cabelos cansados
é estranha esta tarde que se avizinha
pois do que sei não garanto certezas
vago de bem e mal de mão em mão
o tempo urge na caligrafia das unhas
areia e pele riscam em porto e pouso
tudo faço e refaço para soar estranho
deleite para brisas e raros pássaros
já não comando as pernas e passos
em única mirada os cabelos cansados
pois do que sei não garanto certezas
vago de bem e mal de mão em mão
o tempo urge na caligrafia das unhas
areia e pele riscam em porto e pouso
tudo faço e refaço para soar estranho
deleite para brisas e raros pássaros
já não comando as pernas e passos
em única mirada os cabelos cansados
terça-feira, 21 de dezembro de 2010
439 - ensaio para experimento de imagens
resolvi dar destinação diferente aos poemas
agora os quero entre as guelras dos peixes
no sumo do suor e do mais instigante olfato
perdido no eterno de sílabas, notas e claves
resolvi dar destinação diferente aos poemas
nada de estrela, girassol, matiz e pôr-do-sol
agora os quero florindo na orelha de Van Gogh
segunda-feira, 20 de dezembro de 2010
domingo, 19 de dezembro de 2010
437 - Samba crioulo em moda de terreiro
Vibravam insones as vozes
no vão submerso
das águas que me pejam o peito
no vão submerso
das águas que me pejam o peito
sábado, 18 de dezembro de 2010
436 - Elegia de magnitude absoluta
De mim quando te invento sou outro
E neste descompasso do tempo ouso
Correr trilhas de florestas em céus
Arremessar-me em estrelas e troncos
Ser plenamente o raio que rasga o véu
E neste descompasso do tempo ouso
Correr trilhas de florestas em céus
Arremessar-me em estrelas e troncos
Ser plenamente o raio que rasga o véu
sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
435 - ensaio para sombra e esgueiras
o teu soslaio ainda é punhal
nele mora a pedra escravizada
nele tudo é incomensurável
há pântanos, entes, medos atávicos
brilham labaredas entre as estrelas
o teu soslaio ainda é punhal
ubíquo desejo na flor da tarde
nele mora a pedra escravizada
nele tudo é incomensurável
há pântanos, entes, medos atávicos
brilham labaredas entre as estrelas
o teu soslaio ainda é punhal
ubíquo desejo na flor da tarde
quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
434 - Balada de torpor e incessante desalinho
No bravio do vento bailam notas de entorpecer
Acariciam-me de bemóis nuas as tantas claves
para que os horizontes se rasguem em sinfonia
sobre o sumo impermeável que traz a tua maçã
Acariciam-me de bemóis nuas as tantas claves
para que os horizontes se rasguem em sinfonia
sobre o sumo impermeável que traz a tua maçã
quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
433 - Balada para uns inventos de amor
No horizonte de tantos destinos
Colheram-me mãos em desalinho
Eu tão torto de sujos caminhos
Tu pérola invadindo o meu mar
Cantaram-me peixes em algazarra
Eu de rede inteiro neste anzol
Não sei se ainda sinto a fisgada
Mas delira a língua amordaçada
terça-feira, 14 de dezembro de 2010
432 - Poema para quando florirem córregos e cactos
Vou viver teu corpo como latifúndio inexplorado
E farei regalos no caminho e sebes nos teus pastos
Ali desvendarei os vendavais de todas as planícies
Ajuntarei as orlas que contornam a maciez da terra
Vou viver teu corpo com lamúria e cheiro de chuva
Germinar cada árvore e cada grão na rota do desejo
Até ouvir do céu infindo a sinfonia branca de nuvem
Até o galo cantar e os pássaros sorrirem em alvorada
E farei regalos no caminho e sebes nos teus pastos
Ali desvendarei os vendavais de todas as planícies
Ajuntarei as orlas que contornam a maciez da terra
Vou viver teu corpo com lamúria e cheiro de chuva
Germinar cada árvore e cada grão na rota do desejo
Até ouvir do céu infindo a sinfonia branca de nuvem
Até o galo cantar e os pássaros sorrirem em alvorada
segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
431 - Partitura inacabada para ensaio de romance
Tenho fragmentos que me estilhaçam
Composições a corroer-me o fígado
Animal faminto que procura abrigo
Sempre que aqui entro não saio,
Deixo-me ficar feito pó na estante
Composições a corroer-me o fígado
Animal faminto que procura abrigo
Sempre que aqui entro não saio,
Deixo-me ficar feito pó na estante
domingo, 12 de dezembro de 2010
430 - poema de astrolábio e futuros astros
- mãe me faz uma lua
pedia insistente a menina
enquanto atônita, a mãe
tentava explicar-lhe sobre astros
e outros corpos celestes
alheia a menina via se erguer
dois sorrisos enluarados
bem no meio da noite de estrelas
pedia insistente a menina
enquanto atônita, a mãe
tentava explicar-lhe sobre astros
e outros corpos celestes
alheia a menina via se erguer
dois sorrisos enluarados
bem no meio da noite de estrelas
sábado, 11 de dezembro de 2010
429 - Canto Peregrino (o réquiem)
Ando com meus passos eternamente vazios
Sem sombras, manchas ou qualquer passado
Tenho os olhos voltados a aquela luz adiante
Queimarei os pés até o instante de alcançá-la
Pode ser a estrela imprecisa mas não importa
Ali deixarei as cinzas do que não existe mais
428 - Canto peregrino (o chamado)
Quando tu quiseres
Ainda há o espaço
Clamando presença
Quem sabe encontre
Indícios de tontos nós
Lassos em um lençol
A dormência da tarde
No vaivém da rede
Este pote e esta sede
427 - Canto peregrino (a odisséia)
Alguém entrou e fez de mim prisioneiro deste laço.
Daqui soletro o alfabeto e não encontro respostas.
A minha caligrafia se constrói em meio ao tempo
e em um teorema.
Pergunto-me sempre, perquiro a palavra nova.
Mas a saudade repete o tema.
Imóvel despedaço a tua imagem
e recordo o espaço em que as coisas aconteciam.
426 - Canto peregrino (a elegia)
Não importa este silêncio
que me traz a madrugada
Fito o horizonte sem remorsos
Guardo-me em esperas
Debruço-me no vazio da aurora
E não faço renascer das cinzas
A minha mágica é esta paz
Que guardas dissoluta sob a face
425 - Canto peregrino ( a epifania)
às vezes o ar rareia
entre o silêncio do mar
e a sinfonia na areia
Ando com meus passos eternamente vazios
Sem sombras, manchas ou qualquer passado
Tenho os olhos voltados a aquela luz adiante
Queimarei os pés até o instante de alcançá-la
Pode ser a estrela imprecisa mas não importa
Ali deixarei as cinzas do que não existe mais
428 - Canto peregrino (o chamado)
Quando tu quiseres
Ainda há o espaço
Clamando presença
Quem sabe encontre
Indícios de tontos nós
Lassos em um lençol
A dormência da tarde
No vaivém da rede
Este pote e esta sede
427 - Canto peregrino (a odisséia)
Alguém entrou e fez de mim prisioneiro deste laço.
Daqui soletro o alfabeto e não encontro respostas.
A minha caligrafia se constrói em meio ao tempo
e em um teorema.
Pergunto-me sempre, perquiro a palavra nova.
Mas a saudade repete o tema.
Imóvel despedaço a tua imagem
e recordo o espaço em que as coisas aconteciam.
426 - Canto peregrino (a elegia)
Não importa este silêncio
que me traz a madrugada
Fito o horizonte sem remorsos
Guardo-me em esperas
Debruço-me no vazio da aurora
E não faço renascer das cinzas
A minha mágica é esta paz
Que guardas dissoluta sob a face
425 - Canto peregrino ( a epifania)
às vezes o ar rareia
entre o silêncio do mar
e a sinfonia na areia
sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
424 - a gloriosa e infausta balada de Mirna A.
Mirna A. tinha a pele cansada
Mas seu rosto de azul não,
Seus olhos verdejavam abril
Mirna A. cantarolava um soul
Arremessava saudades na areia
Seus pés fincavam outras eras
Mirna A. curtia poesia e cinema
Saía de Godard, Buñuel e Resnais
E ia para Piva, Cabral e Bandeira
Mirna A. sofria arrepios matinais
dizia: o inferno é quente no inverno
aliviava-se em chá e sutis oferendas
Mirna A. morreu em uma overdose
Sua garganta não mais engolia
Tanto rancor do nosso dia-a-dia
Mas seu rosto de azul não,
Seus olhos verdejavam abril
Mirna A. cantarolava um soul
Arremessava saudades na areia
Seus pés fincavam outras eras
Mirna A. curtia poesia e cinema
Saía de Godard, Buñuel e Resnais
E ia para Piva, Cabral e Bandeira
Mirna A. sofria arrepios matinais
dizia: o inferno é quente no inverno
aliviava-se em chá e sutis oferendas
Mirna A. morreu em uma overdose
Sua garganta não mais engolia
Tanto rancor do nosso dia-a-dia
quinta-feira, 9 de dezembro de 2010
423 - improviso de encanto para radiola de ficha
o meu amor sonhou que inventava um blues
mas era triste a canção que parecia um vento
encapetado de frio vindo lá das bandas do sul
o meu amor sonhou que inventava um blues
e ficava na viola de repente inventando moda
arrebitando o nariz prá sentir cheiro de chuva
eu que nunca acreditei na previsão do acauã
farreei cego na varanda de tantos imprevistos
o meu amor sonhou que serenava uma aflição
mas era triste a canção que parecia um vento
encapetado de frio vindo lá das bandas do sul
o meu amor sonhou que inventava um blues
e ficava na viola de repente inventando moda
arrebitando o nariz prá sentir cheiro de chuva
eu que nunca acreditei na previsão do acauã
farreei cego na varanda de tantos imprevistos
o meu amor sonhou que serenava uma aflição
quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
422 - um quase epitáfio para areia e cavaquinho
desde sempre em minha casa
convivem a pena, papéis e livros
desde quando despertaram os olhos
para a magia dos caracteres impressos
e todo o resto do corpo sucumbia em fervor
assim vai-se cumprindo a incessante jornada
não que eu seja o timoneiro dessa nau insólita
perscruto vozes, anseio sombras, clamo destinos
tudo persigo antes que a desdita me chame o nome
e da órbita dos astros abram-se as vogas do silencio
terça-feira, 7 de dezembro de 2010
421 - Para quando teu olhar cair no horizonte II
Tu me entregaste um por do sol em chamas
Enquanto eu investigava vestígios e sombras
Nunca houve entre seres espera tão infinda
Pois o que se inflamava era invento do vento
E eu ardia afogado nas águas do teu ventre
Enquanto eu investigava vestígios e sombras
Nunca houve entre seres espera tão infinda
Pois o que se inflamava era invento do vento
E eu ardia afogado nas águas do teu ventre
segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
420 - Para quando teu olhar cair no horizonte
Não sei o que me contas com teu gesto
Aparvalhado de mordiscar os jasmins
E fazer crescer fundas raízes no peito
Apenas capto teu transitório germinar
De mulher a inspirar jardim e paisagem
E tecer este labirinto em que me enredo
Aparvalhado de mordiscar os jasmins
E fazer crescer fundas raízes no peito
Apenas capto teu transitório germinar
De mulher a inspirar jardim e paisagem
E tecer este labirinto em que me enredo
domingo, 5 de dezembro de 2010
419 - poema sob o mais improvável entardecer
coisa difícil é esquecer o amor
mesmo esquecido o olho amado
mesmo a frieza nos calcanhares
coisa difícil é esquecer o amor
às vezes o vento insolente atiça
fagulhas na sobra da antiga pele
o mar se contrai em calma vaga
e uma corruíra canta desavisada
mesmo esquecido o olho amado
mesmo a frieza nos calcanhares
coisa difícil é esquecer o amor
às vezes o vento insolente atiça
fagulhas na sobra da antiga pele
o mar se contrai em calma vaga
e uma corruíra canta desavisada
sábado, 4 de dezembro de 2010
418 - cantata para bromélias e um arco-íris
escrever é exercício inútil
melhor esquecer na voz
que dita soprada enaltece
tu verás o quanto é inútil
o também amor ao verso
tantas coisas passadiças
escrever é exercício inútil
é fundir-se em repetições
e atormentar-se na palavra
tu verás o quanto é inútil
o também amor às silabas
a sina de carpir a retórica
melhor esquecer na voz
que dita soprada enaltece
tu verás o quanto é inútil
o também amor ao verso
tantas coisas passadiças
escrever é exercício inútil
é fundir-se em repetições
e atormentar-se na palavra
tu verás o quanto é inútil
o também amor às silabas
a sina de carpir a retórica
sexta-feira, 3 de dezembro de 2010
417 - Improviso para duas luas e um mistério
Outro dia escorreu-me um vento ávido de vida
Carregado de plena significação e clarividência
Um vento lúcido que parecia romper a tempora
E eu fiquei de sobressalto com tamanha angústia
Não maior que a angústia que carrego já outrora
Mas como horizonte ganhando contorno diferente
E minhas tolas reminiscencias de fuga e calvário
Se crucificassem nuas nesta seara de alheamento
Carregado de plena significação e clarividência
Um vento lúcido que parecia romper a tempora
E eu fiquei de sobressalto com tamanha angústia
Não maior que a angústia que carrego já outrora
Mas como horizonte ganhando contorno diferente
E minhas tolas reminiscencias de fuga e calvário
Se crucificassem nuas nesta seara de alheamento
quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
416 - O rapto do raio do teu olhar
Havia a conversa de ocasião
Havia dois tragos insanos
Havia o arrebol de fumaça
Havia a babel de tonto lábio
Havia Rapunzel e a sua trança
Havia sons do bolero de Ravel
Havia ainda esta dor insistente
Havia a flor, a morada, o dente
Havia tanto e mais havia ausente
Havia dois tragos insanos
Havia o arrebol de fumaça
Havia a babel de tonto lábio
Havia Rapunzel e a sua trança
Havia sons do bolero de Ravel
Havia ainda esta dor insistente
Havia a flor, a morada, o dente
Havia tanto e mais havia ausente
quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
415 - outro poema de inútil repetição
cansei de pedidos de perdão
todavia os quero, toda a vida
se me falhar luzes quero-os
vindo da tua voz como sopro
cansei de pedidos de perdão
já disse e repito, sim e repilo
mas afrouxa-me doces lábios
invocas o mármore das coxas
cansei de pedidos de perdão
e de ouvi-los por toda a vida
todavia toda a vida é estuário
onde jaz a paixão fossilizada
todavia os quero, toda a vida
se me falhar luzes quero-os
vindo da tua voz como sopro
cansei de pedidos de perdão
já disse e repito, sim e repilo
mas afrouxa-me doces lábios
invocas o mármore das coxas
cansei de pedidos de perdão
e de ouvi-los por toda a vida
todavia toda a vida é estuário
onde jaz a paixão fossilizada
terça-feira, 30 de novembro de 2010
414 - último poema para desterro e estrada II
Puseram-se em folguedo as sílabas em estranho fogo-fátuo
E corriam-me vocábulos pela iridescente poesia da tua mão
Quem sou eu pelos teus caminhos de tão insana correnteza
Quem és tu a inflamar desejo e por tumulto em casta nuvem
Há ainda luz a ser consumida nesta babel de tanto equívoco
Alvoroço na alcova clamando em nudez corpos sempiternos
No desassossego deste horizonte que se rabisca em escarcéu
Na sina do poema que há de ficar cativo ao ermo da página
E corriam-me vocábulos pela iridescente poesia da tua mão
Quem sou eu pelos teus caminhos de tão insana correnteza
Quem és tu a inflamar desejo e por tumulto em casta nuvem
Há ainda luz a ser consumida nesta babel de tanto equívoco
Alvoroço na alcova clamando em nudez corpos sempiternos
No desassossego deste horizonte que se rabisca em escarcéu
Na sina do poema que há de ficar cativo ao ermo da página
segunda-feira, 29 de novembro de 2010
413 - improviso para luzes e nascimentos
estávamos entre quedas e abraços
como um morno rio de promessas
eu abria minhas mãos a cada passo
e reencontrava signos em tuas flores
havia tanto espaço em nós apertados
que avultavam ramos em nossa árvore
escorriam as sedes das muitas veias
as línguas se entrelaçavam em olfato
do destino das manhãs ao lento ofício
de janelas que fazem o ar perpetuar-se
éramos os cristais prestes ao estilhaço
areia fina a espera de pés e novidades
como um morno rio de promessas
eu abria minhas mãos a cada passo
e reencontrava signos em tuas flores
havia tanto espaço em nós apertados
que avultavam ramos em nossa árvore
escorriam as sedes das muitas veias
as línguas se entrelaçavam em olfato
do destino das manhãs ao lento ofício
de janelas que fazem o ar perpetuar-se
éramos os cristais prestes ao estilhaço
areia fina a espera de pés e novidades
domingo, 28 de novembro de 2010
412 - Último poema para desterro e estrada
És ainda o engano da maçã
Moça turva de árida nuvem
Que ansiei em doce acolhida
És ainda trem em descarrilo
Estação sem pouso e parada
Inútil degelo em meu inferno
És ainda fugídia das sombras
Pastora do cio na madrugada
Dente que morde o calcanhar
Moça turva de árida nuvem
Que ansiei em doce acolhida
És ainda trem em descarrilo
Estação sem pouso e parada
Inútil degelo em meu inferno
És ainda fugídia das sombras
Pastora do cio na madrugada
Dente que morde o calcanhar
sábado, 27 de novembro de 2010
411 - Poema para ílio, ísquio e púbis
Penso ascender em sinais pélvicos
De toda a lira que delira na virilha
Escorrer-te em sumo destes versos
Penso a tua casta senhoria de flora
Deslizando o rouco trovão na pele
Do incendio no fino cristal da mata
De toda a lira que delira na virilha
Escorrer-te em sumo destes versos
Penso a tua casta senhoria de flora
Deslizando o rouco trovão na pele
Do incendio no fino cristal da mata
sexta-feira, 26 de novembro de 2010
410 - Diálogo para contemplar um fim de tarde
p/ Pedro Ramúcio
Tragam-me dois ou três fardos de existencia
Para que os girassóis poetizem a ordem do dia
Que o mundo já não se cabe em dessemelhança
Eu mesmo, que ando torto em véspera de olhar,
Principio a me perder na sinuosidade do vento
Outro dia um amigo disse que andava em sustos
Temia a retidão das pedras e vivia a por adornos
Repliquei que assim é o descompasso da estrada
As coisas se decompõem antes da sua completude
Só passarinhos cantam eternos em sumiço de laço
Tragam-me dois ou três fardos de existencia
Para que os girassóis poetizem a ordem do dia
Que o mundo já não se cabe em dessemelhança
Eu mesmo, que ando torto em véspera de olhar,
Principio a me perder na sinuosidade do vento
Outro dia um amigo disse que andava em sustos
Temia a retidão das pedras e vivia a por adornos
Repliquei que assim é o descompasso da estrada
As coisas se decompõem antes da sua completude
Só passarinhos cantam eternos em sumiço de laço
quinta-feira, 25 de novembro de 2010
409 - Improviso para viola de casco de tartaruga
Ouço no pretérito meu coração em tuas mãos empoeirado
Resvala-me de cílios para cobrir as nossas tempestades
Põe cordas e açoite nessa prece que invoca a madrugada
Se nada em ti faz sentido açoda-me o vento nas virilhas
Dá-me o desterro de tua voz tão antiga quanto um blues
Pois estou sem alma alvoroçado nesta torpe encruzilhada
Resvala-me de cílios para cobrir as nossas tempestades
Põe cordas e açoite nessa prece que invoca a madrugada
Se nada em ti faz sentido açoda-me o vento nas virilhas
Dá-me o desterro de tua voz tão antiga quanto um blues
Pois estou sem alma alvoroçado nesta torpe encruzilhada
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
408 - poema sobre sopa de cavalo cansado *
quando vem a madrugada vento-me
no rodopio sinuoso das mariposas
prestes a perder os olhos diáfanos
cada canção reflete um autorretrato
e eu decomponho meticulosamente
arestas do nosso silencio de almas
enquanto houver calçada inclino-me
e cada gesto sob a opaca iluminação
será teu presságio a desencantar-me
*sopa de cavalo cansado é uma canção do dead combo
no rodopio sinuoso das mariposas
prestes a perder os olhos diáfanos
cada canção reflete um autorretrato
e eu decomponho meticulosamente
arestas do nosso silencio de almas
enquanto houver calçada inclino-me
e cada gesto sob a opaca iluminação
será teu presságio a desencantar-me
*sopa de cavalo cansado é uma canção do dead combo
terça-feira, 23 de novembro de 2010
407 - anti-poema para duas ou três saudades
antes do lajedo havia uma pedra
circunstanciada nos mistérios
de tanto passar o ar: arrevesou
eu sempre fui menino indolente
e gostava de ver as meninas
tomando descompostura do vento
cada saia subida o alumbramento
de ficar tonto com as querências
às vezes molejava o corpo há dias
na beira de rio havia limo nos pés
se mergulhava de mão em concha
pra colher visgo na pele das piabas
caçoar da sorte era fingir de te olhar
porque eras como pedra arrevesada
sempre em circunstancia de mistério
circunstanciada nos mistérios
de tanto passar o ar: arrevesou
eu sempre fui menino indolente
e gostava de ver as meninas
tomando descompostura do vento
cada saia subida o alumbramento
de ficar tonto com as querências
às vezes molejava o corpo há dias
na beira de rio havia limo nos pés
se mergulhava de mão em concha
pra colher visgo na pele das piabas
caçoar da sorte era fingir de te olhar
porque eras como pedra arrevesada
sempre em circunstancia de mistério
segunda-feira, 22 de novembro de 2010
406 - elegia breve e assustada
investigo estrelas em busca de uma morada
desde que a espada decepou a palavra
venho morrer mais um pouco em tua língua
desde que a espada decepou a palavra
venho morrer mais um pouco em tua língua
domingo, 21 de novembro de 2010
405 - elegia rude para cactos e punhais
já se foram os corcéis e os medos
em contínuas viagens de solidão
ouço procul harum, revisito poemas
na galeria de fotos inscrevi teu gesto
aquele derradeiro vindo do calcanhar
como flecha certeira em descaminho
se existem prelúdios intermináveis
ouso compor ainda o mais extenso
em que a rota no deserto se bifurque
entre casa cálida e avenida em verão
na seta dos girassóis mais intensos
avermelhados de todos os abóboras
percorri com dor margens dos rios
na maresia de crustáceo naufragado
fiz imagens de tolas reminiscências
habitei por instantes o aquário vazio
busquei o íntimo das águas e peixes
fui companheiro de algas e arrebóis
por isso te digo com calma e ternura
que não há ventania neste meu olhar
que não há desejo na pele que restou
apenas cumpro a sina do improvável
a terna rotina do peregrino da sombra
a esgrimir atônito com palavras e sons
em contínuas viagens de solidão
ouço procul harum, revisito poemas
na galeria de fotos inscrevi teu gesto
aquele derradeiro vindo do calcanhar
como flecha certeira em descaminho
se existem prelúdios intermináveis
ouso compor ainda o mais extenso
em que a rota no deserto se bifurque
entre casa cálida e avenida em verão
na seta dos girassóis mais intensos
avermelhados de todos os abóboras
percorri com dor margens dos rios
na maresia de crustáceo naufragado
fiz imagens de tolas reminiscências
habitei por instantes o aquário vazio
busquei o íntimo das águas e peixes
fui companheiro de algas e arrebóis
por isso te digo com calma e ternura
que não há ventania neste meu olhar
que não há desejo na pele que restou
apenas cumpro a sina do improvável
a terna rotina do peregrino da sombra
a esgrimir atônito com palavras e sons
sábado, 20 de novembro de 2010
404 - Poema para depois do profiterole
Tudo que faço vem morrer em ti
- Liquefeito, vaporizado
Até que me tragas a escova de dentes
E o sorriso pasteurizado da modelo
Desperte-me para a constatação:
Faço poemas porque cansei de dançar
- Liquefeito, vaporizado
Até que me tragas a escova de dentes
E o sorriso pasteurizado da modelo
Desperte-me para a constatação:
Faço poemas porque cansei de dançar
sexta-feira, 19 de novembro de 2010
403 - poema para nuvem e casca de árvore II
às vezes um solo me habita
escorre-me o sumo nos pés
cresce em mim feito árvore
e eu fico todo ao seu feitio
ave de barro, estrela dӇgua
no viés de ponto e margem
escorre-me o sumo nos pés
cresce em mim feito árvore
e eu fico todo ao seu feitio
ave de barro, estrela dӇgua
no viés de ponto e margem
quinta-feira, 18 de novembro de 2010
402 - poema para nuvem e casca de árvore
a espera do verso definha a palavra
que campeia o vento em redemoinho
como o louva-deus se anuncia lorde
a efêmera silhueta de mais uma morte
que campeia o vento em redemoinho
como o louva-deus se anuncia lorde
a efêmera silhueta de mais uma morte
quarta-feira, 17 de novembro de 2010
401 - Concerto de súbita despedida
Depois de mim ela se foi deitar com o imprevisivel
Que vinha repleto de estio em todos outros suores
Depois de mim ela se foi a apascentar suas nuvens
Orvalhando de sexo e jasmim a insone madrugada
Depois de mim ela se foi como as estrelas e as marés
Com súbitos brilhos e a sede de vagas que se estende
Como a plataforma sobre o nada a iluminar um vazio
Que vinha repleto de estio em todos outros suores
Depois de mim ela se foi a apascentar suas nuvens
Orvalhando de sexo e jasmim a insone madrugada
Depois de mim ela se foi como as estrelas e as marés
Com súbitos brilhos e a sede de vagas que se estende
Como a plataforma sobre o nada a iluminar um vazio
terça-feira, 16 de novembro de 2010
400 - Para um quadro de Dali ou Magritte
Pareciam de sonho as borboletas diáfanas
Avis rara de lábios voadores
A espalhar delírios no jardim orgasmático
segunda-feira, 15 de novembro de 2010
399 - papo de jazz e blues em oitavas intercaladas
era coisa de maior importância a iluminação do verso
parecia ornamentado de cometas e estrelas radiantes
domingo, 14 de novembro de 2010
398 - cantata de estranha magnitude
Quisera eu a estrela iridescente
e entre afins e dessemelhantes
deixar-me ao sabor do ambíguo
Quisera eu palavras em jorros mil
Ser diferença em diferentes ares
No desarranjo desse céu de anil
e entre afins e dessemelhantes
deixar-me ao sabor do ambíguo
Quisera eu palavras em jorros mil
Ser diferença em diferentes ares
No desarranjo desse céu de anil
sábado, 13 de novembro de 2010
397 - Pequena ode para o que não nos cabe
De onde te quero somos irmãos de pele
Não há noite a crescer o ontem infinito
A cor tem cheiro de asas em movimento
Nuvens informam o sussurro da chuva
De onde te quero vazam as muitas sedes
O gozo nos vem em turbilhões de idades
Trespassam-nos as espadas de coito e cio
Escorrem vórtices de leito e lenta agonia
Não há noite a crescer o ontem infinito
A cor tem cheiro de asas em movimento
Nuvens informam o sussurro da chuva
De onde te quero vazam as muitas sedes
O gozo nos vem em turbilhões de idades
Trespassam-nos as espadas de coito e cio
Escorrem vórtices de leito e lenta agonia
sexta-feira, 12 de novembro de 2010
396 - Improviso sobre aquele disco que limei
Dôo-me ao teu gesto
Infatigável caminhar
Não preencho preâmbulos
Não consulto vide bula
Vivo do fastio de sons
Do não conhecimento
Imutável à ordem das coisas
Sobre todas as prescrições
Desperto e desesperado no já
Atento à fadiga do agora
Lâmina atônita e cega
Mordo, sangro e me extravio
quinta-feira, 11 de novembro de 2010
quarta-feira, 10 de novembro de 2010
394 - Balada de um Édipo em formação
Se antes eras a esfinge
Na fria condição de espera
- Vinde e me decifra –
Hoje assomas ares de nuvem
Que paira acima, bem acima
E nenhum verbo te alcança
Na fria condição de espera
- Vinde e me decifra –
Hoje assomas ares de nuvem
Que paira acima, bem acima
E nenhum verbo te alcança
terça-feira, 9 de novembro de 2010
segunda-feira, 8 de novembro de 2010
392 - Uma balada para o mistério dos dons
Tantos os que se foram
Que dobraram a curva do tempo
Por quem já houve tumulto e silencio
Cujas bocas celebraram palavras e instantes
Cujas mãos empreenderam a jorro da criação
Agora esquecidos nas terras do sem fim
Agora engendrados na lama de cal e ossos
Agora solitários como este desencanto
Que atravessa os umbrais e se fixa sumarento
domingo, 7 de novembro de 2010
391 - Alegoria para desenredo e anjos decaídos
Nada detém o musgo nas paredes
Vai se infiltrando de repente
E fica ali com jeito de desavisado
Chamando a atenção dos olhos
Então um dia a gente acorda
E tem que providenciar a limpeza
Com calma lixa-se e põe-se tinta
Depois de pronto os olhos fixos
Voltam-se arredios e prestativos
A mirar o novo ponto reluzente
- Não sei para que tanta metáfora
Se o que sei é que continuas aqui
Forjando as agonias no meu peito -
Vai se infiltrando de repente
E fica ali com jeito de desavisado
Chamando a atenção dos olhos
Então um dia a gente acorda
E tem que providenciar a limpeza
Com calma lixa-se e põe-se tinta
Depois de pronto os olhos fixos
Voltam-se arredios e prestativos
A mirar o novo ponto reluzente
- Não sei para que tanta metáfora
Se o que sei é que continuas aqui
Forjando as agonias no meu peito -
sábado, 6 de novembro de 2010
390 - peça para orquestra sem música *
Ravel preferia o piano solo ao bolero
Graciliano antes preferia Homero
João Cabral preferia pedra e punhal
Hermeto preferia o som sem conceito
Da noite arrumo as nuvens em cinza
Participo com Leminski um devaneio
Peço emprestado sopro do Torquato
Nada mais imprevisível que o ocaso
* era assim que Ravel se referia ao Bolero
Graciliano antes preferia Homero
João Cabral preferia pedra e punhal
Hermeto preferia o som sem conceito
Da noite arrumo as nuvens em cinza
Participo com Leminski um devaneio
Peço emprestado sopro do Torquato
Nada mais imprevisível que o ocaso
* era assim que Ravel se referia ao Bolero
sexta-feira, 5 de novembro de 2010
389 - desconcerto para pele e sopros
almejo as torres mais altas
a íngreme escada do céu
em tão delicada curvatura
desses teus seios em taça
a oferecer-se em sutil ária
no canto silente da língua
a íngreme escada do céu
em tão delicada curvatura
desses teus seios em taça
a oferecer-se em sutil ária
no canto silente da língua
quinta-feira, 4 de novembro de 2010
388 - concerto pleno para voz e um instrumento
vivo à margem do impossível
quero dos senhores dores
mar de águas intragáveis
nada sei do improvável dia
comungo o absurdo na veia
das musas sorrisos e brisas
delas retirei o farol do olhar
antes do vazio vir sigo cego
com a mão colada ao bolso
o verso amarrotado é a senha
quero dos senhores dores
mar de águas intragáveis
nada sei do improvável dia
comungo o absurdo na veia
das musas sorrisos e brisas
delas retirei o farol do olhar
antes do vazio vir sigo cego
com a mão colada ao bolso
o verso amarrotado é a senha
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
387 - primeiras aulas de geometria
ela chegava com a noite e debruçava-se
sobre o teorema de Pitágoras
eu só tinha olhos para hipóteses nuas
terça-feira, 2 de novembro de 2010
386 - Concerto solitário para um quase despertar
Sorvo de um só gole o ofício das manhãs
O voo solene dos lepidópteros que incitam
Asas e cio por sobre a cidade agonizante
Sorvo de um só gole o ofício das manhãs
A balbúrdia dos automóveis ensandecidos
A crescente sinfonia que ensurdece cores
Sorvo de um só gole o ofício das manhãs
E só me deixo ao regalo recato do lençol
Assombrando a nudez amarela da parede
O voo solene dos lepidópteros que incitam
Asas e cio por sobre a cidade agonizante
Sorvo de um só gole o ofício das manhãs
A balbúrdia dos automóveis ensandecidos
A crescente sinfonia que ensurdece cores
Sorvo de um só gole o ofício das manhãs
E só me deixo ao regalo recato do lençol
Assombrando a nudez amarela da parede
segunda-feira, 1 de novembro de 2010
385 - improviso para maçãs e violas graves
quando o céu se foi embora
fitei teus lábios no horizonte
manchados vermelhos rubra
a face de terna despedida
fitei teus lábios no horizonte
manchados vermelhos rubra
a face de terna despedida
domingo, 31 de outubro de 2010
384 - Poema de vigília para repouso de ninfa
Para as noites que adormeço teu sonho
Velando o sono que irradias sossegada
Com este véu de inocencia em tua face
O branco corpo em elegante desalinho
Para as mãos crispadas sobre os lençóis
A colher em concha tão incessante vazio
Sopram migalhas do ser por entre lábios
Que eu me regozijo nesta vigília de fauno
Velando o sono que irradias sossegada
Com este véu de inocencia em tua face
O branco corpo em elegante desalinho
Para as mãos crispadas sobre os lençóis
A colher em concha tão incessante vazio
Sopram migalhas do ser por entre lábios
Que eu me regozijo nesta vigília de fauno
sábado, 30 de outubro de 2010
383 - Sob a secreta linguagem da madrugada II
Era ainda alvo o caminho cego
A correr desatino de sal e ruas
Na fronte de tantos chamados
Louros os cabelos ao derredor
Com as luzes piscando atonitas
Nessa louca míriade de olhares
Tudo vinha em pedras e asfalto
Na pele luzidia dos automóveis
Nos deuses dançarinos do sinal
Na fileira dos cães da marquise
Entrelaçados nos cheiros do cio
Na vacancia de setas ou sentido
Na silhueta poética das sombras
Traçadas por espirais de fumaça
No coito ágil apressado no beco
O desatento balé dos transeuntes
Na calma onda do mar que sorve
As lágrimas desse tosco orgasmo
A correr desatino de sal e ruas
Na fronte de tantos chamados
Louros os cabelos ao derredor
Com as luzes piscando atonitas
Nessa louca míriade de olhares
Tudo vinha em pedras e asfalto
Na pele luzidia dos automóveis
Nos deuses dançarinos do sinal
Na fileira dos cães da marquise
Entrelaçados nos cheiros do cio
Na vacancia de setas ou sentido
Na silhueta poética das sombras
Traçadas por espirais de fumaça
No coito ágil apressado no beco
O desatento balé dos transeuntes
Na calma onda do mar que sorve
As lágrimas desse tosco orgasmo
sexta-feira, 29 de outubro de 2010
382 - Para um guia de amantes descuidados
Havia um rio seco debruçado nos teus cios
Um caminho de pedras lancinantes e de ais
Um soçobrar de imagens em tão fútil regaço
O afogar de margens a cada lado da concha
Que nenhuma correnteza atrevia atravessar
Um caminho de pedras lancinantes e de ais
Um soçobrar de imagens em tão fútil regaço
O afogar de margens a cada lado da concha
Que nenhuma correnteza atrevia atravessar
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
381 - Poema para espanto de menino no colo da manhã
No brilho da varanda cães pastoreavam o alvorecer
A vida vinha vindo de mansinho em flores e orvalho
Era quando madrepérolas interrogavam o horizonte
E eu fitava desatinado a existência que sorria no peito
quarta-feira, 27 de outubro de 2010
terça-feira, 26 de outubro de 2010
379 - improviso contra as marés e tempestades
não concebo mais noite entre teus sóis
tu que de claridades intensas me fitas
tu que resolveste adiantar-se aos faróis
ser rota incandescente nessa avalanche
não concebo a noite na lamina, no corte,
na imagem reticente de todos os corpos
na lágrima que purifica de suor os poros
na fria decomposição deste mar de sede
ar febril que assola retinas empertigadas
e dá forma de vazio ao abraço do silencio
tu que de claridades intensas me fitas
tu que resolveste adiantar-se aos faróis
ser rota incandescente nessa avalanche
não concebo a noite na lamina, no corte,
na imagem reticente de todos os corpos
na lágrima que purifica de suor os poros
na fria decomposição deste mar de sede
ar febril que assola retinas empertigadas
e dá forma de vazio ao abraço do silencio
segunda-feira, 25 de outubro de 2010
378 - Poema sobre um campo de origamis
p/ Mai
Enquanto dobravas os papéis
E com eles recortavas o horizonte
E tecias uma fina rede de sombras
O tempo dobrava os seus sinos
Clamava a liberdade dos olhares
Refazia a íngreme caminhada
E sobravam gestos e dobrados
Para a festa de crianças na varanda
P. S. O campo de origamis da Mai está aqui.
Enquanto dobravas os papéis
E com eles recortavas o horizonte
E tecias uma fina rede de sombras
O tempo dobrava os seus sinos
Clamava a liberdade dos olhares
Refazia a íngreme caminhada
E sobravam gestos e dobrados
Para a festa de crianças na varanda
P. S. O campo de origamis da Mai está aqui.
domingo, 24 de outubro de 2010
377 - Sobre a genealogia das pedras e dos silencios
A pedra pousa no quintal a sua solene curvatura
Exala o anseio de chão e sobre o dorso crescem
O limo e o musgo de toda uma existencia
Espaço de espanto encantado
Onde dormem lesmas e silencios
sábado, 23 de outubro de 2010
376 - Poema para um silencio e a tua brincadeira
Eu esqueci de dizer que queria.
Apontei, fiz o gesto para depois.
Voce respondeu que sim.
Eu achei que o tempo esperaria.
E assim ficamos.
Apontei, fiz o gesto para depois.
Voce respondeu que sim.
Eu achei que o tempo esperaria.
E assim ficamos.
sexta-feira, 22 de outubro de 2010
375 - poema para todos os batismos
na noite que mascavas inocencias
eu me recostei sobre teus cheiros
exalavas a mocidade dos sorrisos
e tinhas nos gestos o açoite do viço
na noite que mascavas inocencias
eu percebi tuas saliencias de moça
os contornos sinuosos dos silencios
e o gosto que permanece no depois
eu me recostei sobre teus cheiros
exalavas a mocidade dos sorrisos
e tinhas nos gestos o açoite do viço
na noite que mascavas inocencias
eu percebi tuas saliencias de moça
os contornos sinuosos dos silencios
e o gosto que permanece no depois
quinta-feira, 21 de outubro de 2010
374 - um quase poema para Tonio e Inge
A moça tinha sobrancelhas alvas e uns lábios recortados de azul.
Às vezes o sol vinha e brincava em seu corpo.
Ela, então, se misturava a água e parecia renascida de luz.
Seu olhar não se fixava em nenhum ponto, bailava.
Soprava uma brisa tão antiga que eu nunca mais quis me enternecer.
Às vezes o sol vinha e brincava em seu corpo.
Ela, então, se misturava a água e parecia renascida de luz.
Seu olhar não se fixava em nenhum ponto, bailava.
Soprava uma brisa tão antiga que eu nunca mais quis me enternecer.
quarta-feira, 20 de outubro de 2010
373 - concerto para a súbita rajada de vento
do rosto hirsuto
cai-me o dilúvio
de pesares
eu nada sinto
neste anódino
e vão levitar
invento sombra
e deslizo ágil
em gesto mudo
cai-me o dilúvio
de pesares
eu nada sinto
neste anódino
e vão levitar
invento sombra
e deslizo ágil
em gesto mudo
terça-feira, 19 de outubro de 2010
372 - Balada de repentina claridade
subitamente teu gesto acordara
o silencio de todos os crepúsculos
acendera a cólera dos jasmins
inaugurando rios e correntezas
nesse íngreme degrau do tempo
cristalizado no áspero vão do agora
o silencio de todos os crepúsculos
acendera a cólera dos jasmins
inaugurando rios e correntezas
nesse íngreme degrau do tempo
cristalizado no áspero vão do agora
segunda-feira, 18 de outubro de 2010
371 - Poema já um tanto envelhecido
não me peça retorno
pois ando desatado em sapiência
corro e me comovo entre as tilápias
que bailam em torno dos anzóis
breve um arco-íris vem me buscar
e eu não quero despedidas
basta este sereno na pele encardida
basta esta régua no horizonte
este raio ensandecido de solidão
pois ando desatado em sapiência
corro e me comovo entre as tilápias
que bailam em torno dos anzóis
breve um arco-íris vem me buscar
e eu não quero despedidas
basta este sereno na pele encardida
basta esta régua no horizonte
este raio ensandecido de solidão
domingo, 17 de outubro de 2010
370 - fantasia para areia, quebra-mar e horizonte
é da natureza dos cristais o singelo
o laço de seda na pele nos jasmins
o eflúvio das horas nos lagartos
a desobediência civil nas árvores
a incontinência em arroios e regatos
a beligerância nos mares e oceanos
o pálido nos meninos esquecidos
o infortúnio nas cercas de estrada
o amor é da natureza das nuvens
como o ócio é da natureza da pedra
não é natureza a poesia nem o poeta
nem o canto,
nem o verso,
nem a rima
nem a (maldita) palavra
o laço de seda na pele nos jasmins
o eflúvio das horas nos lagartos
a desobediência civil nas árvores
a incontinência em arroios e regatos
a beligerância nos mares e oceanos
o pálido nos meninos esquecidos
o infortúnio nas cercas de estrada
o amor é da natureza das nuvens
como o ócio é da natureza da pedra
não é natureza a poesia nem o poeta
nem o canto,
nem o verso,
nem a rima
nem a (maldita) palavra
sábado, 16 de outubro de 2010
369 - poema de arroio e lagarto
não sei o que dizer quando irrompes
em sentimentos liquidos e anseios
julgando a caligrafia dos meus lábios
por tantas linhas evasivas e solitárias
são tantas interrogações que me deixas
invocando-me um súbito luzir de estrelas
que me recolho aos olhares e soslaios
e deixo a chuva florir os teus desígnios
em sentimentos liquidos e anseios
julgando a caligrafia dos meus lábios
por tantas linhas evasivas e solitárias
são tantas interrogações que me deixas
invocando-me um súbito luzir de estrelas
que me recolho aos olhares e soslaios
e deixo a chuva florir os teus desígnios
sexta-feira, 15 de outubro de 2010
368 - Noturno para os teus caninos II
Como onda soberana carrego
A flor secreta do nosso abismo:
a solidão da palavra em tua boca
quinta-feira, 14 de outubro de 2010
367 - Balada para a Nona e outras sinfonias
Quando derrubaram o muro de Berlim
Eu já desacreditava todas as certezas
Mas pulsava a ode a Alegria bradando
Teus encantos unem novamente
Todos os homens se irmanam
E eu me vi paralisado na frente da TV
Tinha meu filho nos braços
E uma vida ainda a cumprir
Minha angústia ficou tão mínima
Que resolvi apenas agradecer
A fortuna de Schiller
Eu já desacreditava todas as certezas
Mas pulsava a ode a Alegria bradando
Teus encantos unem novamente
Todos os homens se irmanam
E eu me vi paralisado na frente da TV
Tinha meu filho nos braços
E uma vida ainda a cumprir
Minha angústia ficou tão mínima
Que resolvi apenas agradecer
A fortuna de Schiller
quarta-feira, 13 de outubro de 2010
366 - poema em oito movimentos sem captura
Passo a passo a imensidão
Desemboca no mar de algaravia
Caos de todos os sentidos
Surto de cores que assusta
A claridade que emana da alvenaria
E faz do silencio a tosca verdade
Passo a passo a imensidão
Deforma o labirinto da existência
Como um cão escava a terra
Como a larva consome a casca
E quer explodir em outra dimensão
Na ordem de uma ilusão predestinada
Passo a passo a imensidão
Produz os augúrios, os dissabores,
O ócio que corrói desde a raiz
Instaura o dilúvio que consome a terra
Com cinza e lava do mesmo Vesúvio
Que irrompe em primitivos ecos
Passo a passo a imensidão
Põe as interrogações em xeque
Precipita em faíscas todo este amanhã
Assombra as dobras de todos os olhares
E não oferece senão as desídias
Aos reis e rainhas neste inocente tabuleiro
Desemboca no mar de algaravia
Caos de todos os sentidos
Surto de cores que assusta
A claridade que emana da alvenaria
E faz do silencio a tosca verdade
Passo a passo a imensidão
Deforma o labirinto da existência
Como um cão escava a terra
Como a larva consome a casca
E quer explodir em outra dimensão
Na ordem de uma ilusão predestinada
Passo a passo a imensidão
Produz os augúrios, os dissabores,
O ócio que corrói desde a raiz
Instaura o dilúvio que consome a terra
Com cinza e lava do mesmo Vesúvio
Que irrompe em primitivos ecos
Passo a passo a imensidão
Põe as interrogações em xeque
Precipita em faíscas todo este amanhã
Assombra as dobras de todos os olhares
E não oferece senão as desídias
Aos reis e rainhas neste inocente tabuleiro
terça-feira, 12 de outubro de 2010
365 - Balada para a Nona e outras sinfonias (scherzo)
Caminho entre pares que não vejo
Há demais auto-suficiência nas palavras
Ferem cristais, desabotoam corações
Mesmo diante do espelho estamos rotos
Nada aviva a face de tantos transtornos
Repetimos preces, odes e nostalgias
Este mar que invade a avenida é silêncio
Vindo de ancestrais paragens, evoé grito
Vamos afugentar os corcéis desta solidão
Há demais auto-suficiência nas palavras
Ferem cristais, desabotoam corações
Mesmo diante do espelho estamos rotos
Nada aviva a face de tantos transtornos
Repetimos preces, odes e nostalgias
Este mar que invade a avenida é silêncio
Vindo de ancestrais paragens, evoé grito
Vamos afugentar os corcéis desta solidão
segunda-feira, 11 de outubro de 2010
364 - noções de vocabulário e desencontro
eu me encontrei com as palavras encabulado
nunca evoluí de seus mistérios
sempre fui poeira de sandália de arrasto
e quanto perguntado espargia imaginação
via as dores, consumia os fatos
- na peripécia dos versos faço artesanato -
nunca evoluí de seus mistérios
sempre fui poeira de sandália de arrasto
e quanto perguntado espargia imaginação
via as dores, consumia os fatos
- na peripécia dos versos faço artesanato -
domingo, 10 de outubro de 2010
363 - sobre o visgo no laço do teu abraço
por ele me desvio de tortos desalinhos
invoco o pretérito de todos os ocasos
por ele saio do casulo dos acasos
e fico pregado como palavra
fisgada no branco da página
invoco o pretérito de todos os ocasos
por ele saio do casulo dos acasos
e fico pregado como palavra
fisgada no branco da página
sábado, 9 de outubro de 2010
362 - noturno para os teus caninos
a noite desdenha do meu caminhar
por isso põe calçadas neste deserto
faz rol de estrelas a vincar-me os passos
enquanto sigo crucificado de mansa luz
sexta-feira, 8 de outubro de 2010
361 - Balada da mais pura alma portuguesa
O saber a nada contenta
a não ser em equilíbrio
diz-me o verso do poeta
de tão sublime linhagem
infortunada ave desse existir
que de falhas se torna imenso
que de tormento baila intenso
se pondo corda para sem fim
espelhos de tanta recusa
velas de tão triste alvitre
que posso querer neste eu
que só queda nu, frio e triste
O poema amigo da Dade me foi ofertado hoje, aqui
a não ser em equilíbrio
diz-me o verso do poeta
de tão sublime linhagem
infortunada ave desse existir
que de falhas se torna imenso
que de tormento baila intenso
se pondo corda para sem fim
espelhos de tanta recusa
velas de tão triste alvitre
que posso querer neste eu
que só queda nu, frio e triste
O poema amigo da Dade me foi ofertado hoje, aqui
quinta-feira, 7 de outubro de 2010
360 - poema de inútil ventania II
fita o deserto que espelha o céu
ouve e contempla
observa a aurora, o arrebol
depois caminha languidamente
até se dissolver em lenta sombra
para que eu possa finalmente
constatar o arrepio desta brisa
deste ontem que não cessa
e dar descanso aos olhos
- ao peito que arde -
ouve e contempla
observa a aurora, o arrebol
depois caminha languidamente
até se dissolver em lenta sombra
para que eu possa finalmente
constatar o arrepio desta brisa
deste ontem que não cessa
e dar descanso aos olhos
- ao peito que arde -
quarta-feira, 6 de outubro de 2010
359 - poema de inútil ventania
nada do que posso negar
cala-me mais fundo
do que esta inútil ventania
sempre ao despertar
quando recolho escombros
e ponho o rosto a secar
são tão súbitos segundos
de tão insistente naufrágio
que entorpecem em maresia
nada do que posso negar
mesmo a inútil ventania
se dissipa com mágoa e água
cala-me mais fundo
do que esta inútil ventania
sempre ao despertar
quando recolho escombros
e ponho o rosto a secar
são tão súbitos segundos
de tão insistente naufrágio
que entorpecem em maresia
nada do que posso negar
mesmo a inútil ventania
se dissipa com mágoa e água
terça-feira, 5 de outubro de 2010
358 - Quadra à moda antiga e ancestral
A luz rasgou-me o peito em oferenda
Expôs o que nada havia mais de ti
Mas mesmo neste território de ausência
Cresce o augúrio, o desterro, a dor
Expôs o que nada havia mais de ti
Mas mesmo neste território de ausência
Cresce o augúrio, o desterro, a dor
segunda-feira, 4 de outubro de 2010
357 - improviso sobre aquele poema que não te dei
ao te ver em velas, velo
o torpe desvelo, novelo
em que se tece, esquece
a dor e o desvario, rio
desse fruto tosco, mordo
e afino migalhas, guitarra
de tão línea fibra, retina
largamente em ilhas, sina
a cada verso findo, minto
e a ti flor prometida, linda
recorda-me o destino, tino
sobraçar o vazio, principio
o torpe desvelo, novelo
em que se tece, esquece
a dor e o desvario, rio
desse fruto tosco, mordo
e afino migalhas, guitarra
de tão línea fibra, retina
largamente em ilhas, sina
a cada verso findo, minto
e a ti flor prometida, linda
recorda-me o destino, tino
sobraçar o vazio, principio
domingo, 3 de outubro de 2010
sábado, 2 de outubro de 2010
355 - Mínimas variações sobre o rapto da donzela em flor
Eu que vi campanários
E construí arrebol todo azul
Para acolher as sedas deste olhar
Agora me vejo neste sortilégio
Entre as águas que me pejam
Todo o coração, e a estrada que
Lancina montaria e cavaleiro
E construí arrebol todo azul
Para acolher as sedas deste olhar
Agora me vejo neste sortilégio
Entre as águas que me pejam
Todo o coração, e a estrada que
Lancina montaria e cavaleiro
sexta-feira, 1 de outubro de 2010
354 - recado colado ao pingüim da geladeira
eu continuo por aqui
lendo as tuas coisas
sem ser sutil
parto é o presente
do verbo partir
ou simplesmente parir
lendo as tuas coisas
sem ser sutil
parto é o presente
do verbo partir
ou simplesmente parir
quinta-feira, 30 de setembro de 2010
353 - para um poema só de Maria e Menino Jesus
lembraste os versos do Caeiro,
uma prece de ternura,
uma sinfonia inacabada
que Mahler não escreveu,
uma fissura no calcanhar
de Aquiles,
um arcabouço sem teoria,
quarta-feira, 29 de setembro de 2010
352 - poema de alguns caminhos e atalhos
eu não gosto de todos os gostos
só dos sabores que me chegam
por todas as tuas bocas
eu não gosto de todos os gostos
nem dos desgostos cansados
prefiro-te aflita e língua afiada
só assim lambuzados somos
e padecemos de todos pecados
nestes vôos lado alado
só dos sabores que me chegam
por todas as tuas bocas
eu não gosto de todos os gostos
nem dos desgostos cansados
prefiro-te aflita e língua afiada
só assim lambuzados somos
e padecemos de todos pecados
nestes vôos lado alado
terça-feira, 28 de setembro de 2010
351 - Cantata em outro tom para a donzela de olhos raiados
Eu não sei de que caminho cintilante
Teus olhos parecem brotar
Apena fito: rede tênue
Essa atroz impossibilidade de pares
Teus olhos parecem brotar
Apena fito: rede tênue
Essa atroz impossibilidade de pares
segunda-feira, 27 de setembro de 2010
350 - Poema para uma impossível Itabira
Não, João não amava Maria
Não havia amor nessa história
Só crença no impossível Raimundo
Que galgaria entre sóis outro mundo
Também não havia a pedra
Não havia poesia nem Carlos Drummond
Apenas o opaco espesso do silencio
Que atormenta as palavras
Que me põe travos na garganta
Enquanto a vida pede passagem
Não havia amor nessa história
Só crença no impossível Raimundo
Que galgaria entre sóis outro mundo
Também não havia a pedra
Não havia poesia nem Carlos Drummond
Apenas o opaco espesso do silencio
Que atormenta as palavras
Que me põe travos na garganta
Enquanto a vida pede passagem
domingo, 26 de setembro de 2010
349 - cantata em único tom para a donzela de olhos raiados
vê se passa teus olhinhos
nas flores que não esquecem
fizeste muda feito passarinho
rabiscando cor lajedo e pedra
adornaste laços nos corações
solitários viajantes de promessa
e na voz sutil dos teus encantos
puseste almas em rito de espera
nas flores que não esquecem
fizeste muda feito passarinho
rabiscando cor lajedo e pedra
adornaste laços nos corações
solitários viajantes de promessa
e na voz sutil dos teus encantos
puseste almas em rito de espera
sábado, 25 de setembro de 2010
348 - Pensamentos rápidos sob o sol inclemente
Pensamentos rápidos sob o sol inclemente
Me vem a mente um filme de Resnais
Ou seria aquele trailer do Estrangeiro
Purificai as minhas mãos de tantos cantos
Camus deu-me força a julgar o pôr-do-sol
Há muito de alucinante em um crepúsculo
Mas seria Resnais ou o trailer Estrangeiro
A dúvida me comove como um carpinteiro
Pensei em criar mancúspias a la Cortázar
Mas são tão difíceis de domesticar
Dizem que seus dentes crescem demasiado
Tarefa inútil aparar caninos por toda a vida
Mas seria tão doce assim uma felina vida
Tenho comigo algo como solstícios
Mas por qual hemisfério me orientar
Continuo ermo e distante: eqüidistante
Me vem a mente um filme de Resnais
Ou seria aquele trailer do Estrangeiro
Purificai as minhas mãos de tantos cantos
Camus deu-me força a julgar o pôr-do-sol
Há muito de alucinante em um crepúsculo
Mas seria Resnais ou o trailer Estrangeiro
A dúvida me comove como um carpinteiro
Pensei em criar mancúspias a la Cortázar
Mas são tão difíceis de domesticar
Dizem que seus dentes crescem demasiado
Tarefa inútil aparar caninos por toda a vida
Mas seria tão doce assim uma felina vida
Tenho comigo algo como solstícios
Mas por qual hemisfério me orientar
Continuo ermo e distante: eqüidistante
sexta-feira, 24 de setembro de 2010
347 - Sob a secreta linguagem da madrugada
Atroz a madrugada consome os passantes
Invade com a brisa pormenores dos amantes
Ateia o fogo das marés pelas avenidas
Mas apazigua os bêbados, consola as meretrizes
Afaga desvalidos que se enfileiram sob marquises
Dá crença aos enfermos de uma nova alvorada
A madrugada excita a caricatura torta dos becos
Faz do canto sem resposta a secreta linguagem
Que escorre pelo bordel interminável do poema
Invade com a brisa pormenores dos amantes
Ateia o fogo das marés pelas avenidas
Mas apazigua os bêbados, consola as meretrizes
Afaga desvalidos que se enfileiram sob marquises
Dá crença aos enfermos de uma nova alvorada
A madrugada excita a caricatura torta dos becos
Faz do canto sem resposta a secreta linguagem
Que escorre pelo bordel interminável do poema
quinta-feira, 23 de setembro de 2010
346 - se não estás tudo passa solidão
o brilho que é vida não anima
a pedra, a planta, o livro vira tinta
a ordem amorfa, o cristal ordinário
o rio não dimana, o sol não inflama
o círculo imperfeito
o existir é só uma circunstancia
a pedra, a planta, o livro vira tinta
a ordem amorfa, o cristal ordinário
o rio não dimana, o sol não inflama
o círculo imperfeito
o existir é só uma circunstancia
quarta-feira, 22 de setembro de 2010
345 - poema para a descoberta da morte
tudo morre meu filho,
nada nem ninguém suporta
a dor de uma eternidade
nada nem ninguém suporta
a dor de uma eternidade
terça-feira, 21 de setembro de 2010
344 - poema para as primeiras águas do sertão
foste a perdição da grande lua
o desencontrar-se na vereda
o bulício da moita rasteira
o arroio espargindo cachoeira
foste ainda o olho e a estrela
a janela, a rede, a varanda
o solitário gesto da ausência
após cumprir faina e obediência
o desencontrar-se na vereda
o bulício da moita rasteira
o arroio espargindo cachoeira
foste ainda o olho e a estrela
a janela, a rede, a varanda
o solitário gesto da ausência
após cumprir faina e obediência
segunda-feira, 20 de setembro de 2010
343 - que ninguém nos ouça neste antigo poema
seria a ferro e fogo
à custa de muito cansaço
com o destempero das marés
com o insidioso ressoar dos passos
para te fazer trigo e oração, penitencia
e brindar aos lacaios, aos que fazem corte
que ninguém nos ouça neste antigo poema
domingo, 19 de setembro de 2010
342 - dó-brados brandos
nada excita mais o silencio
que este farfalhar de sons
a urdir na anágua ardente
sábado, 18 de setembro de 2010
341 - balada para o inventor da solidão
imagina que todas as coisas estão postas
que as interrogações se foram, agora,
como esta maresia que avassala os talheres
vamos nos fartar neste banquete
vamos nos servir com todas as mesuras
primeiro tu me passas a faca e eu corto
e ficamos assim, eu agonizo e tu sorris
depois será a minha vez
que as interrogações se foram, agora,
como esta maresia que avassala os talheres
vamos nos fartar neste banquete
vamos nos servir com todas as mesuras
primeiro tu me passas a faca e eu corto
e ficamos assim, eu agonizo e tu sorris
depois será a minha vez
sexta-feira, 17 de setembro de 2010
340 - improviso galante para a senhora que passa ao largo
o que havia de palavra em ti
o silencio comeu lentamente
agora és somente carne e desejo
a lamber os dias em atônito coito
o silencio comeu lentamente
agora és somente carne e desejo
a lamber os dias em atônito coito
quinta-feira, 16 de setembro de 2010
339 - fantasia de menestrel para a donzela de singelos modos
ao encontrar-me depois de tantos desencontros
queria não mais ouvir as palavras
deixaria que só os gestos falassem
e do corpo brotasse o poema, aquele único
feito de néctar, sumos, sopros, poros
queria não mais ouvir as palavras
deixaria que só os gestos falassem
e do corpo brotasse o poema, aquele único
feito de néctar, sumos, sopros, poros
quarta-feira, 15 de setembro de 2010
338 - improviso sobre o poema da algibeira
não raro insisto em abismos
vertigem absoluta de naufrágio
é que me faltam pernas
para luzir em grandes saltos
vivo do chão que acolhe imprevistos
sob um céu que deságua martírios
o barco que balouça é o que me lança
de proa e popa para o caldo estelar
inumeráveis astros que a tudo fitam
abocanham as asas prestes a ruflar
vertigem absoluta de naufrágio
é que me faltam pernas
para luzir em grandes saltos
vivo do chão que acolhe imprevistos
sob um céu que deságua martírios
o barco que balouça é o que me lança
de proa e popa para o caldo estelar
inumeráveis astros que a tudo fitam
abocanham as asas prestes a ruflar
terça-feira, 14 de setembro de 2010
337 - canção imprevista em réstia de luz
tínhamos a inclemência do olhar
nesse jeito de nos doar corpos
silvo de estrada na ponta dos pés
beijos e chapinhas quentes de pão
ouvir canções à beça para aplacar
o calor que vinha de mãos em mãos
e ter sempre no armário geléias
que purificavam o sabor dos poros
e mesmo quando se rompia o elo
afagávamos a distancia com zelo
éramos sempre o inesperado feitio
bonecos de molde, barro imperfeito
nesse jeito de nos doar corpos
silvo de estrada na ponta dos pés
beijos e chapinhas quentes de pão
ouvir canções à beça para aplacar
o calor que vinha de mãos em mãos
e ter sempre no armário geléias
que purificavam o sabor dos poros
e mesmo quando se rompia o elo
afagávamos a distancia com zelo
éramos sempre o inesperado feitio
bonecos de molde, barro imperfeito
segunda-feira, 13 de setembro de 2010
336 - balada para os misteriosos filhos de Éolo
fosse apenas vento
que fizesse calo na ausência
mas tem o sussurro da brisa
embalado por oboés distantes
esse ruminar de alísios
em todos espelhos do pensamento
domingo, 12 de setembro de 2010
335 - poema para as horas mais céle(b)res do dia
queria ter mais diários abertos,
gavetas desarrumadas,
para que coubessem o inesperado
o crepitar da chama
na pele ou nas sílabas
numa fogueira
de corpos inflamados
gavetas desarrumadas,
para que coubessem o inesperado
o crepitar da chama
na pele ou nas sílabas
numa fogueira
de corpos inflamados
sábado, 11 de setembro de 2010
334 - Sigo cego e seco
Ando assim
Como pássaro que perdeu a rota
E não encontra mais o bando
Giro entre sóis, noites e alvoradas
E nada devolve meu existir
Como pássaro que perdeu a rota
E não encontra mais o bando
Giro entre sóis, noites e alvoradas
E nada devolve meu existir
sexta-feira, 10 de setembro de 2010
333 - Fantasia de menestrel apanhador de brisas
Vem fecundar os segundos desta manhã
Com a prenhez das tuas mãos
E afugentar os ventos aziagos
Que me fazem volta aos sentidos
Deixa-me ser teu gentil carpinteiro
A esculpir alvoradas
A delinear com a brasa da saliva
Este território em que me habitas
* O poema acima é filho deste abaixo. O poema de Moacyr Félix me acompanha há muito tempo, quando as paixões violentas corriam nas vastas encostas e havia sempre luzes para recomeçar.
VEM!
Não me deixa sozinho,
catavento à mercê de um vento frio.
Vem
encher com teu corpo de moça
o vazio, o imenso vazio...
Vem
apagar toda esta dança de luzes
luzes loucas, loucamente piscando
na cidade escura dos meus pensamentos!
Vem, depressa, vem
abrigar o meu impulso de fim
como um rei entre as tuas coxas
ou trazer nos lábios o esquecimento
das coisas que eu desconheço
mas são brasas
aprisionadas dentro do meu cérebro.
Vem
empurrar com a carícia de tuas mãos
esta noite estranha que cresce, que cresce...
Com a prenhez das tuas mãos
E afugentar os ventos aziagos
Que me fazem volta aos sentidos
Deixa-me ser teu gentil carpinteiro
A esculpir alvoradas
A delinear com a brasa da saliva
Este território em que me habitas
* O poema acima é filho deste abaixo. O poema de Moacyr Félix me acompanha há muito tempo, quando as paixões violentas corriam nas vastas encostas e havia sempre luzes para recomeçar.
VEM!
Não me deixa sozinho,
catavento à mercê de um vento frio.
Vem
encher com teu corpo de moça
o vazio, o imenso vazio...
Vem
apagar toda esta dança de luzes
luzes loucas, loucamente piscando
na cidade escura dos meus pensamentos!
Vem, depressa, vem
abrigar o meu impulso de fim
como um rei entre as tuas coxas
ou trazer nos lábios o esquecimento
das coisas que eu desconheço
mas são brasas
aprisionadas dentro do meu cérebro.
Vem
empurrar com a carícia de tuas mãos
esta noite estranha que cresce, que cresce...
quinta-feira, 9 de setembro de 2010
332 - Poema de pura aspereza
Prendo-me a ourivesaria da palavra
labor de atroz operário
que segue a sina sem louvor
usina de sons e estribilhos
querem-me ferir os ouvidos
atento ao sino casto
cumpro carpir cognatos
e sendo inteiro o meu fervor
deito rédeas e esporas
para que não me finja o vocábulo
labor de atroz operário
que segue a sina sem louvor
usina de sons e estribilhos
querem-me ferir os ouvidos
atento ao sino casto
cumpro carpir cognatos
e sendo inteiro o meu fervor
deito rédeas e esporas
para que não me finja o vocábulo
quarta-feira, 8 de setembro de 2010
331 - poema de súbito desterro para o despertar
a insolvência da brisa anuncia
nós que ardem
em desencontro de ais
são tão trôpegos nossos corpos
calcinados nessa teia de suor
nós que ardem
em desencontro de ais
são tão trôpegos nossos corpos
calcinados nessa teia de suor
terça-feira, 7 de setembro de 2010
330 - Concerto de súbito garbo e louvor
Há o desafio da urgência que me impele para o teu corpo
Como se fosse o estuário de todos os sabores
E meus lábios, mãos, sexo se desencontrassem de prazer
Perdessem-se na vertigem inusitada desse mergulho
Cada vez mais agudo, feito lamina que sangra os sentidos
Para que o gozo - enraizado como pétala na penumbra -
Faça cristais dos nossos poros e transpirem em luz
A correnteza dos nossos dias eternizados
Como um silvo, uma fagulha, uma pequena pedra no jardim
Como se fosse o estuário de todos os sabores
E meus lábios, mãos, sexo se desencontrassem de prazer
Perdessem-se na vertigem inusitada desse mergulho
Cada vez mais agudo, feito lamina que sangra os sentidos
Para que o gozo - enraizado como pétala na penumbra -
Faça cristais dos nossos poros e transpirem em luz
A correnteza dos nossos dias eternizados
Como um silvo, uma fagulha, uma pequena pedra no jardim
segunda-feira, 6 de setembro de 2010
domingo, 5 de setembro de 2010
328 - Desconcerto para menino e raio de sol
No passeio que a rua fazia voltas
Soprava o instante da tua aparição
Ainda guardo a mirada, o relance
Misturados ao susto do teu improviso
Soprava o instante da tua aparição
Ainda guardo a mirada, o relance
Misturados ao susto do teu improviso
sábado, 4 de setembro de 2010
327 - dó-brados brandos II
para brindar eu menino
sonho ser melodias
invariavelmente
como o verso anoitece
na semente da romã
invariavelmente
como musgo à revelia
na insônia dos meus dias
sonho ser melodias
invariavelmente
como o verso anoitece
na semente da romã
invariavelmente
como musgo à revelia
na insônia dos meus dias
sexta-feira, 3 de setembro de 2010
326 - enquanto queima o silencio na lareira
eu preferia caminhar sobre
a fugacidade de algumas palavras
e apenas brindar a nossa nua pele
os nossos olhos de lesmas
que se demoram a encontrar
a fugacidade de algumas palavras
e apenas brindar a nossa nua pele
os nossos olhos de lesmas
que se demoram a encontrar
quinta-feira, 2 de setembro de 2010
325 - improviso para crepúsculo à beira-mar
enterneceram-se as pegadas na areia
na febre do ocaso que avassala os dias
já não tenho roupas para vestir a solidão
na febre do ocaso que avassala os dias
já não tenho roupas para vestir a solidão
quarta-feira, 1 de setembro de 2010
324 - Suíte para o dorso da manhã
Verga-me em vestes a língua
No chão todo feito de esporas
Não resisto: cavalga-me a palavra
terça-feira, 31 de agosto de 2010
323 - suíte de sertania desencontrada II
aluvião
carne seca
ribeirão
e ribeirinho
das terras do
não sei onde
no sangue
remexem
os espinhos
carne seca
ribeirão
e ribeirinho
das terras do
não sei onde
no sangue
remexem
os espinhos
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
322 - poeminha em de-composição
sem qualquer restrição
pedra é pedra, sal é sal
nada se agarra à garra
salvo a maresia deste olhar
que me corta de foice
a noite, o amanhã, a eternidade
pedra é pedra, sal é sal
nada se agarra à garra
salvo a maresia deste olhar
que me corta de foice
a noite, o amanhã, a eternidade
domingo, 29 de agosto de 2010
321 - Rhapsodie en bleu
Céu sereno de sapoti
Luas espargem na nua paisagem
Passos vincam latitudes incoerentes
Rumo ao precipício
Tudo agora é norte e sem destino
sábado, 28 de agosto de 2010
320 - Suíte sertaneja para o visgo de paixão do menestrel enluarado pela princesa do alvorecer
Uma noite sonhaste a rua
Como quem anuncia o vento
E anseia a liberdade
E eu tangendo quimeras
escondia sob o peito
Este coração enluarado
Na solidão das paisagens
Cruzamos o destino retirante
E de encontros e assombros
ficamos rijos nos olhares
nesta janela de par em par
inesperadamente esperados
Como quem anuncia o vento
E anseia a liberdade
E eu tangendo quimeras
escondia sob o peito
Este coração enluarado
Na solidão das paisagens
Cruzamos o destino retirante
E de encontros e assombros
ficamos rijos nos olhares
nesta janela de par em par
inesperadamente esperados
sexta-feira, 27 de agosto de 2010
319 - fantasia para menestrel que perdeu os olhos pelo amor da donzela de fulva cabeleira
para te sonhar relâmpagos
recito madrigais
deito sobre tertúlias
recordo a noite
de corcéis ancestrais
improviso o desalinho
na frágil tez dos cristais
ali, onde bailam cataventos
e o último sol ressurge nas águas
quinta-feira, 26 de agosto de 2010
318 - rapsódia breve em um dia de abril
de tão natural que fui
esqueci-me dos rostos à ventania
já não tinha olhos naquela época
a não ser para a solidão de te olhar
quarta-feira, 25 de agosto de 2010
317 - soneto torto para quando me vires chegar
talvez seja sábado ou domingo
e do resto do dia reste apenas burburinho
talvez estejas alinhavando as pálpebras
para quando eu chegar desavisado
talvez no outdoor contenha a resposta
depois de tanta ausência e tormenta
e se eu não trouxer nada nas mãos
não afugentes os pássaros que se acercam
são eles o cicio das tortas incoerências
o visgo da voz que trago no pranto
são eles as veredas que se encontram
a revoada do impossível cataclismo
feito tu e eu emplumados
contra o movediço branco da página
*
A amiga Leonor me presenteou com a publicação de um poema, confiram em
http://leonorcordeiro.blogspot.com/
e do resto do dia reste apenas burburinho
talvez estejas alinhavando as pálpebras
para quando eu chegar desavisado
talvez no outdoor contenha a resposta
depois de tanta ausência e tormenta
e se eu não trouxer nada nas mãos
não afugentes os pássaros que se acercam
são eles o cicio das tortas incoerências
o visgo da voz que trago no pranto
são eles as veredas que se encontram
a revoada do impossível cataclismo
feito tu e eu emplumados
contra o movediço branco da página
*
A amiga Leonor me presenteou com a publicação de um poema, confiram em
http://leonorcordeiro.blogspot.com/
terça-feira, 24 de agosto de 2010
316 - Poema em resposta as intempéries do vento
Na terceira ordem do dia tu me disseste:
Vai, Assis, cumprir teus poemas em letargia
Eu pus palavras na algibeira e forjei um alforje
Carregado de metalinguagem,
De girassóis e silêncio
De muitas repetições necessárias
Para que o verso sempre soe diferente
Vai, Assis, cumprir teus poemas em letargia
Eu pus palavras na algibeira e forjei um alforje
Carregado de metalinguagem,
De girassóis e silêncio
De muitas repetições necessárias
Para que o verso sempre soe diferente
segunda-feira, 23 de agosto de 2010
domingo, 22 de agosto de 2010
sábado, 21 de agosto de 2010
313 - Improviso para adagas noturnas
Abranda-me de minhas penas
Sê-de nuvem para esse silêncio
Entrega-me o gentil da tua voz
Fecunda-me de lágrimas o peito
Torna-me ribeirinho da tua foz
E quando dos meus desejos, tu
Não quiseres saciar ou dirimir
Cobre-me de funda melancolia
Deixa-me fenecer em reticência
Invoca a tempestade do sem fim
Sê-de nuvem para esse silêncio
Entrega-me o gentil da tua voz
Fecunda-me de lágrimas o peito
Torna-me ribeirinho da tua foz
E quando dos meus desejos, tu
Não quiseres saciar ou dirimir
Cobre-me de funda melancolia
Deixa-me fenecer em reticência
Invoca a tempestade do sem fim
sexta-feira, 20 de agosto de 2010
312 - Acalanto para nuvem e silêncio
Gosto de te pensar flores quando vejo o mar
Fico pensando no murmúrio de tantas águas
Gosto de te pensar cores, folguedos e alegria
E penso em quantos carinhos te doas pétalas
Gosto de te pensar desassossegada, ar febril
De quem se expande em ondas para o florir
Gosto de te pensar apenas minha possessão
Fruto que mordo e masco em lenta sinfonia
quinta-feira, 19 de agosto de 2010
311 - Balada de tantos nadas incontidos
p/ Mai
Ouço-te de improviso e inspiração
Como fagulha que se insinua
Em meio ao caos da página nua
Em todo sublime recato da palavra
Salta-lhe a força de magia
Verbo encantado de profecia
Luz que baila e incide nos incisos
Com repentino florir de metáforas
Destino de sede que afaga os lábios
Abaixo reproduzo em feitio de poema, a canção de Mai que inspirou a Balada:
Ouço-te de improviso e inspiração
Como fagulha que se insinua
Em meio ao caos da página nua
Em todo sublime recato da palavra
Salta-lhe a força de magia
Verbo encantado de profecia
Luz que baila e incide nos incisos
Com repentino florir de metáforas
Destino de sede que afaga os lábios
Abaixo reproduzo em feitio de poema, a canção de Mai que inspirou a Balada:
Incontido
O mar da minha terra é como eu.
O mar da minha terra é como eu.
Primeiro se arrebenta nos corais e arrecifes,
e espraiando no alto,
espraia e se expande, marcando lugar.
E domado ele rola, miúdo e mansinho,
na beira, na areia, olhando pro sol.
O ar da minha terra está em mim.
Porque ele inspira, insípido, invisível,
as mais fortes paixões.
Depois ele exala o tempero
e cheiro das índias e suas especiarias.
Os rios da minha terra correm em minhas veias,
e lembram Veneza que deita seus veios,
sem rumo e sem foz.
O chão da minha terra é meu plexo,
meu nexo, oriente e nordeste,
porque é nele que nascem mangabas,
goiabas,sapotis e cajás, que no pé,
eu trepo faminta e no alto eu pego,
o fruto maduro que eu quiser chupar.
O mar da minha terra é como eu, nada contém.
quarta-feira, 18 de agosto de 2010
310 - Modinha para prosa em beira de rio
p/Roberto Lima
Palavras deambulam na varanda da infância
Embalando na rede tantos anzóis e pescaria
Sendo sereno que goteja imagens no infinito
E pondo incêndio na retina de tantas páginas
Nesse sem tempo vão se sobrepondo colheitas
Colorindo de primas e donas meses de outono
Invadindo espaços e nas estâncias escondidas
Do sempiterno verão, flamejam nuvens de azul
Aqui e ali caem do céu saudades em desalinho
Que vão sendo bordadas com as tais minúcias
De mãos que sabem domar rebelde torvelinho
E dar posse de reino no território das astúcias
terça-feira, 17 de agosto de 2010
309 - solilóquio de tanto cansaço
Quis dar destino a esta vaga ancestral
Que me impulsiona olhos em vertigens
Que perambula moura vento e escárnio
Quis dar forma ao arredio que me invade
Que me põe entre os gestos e os atos
Que converge em temporal e cadafalso
Que me impulsiona olhos em vertigens
Que perambula moura vento e escárnio
Quis dar forma ao arredio que me invade
Que me põe entre os gestos e os atos
Que converge em temporal e cadafalso
segunda-feira, 16 de agosto de 2010
308 - Balada de tanta sede e iminência
Um dia breve vou contornar as tuas espáduas
Num caminho de sede sem retorno
Farei repouso de cântico apenas para te ornar
De encantos soprados por futuros pássaros
Num caminho de sede sem retorno
Farei repouso de cântico apenas para te ornar
De encantos soprados por futuros pássaros
domingo, 15 de agosto de 2010
307 - Improviso para punhal e nostalgia II
para que continuemos estranhos
não vamos nos permitir a saudade
entremos por aquela porta que se ergue
como uma escada para as montanhas
e assim, sós, possamos divisar
o horizonte que não habitamos
e todos os distantes rios que ainda
deveremos naufragar as nossas ânsias
não vamos nos permitir a saudade
entremos por aquela porta que se ergue
como uma escada para as montanhas
e assim, sós, possamos divisar
o horizonte que não habitamos
e todos os distantes rios que ainda
deveremos naufragar as nossas ânsias
sábado, 14 de agosto de 2010
sexta-feira, 13 de agosto de 2010
305 - Poema de cercania e longitude
p/Nydia Bonetti
Neste meu esquadro de incertezas
Cada palavra antecede o verbo
Como se a manhã necessitasse
Pássaros para se fazer alvorada
Assim como o carinho e os gestos
Precedessem o anúncio da chegada
Para que cada ser orvalhado
Fosse batizado de silêncio e saudade
E a cada pessoa coubesse o eterno
Em cada caminho houvesse o farol
E se nada florescesse do estranho labor
Ficasse ao menos sabor de vida nas mãos
quinta-feira, 12 de agosto de 2010
304 - Balada de estranho negrume
Se no naufrágio dessa sede
Nada cede, intercede e ora
Põe língua e sal, e com azedume
Recria a manhã de tão vasto amanhã
quarta-feira, 11 de agosto de 2010
303 - Improviso para punhal e nostalgia
Não há entrega
Convivo só com esses enigmas
Há muito sou erva daninha
Do meu próprio pasto
terça-feira, 10 de agosto de 2010
302 - Rapsódia para tramas de agosto
Como deixar para o depois
se o agora é tão presente
e flui feito rio encantado
se esse agora me conduz
sem recato
para onde bailam as violetas
se os pirilampos desavisados
emitem sinfonia
e tudo jaz à espera do sim
se o agora é tão presente
e flui feito rio encantado
se esse agora me conduz
sem recato
para onde bailam as violetas
se os pirilampos desavisados
emitem sinfonia
e tudo jaz à espera do sim
segunda-feira, 9 de agosto de 2010
301 - A la Leminski
A poesia de hoje em dia
É rica de risco e avaria
Mas isso não é afirmação
Só uma aliteração
domingo, 8 de agosto de 2010
300 - Poema de intermitências sertanejas
o miúdo do mato cresce nas algibeiras,
vou desler mais coisas
e depositar minhas insônias
até onde sei o nunca mais
não gira no sentido horário
assim mesmo
vou esperar o canto da jia
ensimesmado de brisa e luar
POEMA PARA A POSTAGEM 300
EU SOU TREZENTOS
Mário de Andrade
Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta,
As sensações renascem de si mesmas sem repouso,
Ôh espelhos, ôh Pireneus! Ôh caiçaras!
Si um deus morrer, irei no Piauí buscar outro!
Abraço no meu leito as milhores palavras,
E os suspiros que dou são violinos alheios;
Eu piso a terra como quem descobre a furto
Nas esquinas, nos táxis, nas camarinhas seus próprios beijos!
Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta,
Mas um dia afinal eu toparei comigo…
Tenhamos paciência, andorinhas curtas,
Só o esquecimento é que condensa,
E então minha alma servirá de abrigo.
vou desler mais coisas
e depositar minhas insônias
até onde sei o nunca mais
não gira no sentido horário
assim mesmo
vou esperar o canto da jia
ensimesmado de brisa e luar
POEMA PARA A POSTAGEM 300
EU SOU TREZENTOS
Mário de Andrade
Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta,
As sensações renascem de si mesmas sem repouso,
Ôh espelhos, ôh Pireneus! Ôh caiçaras!
Si um deus morrer, irei no Piauí buscar outro!
Abraço no meu leito as milhores palavras,
E os suspiros que dou são violinos alheios;
Eu piso a terra como quem descobre a furto
Nas esquinas, nos táxis, nas camarinhas seus próprios beijos!
Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta,
Mas um dia afinal eu toparei comigo…
Tenhamos paciência, andorinhas curtas,
Só o esquecimento é que condensa,
E então minha alma servirá de abrigo.
sábado, 7 de agosto de 2010
299 - das águas e abismos (uma ode)
tantas sedes me recortam
e só me fazem arrepio
e não ranhuras: pele ou casco
sou o desvio (a)diante do mar
última curva e próximo abismo
braço que aninha o sal das pedras
boca seca, sargaço, maré vazante
pena branda para um verso final
e só me fazem arrepio
e não ranhuras: pele ou casco
sou o desvio (a)diante do mar
última curva e próximo abismo
braço que aninha o sal das pedras
boca seca, sargaço, maré vazante
pena branda para um verso final
sexta-feira, 6 de agosto de 2010
298 - Poema das heranças admitidas
Quando cheguei ao mundo desatinado
Deus me deu de presente uma palmada
Depois fiquei tonto com tamanho alarido
Mas percebi que havia no canto do quarto
O silêncio de meu pai como cura e salvação
quinta-feira, 5 de agosto de 2010
quarta-feira, 4 de agosto de 2010
296 - Fantasia para tons em sépia e violeta
p/ Tania Regina Contreiras
Tenho tentado seguir a rota dos rouxinóis
Acalentar as violetas e os presépios roxos
Transformar esta areia em precioso castelo
Mas sempre sopra o vento da inconstância
E desses mistérios rotos de todos os dias
Cumpre-se dar a forma de gesto em desafio
Por em retalho a fantasia que se incendeia
Transmudar a pele que recobre o imaginário
Ouvir em cantilena e suspiro o rugido do raio
Tenho tentado seguir a rota dos rouxinóis
Acalentar as violetas e os presépios roxos
Transformar esta areia em precioso castelo
Mas sempre sopra o vento da inconstância
E desses mistérios rotos de todos os dias
Cumpre-se dar a forma de gesto em desafio
Por em retalho a fantasia que se incendeia
Transmudar a pele que recobre o imaginário
Ouvir em cantilena e suspiro o rugido do raio
terça-feira, 3 de agosto de 2010
295 - Epitáfio em forma de testamento
nos últimos tempos a vida morre mais depressa,
a sombra da melancolia não cessa
e paira em cada gesto uma despedida anunciada
o sol excomunga seus reflexos no vazio
quando o atalho dos dias faz intempérie na alma
a intermitente febre anuncia a estrada de espinhos
deixo que as carícias do vento soprem as faíscas
e espero a bifurcação do horizonte no coração partido
a sombra da melancolia não cessa
e paira em cada gesto uma despedida anunciada
o sol excomunga seus reflexos no vazio
quando o atalho dos dias faz intempérie na alma
a intermitente febre anuncia a estrada de espinhos
deixo que as carícias do vento soprem as faíscas
e espero a bifurcação do horizonte no coração partido
segunda-feira, 2 de agosto de 2010
294 - A augusta tradição II
Meu poema João Cabral melodiando,
nos Barros, na terra suja dos sem nomes,
alvíssima Bandeira, ser dos montes Drummond
arder Andrades, na Cruz de todos que sejam,
participo eco de Ferreira, som do sopro de um assovio,
daquela Adélia, fresta de lábios contra a luz,
fio de Cecília a esculpir, na vinda Hilda vida enfim.
domingo, 1 de agosto de 2010
293 - Improviso para dor e via láctea
Durmo, sonho enquanto se acendem luzes no sono
Também há mãos que tateiam restos de silêncios
O que houve do outrora transmuda-se em sinfonia
Nas retinas da melancolia que empalidece os muros
Tenho hábitos de navegar na noite os teus cristais
Como cavalgar estrelas e outras montarias celestes
Mas de vez em quando me toma de medo a fantasia e
Recolho-me frio as pálpebras que sobejam mansidão
Também há mãos que tateiam restos de silêncios
O que houve do outrora transmuda-se em sinfonia
Nas retinas da melancolia que empalidece os muros
Tenho hábitos de navegar na noite os teus cristais
Como cavalgar estrelas e outras montarias celestes
Mas de vez em quando me toma de medo a fantasia e
Recolho-me frio as pálpebras que sobejam mansidão
sábado, 31 de julho de 2010
292 - poema sem ponto final
tento fazer um poema
que caiba na palavra
a vida inteira
a lavra derradeira
e nada mais
que caiba na palavra
a vida inteira
a lavra derradeira
e nada mais
sexta-feira, 30 de julho de 2010
291 - poema do não ser, vicejando
assombrosamente lírico
como o céu em acontecimento
como o vento cortando o raso na caatinga
desenhando sinais no guizo da cascavel
alumiando de espantos o canto da arribação
quinta-feira, 29 de julho de 2010
290 - os versos que se hão de cumprir
Faço coito nas palavras para
sentir-lhes as entranhas
do verbo
quarta-feira, 28 de julho de 2010
289 - A última sessão depois das dez
Depois que apanhei a navalha
vaguei como um cão contra a luz
e indagava como me salvar dali
Bueno, me respondeu o Luis
Que tal tentar o interruptor
vaguei como um cão contra a luz
e indagava como me salvar dali
Bueno, me respondeu o Luis
Que tal tentar o interruptor
terça-feira, 27 de julho de 2010
288 - estampa para moça em moldura
a plácida luz fugidia
trazia líquidos efeitos
enquanto eu rosnava assustado
para tuas luas ensandecidas
segunda-feira, 26 de julho de 2010
287 - Invenção de poesia
Eu faria do teu gesto um invento
faria do invento uma saudade
faria da saudade o caminho
faria do caminho uma verdade
faria da verdade um intento
faria versos e espalharia o vento
domingo, 25 de julho de 2010
286 - A noite que desceu do silêncio
Desse-me um destino eu partiria
- Como cabe a um bom pastor -
A recolher as intempéries do vazio
A perscrutar as coleiras do silêncio
Apenas ater-me ao apego dos passos
Ao desassossego do olho em maresia
- Como cabe a um bom pastor -
A recolher as intempéries do vazio
A perscrutar as coleiras do silêncio
Apenas ater-me ao apego dos passos
Ao desassossego do olho em maresia
sábado, 24 de julho de 2010
285 - Canto de súbita alvorada
os dedos borbulham ante o espanto
que minhas retinas vão apinhando
e eu vou apanhando sereno do verbo
sexta-feira, 23 de julho de 2010
284 - Pequeno poema de iniciação
Escapam-me os ofícios de querer-te
Eu que já intentei tantos caminhos
E somente vagas colhi nesses passos
Cabe-me articular vento e singeleza
Por onde fitas cores de insanos olhos
A invocar sinais e lírios adormecidos
Eu que já intentei tantos caminhos
E somente vagas colhi nesses passos
Cabe-me articular vento e singeleza
Por onde fitas cores de insanos olhos
A invocar sinais e lírios adormecidos
quinta-feira, 22 de julho de 2010
283 - Poema de incandescente lilás
Nesse dia de nuvens
Passeiam-me os pastos
De desejo e vontade no teu corpo
Nesse dia de nuvens
Desabitado como as tuas sandálias
Colho trevos da sorte e projeto:
Atirar-me em pleno desassossego
Ao mais selvagem fetiche de orgia
Morrer na tua saliva em ebulição
Passeiam-me os pastos
De desejo e vontade no teu corpo
Nesse dia de nuvens
Desabitado como as tuas sandálias
Colho trevos da sorte e projeto:
Atirar-me em pleno desassossego
Ao mais selvagem fetiche de orgia
Morrer na tua saliva em ebulição
quarta-feira, 21 de julho de 2010
terça-feira, 20 de julho de 2010
281 - pequena ária em semitom
depois que trouxeste o vaso de mudas
a casa respira melhor o nosso silêncio
segunda-feira, 19 de julho de 2010
280 - Serenata para lírios e violetas
a voz de chumbo a
esculpir-se em vazios
entre cismas
no quarto crescente
de lua e melancolia
esculpir-se em vazios
entre cismas
no quarto crescente
de lua e melancolia
domingo, 18 de julho de 2010
279 - Série sem título V
Não me venham falar em vicissitudes
Que ando arrevesado em dissabores
Que ando com saudade da insolência
O desconhecimento me fazia impassível
Que ando arrevesado em dissabores
Que ando com saudade da insolência
O desconhecimento me fazia impassível
sábado, 17 de julho de 2010
278 - Elogio a uma carta de W.A
Tivesse eu a ausência mais sincera para o teu amor
E fizesse urgência nas palavras a iluminar este rosto
Dormiria a noite entre os retratos breves da aragem
A sussurrar impossíveis nomes que evoco em cólera
sexta-feira, 16 de julho de 2010
blogagem coletiva - Tempos de criança
ao aniversário do poeta Abraão Vitoriano
prosa para moça e vestido
Já era hora de ir-me,
Tu dizias em silêncio
Eu ria do mel em ti
Dos tantos sabores
Para não ficar impune
E esquecer a saliva nossa
Em todos os cantos do dia
prosa para moça e vestido
Já era hora de ir-me,
Tu dizias em silêncio
Eu ria do mel em ti
Dos tantos sabores
Para não ficar impune
E esquecer a saliva nossa
Em todos os cantos do dia
277 - Balada de outros e tantos mares
ao poeta Jorge Pimenta
Creio que o sagrado o tempo dizimou
Com seus dentes metálicos.
Sequer os vestígios desta moagem
Nos ficou emparedado nos engenhos,
Nas tramas sinuosas e nos obituários
Que convergem em solene cavalgada.
Creio que nos restam os profanos sorrisos
Aqueles de outrora, que não se quedaram
Na avalanche das cidades envidraçadas
na torrente das fumaças desencontradas
e perscrutam ainda sinais nesta imensidão
Creio que as palavras não dão vazão a este rio
mas a nós cabe navegar esta nau e este desvario
quinta-feira, 15 de julho de 2010
276 - Réquiem profano ao entardecer
Protejam-se de todos os silêncios.
Mantenham a distancia necessária
ao contato das palavras e versos.
Afastem sobretudo as crianças
- para que não fiquem encantadas
de melancolia -
Porque neste canto a tarde sangra
e eu espalho com crueldade e magia
o sabor, o êxtase, o vício, o lúdico.
Ofereço a ourivesaria dos sentidos
para aqueles que estão desprovidos
ou se masturbam em ambições cotidianas.
Destino uma cota de sutil metafísica
a materialidade da ordem vigente.
Emplumo de flores dedos e pássaros
e acaricio teus desejos mais abjetos.
Desfaleço entre os azuis que entardecem
para vingar a correnteza eterna dos rios
e a sufocante repetição de tantos dias.
Mantenham a distancia necessária
ao contato das palavras e versos.
Afastem sobretudo as crianças
- para que não fiquem encantadas
de melancolia -
Porque neste canto a tarde sangra
e eu espalho com crueldade e magia
o sabor, o êxtase, o vício, o lúdico.
Ofereço a ourivesaria dos sentidos
para aqueles que estão desprovidos
ou se masturbam em ambições cotidianas.
Destino uma cota de sutil metafísica
a materialidade da ordem vigente.
Emplumo de flores dedos e pássaros
e acaricio teus desejos mais abjetos.
Desfaleço entre os azuis que entardecem
para vingar a correnteza eterna dos rios
e a sufocante repetição de tantos dias.
quarta-feira, 14 de julho de 2010
275 - Poeminha pensando em Saramago
Ao meu rosto não tarda
Lograda a lavoura que esculpe
Encontrar os sinos da melancolia
Que sucede as fronteiras que se dobram
Ao rigoroso caminho da espada e da balança
terça-feira, 13 de julho de 2010
274 - Quando leio Manuel Bandeira
O beco se descortina em imenso mar
Tateio querubins em breves passeios
Vejo Irene pedindo licença ao branco
João Gostoso dançando com um trago
E como moro no Nordeste assento-me,
Livro e fico, ao balouçar de brisa e rede
segunda-feira, 12 de julho de 2010
273 - improviso para o dia raiando
Curvo-me ao instante de pássaro
Esqueço-me das asas e das fugas
Rendo-me a armadilha do canto
Esqueço-me das asas e das fugas
Rendo-me a armadilha do canto
domingo, 11 de julho de 2010
sábado, 10 de julho de 2010
271 - Fuga para cravo e viola
Eu me fiz vento prá te colher
em auroras precipitadas
em reflexos da manhã de sol
quando febre e tontura
de uma rara felicidade
ardem versos no meu peito
em auroras precipitadas
em reflexos da manhã de sol
quando febre e tontura
de uma rara felicidade
ardem versos no meu peito
sexta-feira, 9 de julho de 2010
quinta-feira, 8 de julho de 2010
269 - Berceuse para campanário e andorinhas
Estimo que a tarde se desfaça em abóbora sinfonia
Enlouquecendo os girassóis que guardo em relíquia
Purificando o sal que verte em águas na minha face
Enlouquecendo os girassóis que guardo em relíquia
Purificando o sal que verte em águas na minha face
quarta-feira, 7 de julho de 2010
268 - Fuga para clarinete e alvoroço
Acho que o sabor fez travo neste resto de sofreguidão
As intempéries do desejo se vingaram em calmaria
Procuro espelhos para morrer em lenta fotografia
Tu sabes bem que há tempos a carne lateja
e dói
e dói
terça-feira, 6 de julho de 2010
267 - poema lúdico encontrado na rua
p/R. Piva
Põem-se guizos no verbo do dia
Assoar consoantes, fonemas nasais
Eu caçôo nas veredas, vielas e becos
Vamos tu e eu a jantar os dejetos
Num banquete de cama e carnaval
segunda-feira, 5 de julho de 2010
266 - poema de súbito clamor
Não, não quero salvação
Hoje vim florir sorrisos em tua mão
Depositar o cálice e o vinho
Fazer dádiva de todo meu corpo
De ti espero em mortes lentas
Em augúrio e agonias infindáveis
Hoje vim florir sorrisos em tua mão
Hoje vim florir sorrisos em tua mão
Depositar o cálice e o vinho
Fazer dádiva de todo meu corpo
De ti espero em mortes lentas
Em augúrio e agonias infindáveis
Hoje vim florir sorrisos em tua mão
domingo, 4 de julho de 2010
265 - das coisas que se eternizam
Tenho distancias não percorridas
No vão das águas que me pejam
Mares de incertezas, clamores
Este contínuo vendaval que vem
Como barco do infinito me beijar
Nesta rota de caos e úmida névoa
No vão das águas que me pejam
Mares de incertezas, clamores
Este contínuo vendaval que vem
Como barco do infinito me beijar
Nesta rota de caos e úmida névoa
sábado, 3 de julho de 2010
264 - série sem título IV
Rumino este peso de horas
No lento soslaio deste abandono
Na vertigem das portas que se fecham
Na incrédula madrugada sem alento
Na dor eterna desse ramo de oliveiras
No lento soslaio deste abandono
Na vertigem das portas que se fecham
Na incrédula madrugada sem alento
Na dor eterna desse ramo de oliveiras
sexta-feira, 2 de julho de 2010
263 - prosa de menino em dia de praia
p/ Nina
um dia eu corri tanto prá fugir de um amor
que as léguas se ternizaram dentro de mim
quinta-feira, 1 de julho de 2010
262 - Cantata em dó maior
A tua voz vem do silêncio
que contemplo atônito
em vastas madrugadas
feito o arrepio de um pelo
feito apelo que vem do vento
que contemplo atônito
em vastas madrugadas
feito o arrepio de um pelo
feito apelo que vem do vento
quarta-feira, 30 de junho de 2010
261 - poema lento em almíscar
Deito na palavra esta longa solidão
Celebro a noite de todos os vazios
Não cabem no céu meus astros nus
Pois me salta da boca este alvoroço
A rugir de aromas no frio das horas
Celebro a noite de todos os vazios
Não cabem no céu meus astros nus
Pois me salta da boca este alvoroço
A rugir de aromas no frio das horas
terça-feira, 29 de junho de 2010
260 - prosa para retiro e calmaria
Tenho o passado em tuas mãos
Nas sombras que fizeste crescer
Em meio as tormentas desta nau
Ensandecida de tantos mistérios
Na saga deste ardente opúsculo
Que aflige como o desejo inútil
Como desconhecimento de eras
Seara que cativo em pacificação
segunda-feira, 28 de junho de 2010
259 - Ária em quarto crescente dissonante
Pairava o tempo em vozes de esfinge e néctar
celebrando o madrigal cheio de impossibilidade
e desterro, gauche de sentidos e atônitos versos
fincando na areia ruínas de um encanto cansado
pregando chamariz desencontrado de crepúsculos
domingo, 27 de junho de 2010
258 - a poesia, o mote e o pote de ouro
Estaríamos sobre as nuvens, soberbos
Não ensebados em vilezas e miudezas
Acaso não fossem caras as máscaras
Com que se enxaguam nuas silhuetas
De tantos através em nós atravessados
Não ensebados em vilezas e miudezas
Acaso não fossem caras as máscaras
Com que se enxaguam nuas silhuetas
De tantos através em nós atravessados
sábado, 26 de junho de 2010
257 - série sem título II
Já não acho teu cansaço
Quando deitas tuas vozes
No trago da mordida voraz
Afagando-me entre as pernas
Sem pena que dê trégua ao paladar
sexta-feira, 25 de junho de 2010
256 - série sem título III
meus olhos te carregam vincent
no espanto de tantas cores
mesmo quando luz e asfalto
se intrometem em nós trigais
e se ruflam nossos passos
no devaneio de cada traço
no espanto de tantas cores
mesmo quando luz e asfalto
se intrometem em nós trigais
e se ruflam nossos passos
no devaneio de cada traço
quinta-feira, 24 de junho de 2010
255 - O livro sujo de muitas mãos
a linguagem entre dois corpos
é rio desencontrado,
é ânsia de desaguar,
fazer jorro até o céu cair do ar
é rio desencontrado,
é ânsia de desaguar,
fazer jorro até o céu cair do ar
quarta-feira, 23 de junho de 2010
254 - de um Pólo a outro
seja na Arábia ou na China
o ponto na paisagem
não representa a águia
ele é o próprio pássaro
terça-feira, 22 de junho de 2010
253 - série sem título I
recorta-me os dentes em alegoria
põe-me cintas e ata-me os sentidos
descortina-me o alforje de alvitres
pune-me incrédulo em vicissitudes
flagela o ímpio desejo que assoma
faz de mim a nua ponte e não o fim
põe-me cintas e ata-me os sentidos
descortina-me o alforje de alvitres
pune-me incrédulo em vicissitudes
flagela o ímpio desejo que assoma
faz de mim a nua ponte e não o fim
segunda-feira, 21 de junho de 2010
252 - budismo pós-moderno
perambulo entre falácias
neste rossio encardido
de sol a sol: sós
- tu e eu -
augusto, um pombo
defecou na minha sorte
domingo, 20 de junho de 2010
251 - Suíte para cordas e silêncio II
Sedas e sendas me conduzem
Ao recanto do teu sexo,
Ali onde regozijo
Meus versos exasperados
sábado, 19 de junho de 2010
250 - Suíte para cordas e silêncio
Esperei-te em ofertas que não vieram
A indesejada carruagem do tempo partiu
E do nada que me deixaste fiquei cativo
Inabalável nas preces dos teus quereres
sexta-feira, 18 de junho de 2010
249 - Cantata e epifania
Cavalgo intempéries na lavra do verso
No dorso viscoso das tuas madrugadasOnde mãos febris respiram teus jasmins
quinta-feira, 17 de junho de 2010
248 - Metaplágio de Bilac
Ora direis que estas chamam me alcançam
Como beijos desencontrados no vazio
Eu todo olvidos na miragem da lembrança
E varo estrelas - alea jacta est - na via láctea
Só para sentir o frescor da veia torta (aorta)
E colher desígnios e cheiros em tua horta
quarta-feira, 16 de junho de 2010
terça-feira, 15 de junho de 2010
246 - Suíte para très jasmin
Mesmo se não fora riqueza
O ócio que destino estas horas
Há o feitio do verso que assoma
Há o sonho que me eleva por inteiro
E me desenraíza desta nuvem de fastio
segunda-feira, 14 de junho de 2010
245 - serenata para flautim e solidão
porque me falaste deste amor
que não cabe aberto em rocha
e não partilha os seus avisos
porque me falaste deste amor
se não me tenho embriagado
e não sei apascentar as nuvens
porque me falaste deste amor
se caminho ermos toda a vida
e não quero porto a me ansiar
que não cabe aberto em rocha
e não partilha os seus avisos
porque me falaste deste amor
se não me tenho embriagado
e não sei apascentar as nuvens
porque me falaste deste amor
se caminho ermos toda a vida
e não quero porto a me ansiar
domingo, 13 de junho de 2010
244 - Estudo em acordes e cores
Emoldurados em lenta fidalguia
Ressoam teus passos de alaúde
Adornam de sombras meus olhos
Tristes e vazios de tanta nostalgia
Vertem as lágrimas que não ouso
Da etérea nuvem o vento dissipar
Concede as mais vagas cantorias
Para que soem em último repouso
Do celeste anil delírios e abismos
Estrelas e metais, som e estribilho
sábado, 12 de junho de 2010
243 - Flores e madrigais
infinda era a tarde
que habitava a infância
onde se colhiam gestos,
e acolhiam-se inventos
em visgos e alvoradas
até na pele do vento
havia tempo de recomeçar
que habitava a infância
onde se colhiam gestos,
e acolhiam-se inventos
em visgos e alvoradas
até na pele do vento
havia tempo de recomeçar
sexta-feira, 11 de junho de 2010
242 - Variação para metais e bateria
Não há distancia que alcance
A alma raiada e a vivacidade
Deste encanto que me deitas
Rebento de diverso sortilégio
Acordo para a cria do amanhã
quinta-feira, 10 de junho de 2010
241 - Noturno de trem na estação
Da poesia quero sonho louco de mar
Âncoras, palavras e naus impossíveis
Rota cega de cio, o balanço das vagas
Tempestades, branca vela, naufrágios
Da poesia quero sono louco de amar
Perfídia, palavra e marco impossível
Peles, alvíssaras, o rodopio do corpo
Sedução, algaravia, noites e arrepios
Da poesia quero bramir estas espadas
Que me atravessam como duas faces
Uma carpindo os desejos em deserto
Outra cantando rouca sobre os mares
Âncoras, palavras e naus impossíveis
Rota cega de cio, o balanço das vagas
Tempestades, branca vela, naufrágios
Da poesia quero sono louco de amar
Perfídia, palavra e marco impossível
Peles, alvíssaras, o rodopio do corpo
Sedução, algaravia, noites e arrepios
Da poesia quero bramir estas espadas
Que me atravessam como duas faces
Uma carpindo os desejos em deserto
Outra cantando rouca sobre os mares
quarta-feira, 9 de junho de 2010
240 - Improviso para concerto em Aranjuez
O que me importam os avisos
Se te preguei em meu espelho
Se teu rosto é a minha imagem
Refletida nos vitrais da avenida
O que me importam os avisos
Se me banho em tuas águas
Se me despeço em teus passos
Se és lua em cândida alvorada
O que me importam os avisos
Se as dores se calam em festa
Se teus gestos despertam hinos
Se tua voz me abocanha o céu
Se te preguei em meu espelho
Se teu rosto é a minha imagem
Refletida nos vitrais da avenida
O que me importam os avisos
Se me banho em tuas águas
Se me despeço em teus passos
Se és lua em cândida alvorada
O que me importam os avisos
Se as dores se calam em festa
Se teus gestos despertam hinos
Se tua voz me abocanha o céu
terça-feira, 8 de junho de 2010
239 - Canção de plena alvorada
Não choveu, amor
A nossa fonte, nosso jardim
Nossos sonhos de cristais
Tudo isso o tempo comeu
Como as nossas carnes
Desbastadas pela natureza
Não choveu, amor
A frieza do relógio impõe-se
As taças erguidas em vão
Em meio a tantos vendavais
Tudo isso o tempo comeu
Em sacrossanta castidade
Não choveu, amor
E eu ainda fito a paisagem
E repito em versos o canto
Aquele que faz soar o coração
Que o tempo só há de comer
Se murcharem as pedras
A nossa fonte, nosso jardim
Nossos sonhos de cristais
Tudo isso o tempo comeu
Como as nossas carnes
Desbastadas pela natureza
Não choveu, amor
A frieza do relógio impõe-se
As taças erguidas em vão
Em meio a tantos vendavais
Tudo isso o tempo comeu
Em sacrossanta castidade
Não choveu, amor
E eu ainda fito a paisagem
E repito em versos o canto
Aquele que faz soar o coração
Que o tempo só há de comer
Se murcharem as pedras
segunda-feira, 7 de junho de 2010
238 - Noturno da mais pura astúcia
sim, basta isso, para que minha língua se paralise,
e eu sinta sob a carne impalpável fogo
Safo
e eu sinta sob a carne impalpável fogo
Safo
Quem dera o requinte da tua língua
A apavorar minha sede de lábios
E germinar tempestades sob o sol
domingo, 6 de junho de 2010
237 - prosa de recusa e libertação
A renúncia é a libertação. Não querer é poder.
Fernando Pessoa
Leio a renúncia do corpo
No jeito de apanhar palavras
Recolher lábios em cada gesto
E fazer amor peça de oratório
Como velasse desejos e minúcias
E gastasse o regalo dos olhos
Com esse maternal calar-se
fitando este vazio imenso,
tão imenso que nem ouso respirar
sábado, 5 de junho de 2010
236 - Suíte para ouvir Leminski
Sobre precipícios desfilam os instantes
Deslizam feito fagulhas atordoadas
Vou começar a me perder para ser o outro,
O que come versos e arrota maresias.
Um dia quero ser todas as poesias
sexta-feira, 4 de junho de 2010
235 - Fantasia para ninfa e jardim
p/ Lara Amaral
Da moça feita de azul e laranja
Se lançam rimas de lua e lavra
Na trança que tece fino arrebol
Flor de estio em luz e devaneio
Debruçada em dobra e coberta
Feito cândida alegoria pastoril
Queria eu de inventos produzir
A mais perfeita alquimia sonora
Capaz de cumprir o rito da flora
No canto doce de torre e castelo
Ver descortinar-se o lume pueril
Da mecha escondida em pétala
Da moça feita de azul e laranja
Se lançam rimas de lua e lavra
Na trança que tece fino arrebol
Flor de estio em luz e devaneio
Debruçada em dobra e coberta
Feito cândida alegoria pastoril
Queria eu de inventos produzir
A mais perfeita alquimia sonora
Capaz de cumprir o rito da flora
No canto doce de torre e castelo
Ver descortinar-se o lume pueril
Da mecha escondida em pétala
quinta-feira, 3 de junho de 2010
234 - Sumiê
Conta-se que um dia o grande mestre
pintou um peixe com um só traço
até hoje pulsa o risco naquele papel
quarta-feira, 2 de junho de 2010
233 - Canção de entreter girassóis
Deste mundo que não me tenho
Porque não me pertencem as auroras
Queria te oferecer umas prendas doces
Um pequeno travesseiro de assombros
Para que repousasses
No desassossego da palavra
E quando acordasses tardezinha
No sol alto de uma manhã infinda
Te fizessem festa nos olhos cansados
Meu espanto de menino e esta rubra cantata
Porque não me pertencem as auroras
Queria te oferecer umas prendas doces
Um pequeno travesseiro de assombros
Para que repousasses
No desassossego da palavra
E quando acordasses tardezinha
No sol alto de uma manhã infinda
Te fizessem festa nos olhos cansados
Meu espanto de menino e esta rubra cantata
terça-feira, 1 de junho de 2010
232 - poema de urgente reinvenção
p/Nina Rizzi
açodar os verbos com incongruências
despertar a moura poesia das urgências
acalentar de pássaros o silvo nas sílabas
adoçar a respiração com chiados da ribeira
prestar relevância no improviso do destino
pegar certo desgosto no que está escrito
até o poema virar um pedaço de nuvem
e ficar feito sombra pairando no quintal
segunda-feira, 31 de maio de 2010
231 - poema de chuva e arroio
no limiar das tuas tranças
ilumina-se o cômoro
ali onde a vista espalma
o repouso de nuvem
e mãos atordoadas
imperam soberanas
sobre a rala vegetação
domingo, 30 de maio de 2010
230 - ária mínima para contralto
Canta em mim uma interjeição de séculos
desabrocha nesse jardim inóspito
Onde palavras singram céus
E sem rumor asas tentam vôo
sábado, 29 de maio de 2010
229 - metapoesia no jirau
dói-me um ócio de outono e uma ânsia de primaveras
que de pasmar fico eu em noites acalentadas de vento
sexta-feira, 28 de maio de 2010
228 - poema da mais casta paixão
tens amor em segredo de castiçais
em noites esgueiradas de delicadeza
quando os lençóis investem-se
de uma sobriedade atroz e tentam
cobrir a fortuna das tuas violetas
quinta-feira, 27 de maio de 2010
227 - balada de encontro sem fim
eu a vi tristemente sem face
ostentando a pátina da exposição
e enquanto transpirava
tudo exalava urgência e mistério
precipitado nesse alvoroço
movia as pedras no tabuleiro
quem sabe assim encontrasse
o xeque-mate derradeiro
quarta-feira, 26 de maio de 2010
226 - suíte de sertania desencontrada
preciso desaprender mais o mistério da cercania,
quem sabe num olhar em volta,
pairando em asas
cumprindo a circunstancia do ser vivente
e reluzindo o negrume das pedras toscas
aquelas esquecidas de beira de rio
onde a água carece de cortejo e luz
e os animais cansados pousam a língua
preciso desaprender com as preces da lua dormente
com os uivos e lampejos que se espiam
como sombras da mata
feito a solidão da alma encantada de trovoadas
quem sabe num olhar em volta,
pairando em asas
cumprindo a circunstancia do ser vivente
e reluzindo o negrume das pedras toscas
aquelas esquecidas de beira de rio
onde a água carece de cortejo e luz
e os animais cansados pousam a língua
preciso desaprender com as preces da lua dormente
com os uivos e lampejos que se espiam
como sombras da mata
feito a solidão da alma encantada de trovoadas
terça-feira, 25 de maio de 2010
225 - cantiga de adormecer presságios
esqueçamos os vitrais
eles não fazem mais parte da paisagem
somente o coração desfila solene
por estas cercas de jasmim
e carrega anseios de esperas e vindas
esqueçamos os vitrais
repara na uniformidade deste silêncio
ele aprisiona as árvores que te foram cativas
concede-me apenas que te doe estes olhos
eles são tua imagem em todos os espelhos
eles não fazem mais parte da paisagem
somente o coração desfila solene
por estas cercas de jasmim
e carrega anseios de esperas e vindas
esqueçamos os vitrais
repara na uniformidade deste silêncio
ele aprisiona as árvores que te foram cativas
concede-me apenas que te doe estes olhos
eles são tua imagem em todos os espelhos
segunda-feira, 24 de maio de 2010
224 - poema de desdita
cumprimos a senda de outros olhos
neste fado sem quimeras
não chegamos a lugar algum
e deste mar sem escrúpulos
nos banham vagas ensimesmadas
domingo, 23 de maio de 2010
223 - fantasia para sempre-vivas
No terreiro em que me havias deixado
Bois ruminam versos engasgados
Cristais se eternizam nas mandíbulas
sábado, 22 de maio de 2010
222 - prosa para um solo de blues
toda morte em essência é renascimento
morremos para florir eternidades
seja no espaço de um abraço
seja nas sílabas da palavra
seja na carne do silêncio
sexta-feira, 21 de maio de 2010
221 - fantasia para couro e corda
a senhora das madrugadas
tinha o feitio rútilo
era alvoroçada de gestos
em seu vôo desencontrado
a senhora das madrugadas
enternecia lençol e orvalho
para o entrelaçar ardoroso
da nossa tosca primavera
quinta-feira, 20 de maio de 2010
quarta-feira, 19 de maio de 2010
219 - poema de algum fenecimento
caem-me da mão vestígios de muitos olhos
sobre os quais feneceram meus instantes
estou constantemente flechado por soslaios
arrebatado por iluminações breves e fúteis
ladeado por paredes sem frestas, sem respiro
somente neste transe quedo-me ao espelho
sobre os quais feneceram meus instantes
estou constantemente flechado por soslaios
arrebatado por iluminações breves e fúteis
ladeado por paredes sem frestas, sem respiro
somente neste transe quedo-me ao espelho
terça-feira, 18 de maio de 2010
218 - recitativo seco
roubo a algazarra das ruas
para tecer esta sinfonia de caos
cigarras em plena combustão
segunda-feira, 17 de maio de 2010
217 - cantata (di)amante
anseio reescrever meu ócio no teu corpo
como a maresia que me arde os olhos
como símbolo do desejo que não aplaca
o fervilhar deste sangue em minha língua
domingo, 16 de maio de 2010
216 - poema de algumas vontades
tenho vontades de coisas simples
colher sorrisos e ter avencas no quintal
andar de mãos dadas com as palavras
para que elas não se finjam em ir embora
fazer uma lista de livros que ainda vou ler
cumprir as promessas que fiz outrora
quando havia mais arco-íris nos olhos
reescrever os poemas que estão na gaveta
de pessoas que não se assustem
com este silêncio que derramo nos passos
das auroras no alto da serra de São José
onde o tempo parecia cristalizado no orvalho
do rio da infância que me banhava o peito
das águas que corriam em todas as fontes
do sereno da noite que era invenção do luar
dos dias e das horas de ócio entre os irmãos
dos suspiros na rede em seu eterno vai e vem
tenho vontades de coisas simples
colher sorrisos e ter avencas no quintal
andar de mãos dadas com as palavras
para que elas não se finjam em ir embora
fazer uma lista de livros que ainda vou ler
cumprir as promessas que fiz outrora
quando havia mais arco-íris nos olhos
reescrever os poemas que estão na gaveta
de pessoas que não se assustem
com este silêncio que derramo nos passos
das auroras no alto da serra de São José
onde o tempo parecia cristalizado no orvalho
do rio da infância que me banhava o peito
das águas que corriam em todas as fontes
do sereno da noite que era invenção do luar
dos dias e das horas de ócio entre os irmãos
dos suspiros na rede em seu eterno vai e vem
tenho vontades de coisas simples
sábado, 15 de maio de 2010
sexta-feira, 14 de maio de 2010
214 - fantasia para cravo e alaúde
do mar não quero o alento
de vagas e ilhas nuas
onde habitaram teus desejos
antes anseio repouso de areia
o sobraçar de uma ventania
quinta-feira, 13 de maio de 2010
213 - poema imprevisível para amor demais
nem sempre foram serenas as preces
com que inventei o assombro da paixão
nem desmedidos os versos que te imolei
para dar descanso à fadiga das mãos
pois cumpro penas de doar-me e te servir
e de carpir o calabouço de horas e dias
sem bruma que flameje o peito insano
para fazer restauro ao caos de tanto sentir
quarta-feira, 12 de maio de 2010
212 - cântico para engenho de amor
primeiro foi uma saudade tola que me deu
depois reticências fincaram-se nos escritos
- feito sombras de um destino cigano -
agora sou todo ermos sob a lua de abril
depois reticências fincaram-se nos escritos
- feito sombras de um destino cigano -
agora sou todo ermos sob a lua de abril
terça-feira, 11 de maio de 2010
segunda-feira, 10 de maio de 2010
210 - a augusta tradição
a terra desolada de Elliot
o jogo de dados de Mallarmé
a tabacaria de Fernando Pessoa
o barco bêbado de Rimbaud
as flores do mal de Baudelaire
o corvo de Allan Poe
as elegias de Rilke
os poemas de amor de Neruda
a vida severina de João Cabral
o poema sujo de Ferreira Gullar
a Pasárgada de Manuel Bandeira
os sonetos de Camões
as folhas na relva de Whitman
os sonetos de Camões
as folhas na relva de Whitman
o navio negreiro de Castro Alves
a pedra no caminho de Drummond
os tigres e punhais de Borges
me atravessam como um silêncio
domingo, 9 de maio de 2010
209 - Floração de abril II
Sou de desordem comum
Vivo de enumerar estrelas
E quando um verso acontece
Fico todo prosa
Acorde que se queda ao luar
Vivo de enumerar estrelas
E quando um verso acontece
Fico todo prosa
Acorde que se queda ao luar
sábado, 8 de maio de 2010
208 - Floração de abril
Fito as cores desse espanto
Com olhos de passarinho
Sou tão assustado sozinho
E o meu canto se resume
A essa saudade dormente
Que nenhum verso embala
Com olhos de passarinho
Sou tão assustado sozinho
E o meu canto se resume
A essa saudade dormente
Que nenhum verso embala
sexta-feira, 7 de maio de 2010
quinta-feira, 6 de maio de 2010
quarta-feira, 5 de maio de 2010
205 - canção de mais outono
em algum lugar ouve-se a voz
e nunca lugar houve a ouvir-se
senão como coração a pulsar
a evadir-se sem mar e solução
em algum lugar repito a canção
e repilo os ombros que amparam
mas ensombrecem a paisagem
e busco mãos como se fora luz
os deuses tecem a sua urdidura
e baloiço meus vestígios pela rua
algum lugar dobra-se em esquina
e reconstrói o arco-íris do amanhã
terça-feira, 4 de maio de 2010
204 - balada de sincera paixão
cuidadosamente espero que recomponhas
as frágeis e delicadas horas que te desejei
em meio ao fragor da ventania que dissipa
a nuvem incessante que habita meus olhos
sou eu um teu gentil ainda que atormentado
pela paisagem vil do corpo que me negaste
e neste instante dedico estas ternas palavras
para que não calem em mim os sentidos todos
as frágeis e delicadas horas que te desejei
em meio ao fragor da ventania que dissipa
a nuvem incessante que habita meus olhos
sou eu um teu gentil ainda que atormentado
pela paisagem vil do corpo que me negaste
e neste instante dedico estas ternas palavras
para que não calem em mim os sentidos todos
segunda-feira, 3 de maio de 2010
203 - cantiga romana
assim como a candura do vento
que me acha o cabelo
na balbúrdia das ruas
trazes o esquecimento das horas
como sonho e diário
para bordar minúcias
e cresces como visgo nesta pele
em que escrevo e rabisco
a palavra e o verso arisco
que me acha o cabelo
na balbúrdia das ruas
trazes o esquecimento das horas
como sonho e diário
para bordar minúcias
e cresces como visgo nesta pele
em que escrevo e rabisco
a palavra e o verso arisco
domingo, 2 de maio de 2010
sábado, 1 de maio de 2010
201 - Primeiro de Maio
Apesar de feriado nacional
o amor não bate em ponto
tampouco quer ser facultativo
sexta-feira, 30 de abril de 2010
200 - madrigal em outra versão
vou desenhar eternidades em paisagens e lábios
e rabiscar de silêncio palavras santas e puras
para que venham jantar meus olhos tuas fantasias
quinta-feira, 29 de abril de 2010
199 - modinha prá viola e rede
quando eu me inspirar poesia
seja manhã ou tardezinha
numa rede soprada de maresia
quero me embalar de preces
da menina que couro e curte
encantos em bemóis e fitas
e tranças nos olhos de sede
quero somente o terno doce
das pálpebras das tuas saias
*Lara Amaral no Teatro da Vida fez versos em diálogo e homenagem. Confiram.
seja manhã ou tardezinha
numa rede soprada de maresia
quero me embalar de preces
da menina que couro e curte
encantos em bemóis e fitas
e tranças nos olhos de sede
quero somente o terno doce
das pálpebras das tuas saias
*Lara Amaral no Teatro da Vida fez versos em diálogo e homenagem. Confiram.
quarta-feira, 28 de abril de 2010
198 - sermão apócrifo
quem proverá
a água que a esta sede não cura
quem proverá
o vento que a esta onda não cala
quem proverá
o fogo que a esta paz não dura
quem proverá
a terra que a esta mão não funda
quem proverá
o consolo que a esta ode não cria
a água que a esta sede não cura
quem proverá
o vento que a esta onda não cala
quem proverá
o fogo que a esta paz não dura
quem proverá
a terra que a esta mão não funda
quem proverá
o consolo que a esta ode não cria
terça-feira, 27 de abril de 2010
197 - aos pés da montanha
para que não me escape
da mão a semelhança
removo a saliva do dente
faço oferenda de lábios
permito a seiva do caos
deixo que o rubro da pele
se instale nos sentidos
e todos os meus órgãos
pulsem em sincronia neste
céu de bem-aventurança
da mão a semelhança
removo a saliva do dente
faço oferenda de lábios
permito a seiva do caos
deixo que o rubro da pele
se instale nos sentidos
e todos os meus órgãos
pulsem em sincronia neste
céu de bem-aventurança
segunda-feira, 26 de abril de 2010
196 - poeminha de sanhaço sem ninho
em caminho e fuga
construo-me em setas
acentuo diferenças
realço disparidades
tenho apenas os olhos
a me guiarem em travessia
mas teu coração é meu norte
domingo, 25 de abril de 2010
195 - Cine Íris
Na matinée de domingo
A invencionice da trama
Conspirava aconchego
Pipocavam inocências
De mãos e olhares
sábado, 24 de abril de 2010
194 - Cine Timbira
chove um dia inteiro
quando me encontro
em teu retrato
pouco há na imagem
desfigurada, mas
a saudade vira cinema
quando me encontro
em teu retrato
pouco há na imagem
desfigurada, mas
a saudade vira cinema
sexta-feira, 23 de abril de 2010
193 - malmequeres
não quero flores no meu celeiro
contento-me com a vista
da natureza morta de van gogh
quinta-feira, 22 de abril de 2010
quarta-feira, 21 de abril de 2010
191 - Uma outra ode
Ela trouxe o crepúsculo
Como cântico e castigo
Fez romaria e doce cio
Na réstia de tecido frágil
Eu construí esta quimera
Como castelo distraído
Até o coração desvanecer
Como cântico e castigo
Fez romaria e doce cio
Na réstia de tecido frágil
Eu construí esta quimera
Como castelo distraído
Até o coração desvanecer
terça-feira, 20 de abril de 2010
190 - Já não me cabe a moldura
essa sensação me é antiga
e ficou mais viva
a vez primeira que vi Goya
não ele mas a maja desnuda
naquela mudez iridescente
e ficou mais viva
a vez primeira que vi Goya
não ele mas a maja desnuda
naquela mudez iridescente
segunda-feira, 19 de abril de 2010
189 - A idade da pele (revisitação)
Teremos bastantes palavras
Afiadas e sutis como lâminas
E com elas iremos nos cortar
De todas as formas possíveis
Sobre nossos corpos estarão
Essas marcas mais visíveis
Serão nosso orgulho de união
Nosso motivo de maior amor
E quando alguém tomar posse
A nos falar em dessemelhança
Teremos estas peles de abrigo
Já teremos um destino escrito
Afiadas e sutis como lâminas
E com elas iremos nos cortar
De todas as formas possíveis
Sobre nossos corpos estarão
Essas marcas mais visíveis
Serão nosso orgulho de união
Nosso motivo de maior amor
E quando alguém tomar posse
A nos falar em dessemelhança
Teremos estas peles de abrigo
Já teremos um destino escrito
domingo, 18 de abril de 2010
188 - Trova brusca em semínima
Inquieta-me um desejo de nuvem
flor que pasce inquieta no murmúrio
poesia etérea no mundo sem palavra
inquieta-me a solução sem abismo
desta tarde que foge como uma ode
deste frêmito que te quero ofertar
inquieta-me o presságio, a fantasia
o longo gesto que espera respostas
inquieta-me o arrepio e este recato
flor que pasce inquieta no murmúrio
poesia etérea no mundo sem palavra
inquieta-me a solução sem abismo
desta tarde que foge como uma ode
deste frêmito que te quero ofertar
inquieta-me o presságio, a fantasia
o longo gesto que espera respostas
inquieta-me o arrepio e este recato
sábado, 17 de abril de 2010
187 - Uma ode a Ricardo Reis
Coroai-me, em verdade, de silêncios
E horas breves como essas
Em que, plantado de anseio,
Finco-me a ver o riso que
Escorre em tua face
E ofereces aos passantes distraídos
sexta-feira, 16 de abril de 2010
186 - Canção da próxima esquina
Que não finjas a dor
nesta espera infinda
- Você não romperia
A corrente de ferro
Os nós, laços, a teia
- Você não romperia
O peito em confusão
O coração cansado
- Você não romperia
A mão que te acena
Em gesto derradeiro
- Você não romperia
A letargia do projétil
A máquina do tempo
- Você não romperia
O nada, o abismo, o
Mergulho, o vácuo,
- Você não romperia
(Inelutável e só)
nesta espera infinda
- Você não romperia
A corrente de ferro
Os nós, laços, a teia
- Você não romperia
O peito em confusão
O coração cansado
- Você não romperia
A mão que te acena
Em gesto derradeiro
- Você não romperia
A letargia do projétil
A máquina do tempo
- Você não romperia
O nada, o abismo, o
Mergulho, o vácuo,
- Você não romperia
(Inelutável e só)
quinta-feira, 15 de abril de 2010
185 - Afio na pedra a lâmina do verso
A faca meio torta recortou-me a face
Fez a cicatriz que carrego na palavra
quarta-feira, 14 de abril de 2010
184 - fadinho de pouca monta
vivo de campear palavras
de dar-lhes cerco e estacas
de nomear o que não cabe
de por os selos e metáforas
cumpro carpir o duro ofício
sem refúgio as intempéries
e o destino, de mãos ao vento
sem perder lume no vôo cego
de dar-lhes cerco e estacas
de nomear o que não cabe
de por os selos e metáforas
cumpro carpir o duro ofício
sem refúgio as intempéries
e o destino, de mãos ao vento
sem perder lume no vôo cego
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